A Cristandade em tempos difíceis, por Joaquim Vitorino
Os cristãos estão a enfrentar tempos difíceis em alguns países; a situação mais grave é na Síria e no Iraque, mas também no continente africano o radicalismo islâmico não dá tréguas às minorias cristãs.
O medo instalou-se entre os que vivem onde existem maiorias muçulmanas, não obstante os governos locais lhes darem alguma proteção; sendo muito mais grave o clima de terror que se apoderou daqueles que vivem nas zonas de conflito com o proclamado estado islâmico, que controla uma grande parte do território da Síria e do Iraque; só neste último país, os cristãos baixaram em pouco tempo de um milhão e meio para quinhentos mil.
O medo de represálias tem provocado o êxodo das populações cristãs que fogem de execuções sumárias e da escravatura sexual, onde muitas mulheres “algumas ainda crianças” optam por se suicidarem. Existe uma intolerante contradição do estado islâmico, porque estas duas religiões convivem pacificamente há centenas de anos.
O Papa Francisco considera muito preocupante o perigo que correm os cristãos nas zonas ocupadas pelos radicais, que em qualquer momento podem ultrapassar as fronteiras do Iraque e da Síria. Foi neste país, que há mais de dois mil anos Jesus Maria e José, se refugiaram e deixaram ali vestígios da Sua passagem. Estes dois países milenares onde floresceram várias civilizações, são a preocupação do momento para o Mundo Ocidental e comunidades Cristãs nestas zonas de conflito; que ameaçam a todo o momento saltar para fora das fronteiras.
Maaloula é uma Cidade situada a 56 quilómetros a nordeste da Capital da Síria “Damasco” e foi na antiguidade um entreposto entre duas religiões que sempre conviveram e se respeitaram; ainda hoje é referenciada como uma Cidade Cristã no coração Muçulmano.
Em 2013 foi violentamente atacada pelas milícias da Al-Qaeda que destruíram a Estátua de Nossa Senhora que Velava sobre a Cidade que é a única onde ainda se fala o aramaico, que foi a língua falada por Jesus Cristo.
A Síria e o Iraque, países que marcaram toda a civilização Ocidental, atravessam momentos de incerteza que preocupa todos os cristãos do mundo; em especial o Papa Francisco que sabe o que se passa naquela vasta área, e que pode colocar em risco o frágil equilíbrio mundial.
A intolerância está a dar lugar a um ódio ancestral, onde uma das partes não faz prisioneiros “executa-os”. O medo está a atormentar o Mundo cristão e os países democráticos; que por ética não podem utilizar os mesmos meios de persuasão da chantagem e do medo. Também em África são frequentes os ataques a cristãos por grupos radicais que os apanham de surpresa nos locais de culto; afastando-os de praticar a sua religião.
Jesus Maria e José em fuga, trilharam há mais de 2.000 anos os caminhos que vão dar à Cidade milenária de Maaloula, onde encontraram proteção. Mil anos depois deu-se a guerra Santa pela posse de Jerusalém; quando deste conflito religioso, muitos cristãos também se refugiaram na Cidade Cristã de Maaloula.
O Papa reuniu recentemente com Líderes de outras religiões, e todos foram unânimes quanto ao que têm pela frente; onde o perigo de acesso às reservas de petróleo por parte dos islamitas radicais, pode transformar este conflito num autêntico inferno na terra; se regimes sem escrúpulos fornecerem armamento sofisticado ao Estado islâmico em troca de petróleo que incluirá provavelmente armamento nuclear; onde todos os países periféricos correrão o risco de se envolverem.
Por ironia, esta onda de radicalismo tem uma fonte que o alimenta, que são as dezenas de milhares de voluntários que foram educados nos países ocidentais; onde seguramente estão a falhar alguns valores, que são o fermento da revolta de muitos dos aderentes que se sentem injustiçados.
Sem perspetivas de vida e sem medir as consequências, juntam-se ao descontentamento; que é o primeiro passo para o radicalismo sem retorno.
Estatua de Nossa Senhora, velando pela Cidade de Maaloula.
OBS: o Autor escreveu ao abrigo do novo acordo ortográfico.