
Maria Pia, a Princesa exilada
Maria Pia, a Princesa exilada
O exílio forçado de Maria Pia de Bragança imediatamente a seguir à sua nascença, constitui um dos mais dramáticos episódios dos últimos anos da monarquia em Portugal.
Filha de uma relação extraconjugal do Rei D. Carlos I com Maria Amélia Laredó e Murça, a fuga da Princesa para Espanha sob as ordens do Rei para sua proteção, revestiu-se de algum vexame Real; que simultaneamente foi acompanhado de um movimento de solidariedade popular para com a criança e sua mãe; em que ambas são forçadas a sair de Portugal para se protegerem da Rainha D. Amélia que nunca aceitou a relação que deu origem àquela criança.
A pequena Maria Pia foi levada para Espanha, onde seria entregue à proteção de S. M. Dom Alfonso XIII a pedido do seu primo D. Carlos I de Portugal, que lhe pediu que cuidasse da sua querida Filha e que, quanto antes a mandasse batizar e que tutelasse a sua educação; o que aconteceu até aos 17 anos de idade da Princesa.
Todos os portugueses sabiam da existência da Infanta Maria Pia incluindo os Irmãos D. Luís Filipe “Príncipe Real” e do Infante D. Manuel Príncipe da Beira, que viria em trágicas circunstâncias a ser o último Rei de Portugal.
D. Carlos I, com toda a certeza informou sua mãe a Rainha Maria Pia de Sabóia avó da recém-nascida, que a ia colocar sob a proteção do seu primo Alfonso XIII.
A mãe de D. Carlos I Rainha D. Maria Pia de Saboia, tinha com toda a certeza conhecimento da relação do Filho com Maria Amélia Laredó e Murcia, e terá ido despedir-se da neta a quem foi dado o seu nome antes da fuga para Espanha.
Maria Pia, nasceu num período conturbado da História de Portugal e é desde logo marcada pela adversidade; não obstante ser conhecida na Corte a sua existência e obviamente da Rainha D. Amélia que nunca como se compreende, reconheceria uma criança resultante de um caso do Rei fora do património.
Esta postura da Rainha D. Amélia não é de todo condenável; como se sabe, também ela teve a infelicidade de perder em parto prematuro a sua filha; a Infanta Maria Ana de Bragança.
Após o assassinato do marido D. Carlos I e do seu Filho, o Príncipe Real D. Luis Filipe, o poder do Reino transitou para D. Manuel II sobre quem a Rainha sempre exerceu uma forte influência; sendo na época do conhecimento público que o terá proibido de qualquer contato com a meia Irmã Maria Pia que à altura da morte súbita de D. Manuel II, tinha 25 anos de idade sendo já conhecida em toda a Europa como Infanta de Portugal, passando de imediato a usar o título de Princesa Real de Portugal após a morte do seu Irmão D. Manuel II.
Inteligente determinada e lutadora, possuidora de vincada personalidade como sua avó D. Maria Pia de Sabóia, assume-se por direito a Princesa Real de Portugal e Duquesa de Bragança; e inicia uma luta sem tréguas para repor a verdade, pois sabe ser este o seu desígnio e a vontade do seu pai e irmãos.
Para proteger a sua ascendência Real, escolhe o pseudónimo de Ilda Toledano e torna-se na mais Ilustre Jornalista do seu tempo; aguardando sempre a oportunidade de se apresentar aos portugueses como uma alternativa à República que levou Portugal à pobreza, ao analfabetismo e ao descrédito; que transformou o seu belo país numa terrível prisão; um “Tarrafal” com 89.000 quilómetros quadrados.
Maria Pia é um símbolo da luta pela liberdade e democracia; preferindo continuar no exílio a ter que pactuar com Salazar e o seu regime, que lhe abririam todas as portas se fosse seu subserviente como outros fizeram a partir de 1953.
A resposta a Salazar, foi o seu apoio a Humberto Delgado em especial quando este se encontrava no exilio; o único General que ameaçou decapitar o Estado Novo e devolver a liberdade aos portugueses; e posteriormente a Coroa a Maria Pia a exemplo de Espanha.
- Carlos I foi um Homem culto e de Grande dignidade, ao reconhecer a paternidade de Maria Pia; é muito possível que sua mãe D. Maria Pia de Saboia tenha tido alguma influência na sua decisão; mas D. Amélia ferida na sua honra, terá pressionado D. Manuel II a não reconhecer a Irmã enquanto a mãe estivesse viva; mas o destino quis que ele partisse primeiro.
- Amélia de Orleães foi uma Grande Senhora e Rainha; mas por ciúmes, marcou negativamente o curso e a verdade histórica da Monarquia em Portugal.
Maria Pia, travou toda a sua vida uma luta solitária em defesa da verdade e honra da sua ascendência Real; contra o Estado Novo e os que tentaram por todos os meios impugnar o assento de D.Carlos I no “registo batismal” de Maria Pia; que seria recusado pelo Tribunal da Rota de Roma, o único que pode opinar e decidir sobre questões monárquicas.
Passados 62 anos, a luta continua entre os descendentes da Filha e Irmã dos últimos Reis de Portugal, e os primos em 6º grau que já nem pertencem à árvore genealógica de D. Carlos I e de D. Manuel II, porque os laços de consanguinidade extinguem-se na 5ª geração.
* Joaquim Vitorino
Jornalista e Cronista
Nota do Autor: Nenhum povo encontrará futuro, sem saldar as contas com o seu passado; o exposto é um exemplo.
OBS: o Autor escreveu ao abrigo do acordo ortográfico.
