Os muros da solidariedade europeia

Os muros da solidariedade europeia

A prova Rainha da insensibilidade social de alguns países da Europa, mostra a sua verdadeira face; quando crianças chegam às suas fronteiras extenuadas de fome e cansaço, e se deparam com “os muros da solidariedade” que lhes devia ser prestada.

Muro da solidariedade

Muro da solidariedade

A Hungria deu o primeiro tiro de partida, e em poucos dias vedou a sua fronteira a leste; aliás, foi a famosa rasteira da Jornalista húngara Petra Laszlo que abriu as hostilidades contra os migrantes.

Este país esqueceu o ano de 1956 quando 200.000 hungaros tiveram que fugir das tropas soviéticas; e que eu saiba, os muros da solidariedade dos seus vizinhos não foram fechados.

A Croácia, a Servia e a Eslovénia seguiram o mesmo exemplo da Hungria; Compreendemos que são países pobres mas a Grécia também é; e no entanto, já entraram no seu  território  mais refugiados que em qualquer outro país,  tendo já ultrapassado os 600.000; que ali permanecem à espera de reencaminhamento.

O Estado Helénico tem sido o mais penalizado, causando um tremendo impacto na débil situação económica em que se encontra.

Há muito que está identificada a fonte desta fuga de centenas de milhares de pessoas,  que serão em breve vários milhões; esta catástrofe humanitária era mais que previsível, mas nunca com esta dimensão.

A criação de um Estado Islâmico e a guerra civil na Síria, alterou  o mapa de duas Nações milenárias, uma situação  que nunca tinha sido equacionada nos danos colaterais, provocados pelas duas invasões do Iraque pelas forças ocidentais, que veio a atingir posteriormente a vizinha Síria; onde está em curso a destruição destes dois países Bíblicos, onde floresceram as primeiras Civilizações de que temos conhecimento, e onde a Cristandade  tem as suas raízes.

É o regresso ao obscurantismo, e vivemos numa sociedade insensível ao sofrimento; deixámos cair os valores que nos diferenciavam como uma Europa tolerante e justa.

A Síria com 20 milhões de habitantes, tem ¼ da sua população em fuga  “5 milhões” por vários motivos, que não só a guerra civil e o avanço do  Estado islâmico, porque existe uma feroz perseguição interna onde 1/3 do país já foi destruído.

Os mares mediterrâneo e egeu, estão a ser transformados em sepulcro de milhares de migrantes, sendo a maioria  crianças; ainda recentemente, das 22 mortes num  naufrágio 17 eram crianças.

Tudo isto enquanto se discute em Bruxelas a cor religiosa dos migrantes, e se constroem “os muros da solidariedade”; a verdadeira face da União Europeia que já tinha começado a revelar-se no tratamento dado aos parceiros do Sul, no âmbito de uma crise que eles despoletaram em proveito próprio.

Portugal é um país de emigrantes, e continuará a ser por muitos mais anos; porque a nossa situação atual assim nos obriga; não  faz sentido a discussão em torno de uma quota de 4.000 migrantes a receber, quando os portugueses que emigraram desde 2011 foram 550 mil.

Na Grécia foi feita com “pompa e circunstância” e com a presença de responsáveis europeus, a partida de 30 migrantes para o centro da Europa; deixando na Grécia 600 mil.

A Europa abandonou  os ideais que estiveram na génese da sua fundação, passou a ser um tratado de conveniências.

Neste ponto de vista, terei que me vergar um pouco perante aqueles que defendem o rompimento com os que nos querem subjugar pelo subdesenvolvimento; que levará a mais pobreza e ao aumento da dívida pública, arrastando Portugal para um beco sem saída.

A Europa levou um “abanão grego”, mas parece que não aprendeu a lição; caberá a Portugal dar uma resposta firme e dizer “não a tanta austeridade”, porque  ela é a porta aberta para a emigração.

a rasteira da solidariedade

A rasteira da solidariedade

 

 

 

 

 

 

 

Joaquim Vitorino    Jornalista

 

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