As grandes catástrofes epidémicas, por Joaquim Vitorino
Vírus gigante descoberto na Sibéria
Ao longo do percurso humano as catástrofes epidémicas marcaram a que foi sem qualquer dúvida, a mais rápida ascensão de uma espécie no nosso planeta.
Os registos pré Sumários que foram os inventores da escrita não são de todo fiáveis, porque eram transmitidos verbalmente de gerações para gerações; e em alguns casos passaram de umas civilizações para as outras, às quais nós lhes perdemos o rasto.
No entanto; as guerras da época pré e medieval tiveram mais destaque na passagem de testemunho quando os povos tinham necessidade de se afirmar, dando grande relevo aos seus feitos de guerreiros em salvaguarda e protecção dos seus territórios.
Hoje sabemos, que foram as grandes epidemias que através dos tempos levaram à grande devastação de Cidades, e provavelmente ao desaparecimento de Civilizações como o caso dos Maias.
Quando em 1665/1666 o Mayor de Londres mandou exterminar 200.000 gatos e 40.000 cães, pensando que aqueles animais estavam na origem da grande praga que atingiu a Cidade, estava a cometer um grande erro; porque os gatos estariam na linha da frente do combate contra os transmissores da doença os ratos; que por sua vez eram contaminados por pulgas.
Em Fevereiro de 1666 quando a Corte regressou à Cidade, a peste tinha dizimado em Londres e na periferia da Cidade mais de 100.000 pessoas. Na verdade; a peste negra como era conhecida, já tinha aparecido em 1338 e nunca as ilhas se tinham livre dela.
Uma das mais aterradoras situações vividas durante um violento surto de peste negra, ocorreu em Moscovo no ano de 1770 e na primavera de 1771, quando ela chegou com a força máxima; levando as autoridades a colocar de quarentena forçada homens, mulheres e crianças suspeitos de contágio; ordenando que todos os seus pertences fossem destruídos sem qualquer compensação.
Com o abandono da Cidade por parte das autoridades e dos ricos, os que ficaram presos de quarentena tiveram que enfrentar uma grande escassez alimentar; onde para além da peste, foram milhares os que morreram à fome.
As grandes epidemias assim como as guerras, foram um ciclo recorrente a que os humanos sempre estiveram sujeitos.
Um dos mais devastadores e dramáticos surtos de peste negra, teve origem em Marselha no ano de 1720; rápido e demolidor o surto não chegou a sair da Cidade, porque as autoridades fecharam todas as saídas, para que a peste não contaminasse o resto do país e possivelmente toda a Europa; chegando depois a todo o Mundo.
Marselha perdeu 100.000 vidas em pouco tempo, tendo recuperado a população normal 45 anos depois.
Em 1918 a primeira Grande guerra terminou, deixou para trás um saldo de mais de 30 milhões de mortos em 4 anos de conflito; nesse mesmo ano, apareceu a gripe espanhola que em poucos meses fez 25 milhões de vítimas; quando em 1920 a pandemia foi debelada, tinha deixado para trás mais de 70 milhões mortos.
Mas em percentagem de população/vítimas, nenhuma se compara quando da chegada dos colonizadores ao Continente americano; com as muitas doenças que foram levadas da Europa às quais os nativos não eram imunes. Só no Império Inca por exemplo; entre 90 a 95 por cento do povo andino foi “exterminado”, com doenças levadas pelos conquistadores espanhóis.
Em 2014, foi descoberto sob os gelos Siberianos um “vírus de grande porte” ( pithovirus sibericum ) que se pensava extinto há mais de 30.000 anos, mas que ainda mantém o ADN ativo; podendo matar em poucas horas.
O degelo dos grandes glaciares, está a libertar micro-organismos patogénicos distintos de tudo o que conhecemos, e que foram preservados durante milhões de anos.
As guerras e as catástrofes epidémicas; dizimaram centenas de milhões de humanos ao longo da sua existência; muitas delas nunca irão chegar ao nosso conhecimento.
O perigo de ambas em pleno Século XXI, mantém-se como uma permanente ameaça, a que se juntam as armas biológicas, produzidas em laboratórios de guerra, que se podem “escapar” e matar biliões de vidas humanas.
J. Vitorino – Diretor
* Joaquim Vitorino, Director