A máquina versus Humanos
Sem que nos tenhamos apercebido, a primeira fase da revolução tecnológica começou no início do último quarto do século XX; mas só se sentiram as repercussões, quando muitos dos empregos começaram a ser assumidos por computadores, reduzindo drasticamente a atividade humana, nos domínios contabilísticos das empresas e também do Estado.
Os computadores entraram muito rapidamente nas nossas vidas; e aquilo que de início foi aceite como uma curiosidade, passou rapidamente a imprescindível no processamento de dados e outras tarefas, criando uma incomodidade generalizada de alerta, de que o aumento das máquinas iria deixar um caos na oferta de trabalho, privilegiando apenas aqueles necessários à manutenção da máquina.
Há menos de uma década, que a universidade de Oxford sugeriu que nos próximos 20 anos, cerca de 50 por cento dos empregos correrão o risco de serem substituídos por computadores e algoritmos.
Os computadores da última geração, estão a ultrapassar as restrições dos anteriores, que só podiam ser programados para fazer trabalhos codificados, enquanto os atuais estão preparados para atividades, que nunca tínhamos pensado que pudessem vir a ser automatizadas.
Para minimizar os estragos, é urgente que o combate em defesa do posto de trabalho comece sem demora para acalmar algumas previsões mais pessimistas; passando pelo ensino escolar de base ao nível universitário onde tudo se vai jogar nos domínios da investigação, inovação tecnológica, produção do produto e colocação nos mercados exteriores.
Os países tudo vão fazer, para não ficarem para trás no mundo de magia que vamos ter pela frente nos próximos 50 anos; onde alguns deles, já partem com um atraso de 20 anos se tivermos como referência alguns países asiáticos como o Japão, a India e a China por exemplo.
A Europa e também os EUA, têm que descolar do conformismo histórico, das grandes realizações em todos os campos da ciência e inovação, para enfrentar o boom asiático e indiano que estão em incrível crescimento em áreas que há três décadas lhes estavam vedadas.
Quase em surpresa, temos pela frente um futuro mais matizado, no qual as habilidades únicas dos humanos serão ainda mais valorizadas do que hoje, porque os mercados de concorrência assim o vão determinar.
Isso significa que toda a vocação política dos países desenvolvidos, não terão como prioridade a criação de empregos; em vez disso, terão que garantir que as pessoas estejam equipadas de conhecimento para compartilhar o futuro.
Desde a revolução industrial há 250 anos que os avanços tecnológicos sempre levaram à destruição do trabalho, mas os novos avanços foram sempre uma garantia para que novos empregos fossem criados; sendo agora uma situação muito diferente, porque a competição é entre homens e máquinas.
Nesta primeira fase, pode parecer que não há evidências claras de que isso será diferente do que foi antes, e até acreditamos que novos empregos vão surgir do nada; mas é um erro tremendo pensar assim, porque desleixa o futuro e a capacidade que cada um terá para o enfrentar.
Esta questão, já está a ser tratada nos centros de investigação dos países asiáticos, como é o caso da China onde a formação obedece a uma regra simples; são as universidades que escolhem quem tem a melhor vocação para determinadas áreas, remetendo para ocupações menores quem não tem os requisitos exigíveis no mercado de trabalho, em que de um lado está um humano e do outro a máquina inteligente.
As fábricas no futuro vão depender da automação e da inteligência artificial, onde as tarefas humanas serão focadas na vigilância e produção, até que chegará o “timing” de ser a própria máquina a assumir esse papel. Então; de nada valerá aos humanos terem adquirido novos conhecimentos, porque a máquina inteligente está capacitada para o fazer muito mais rápido e melhor; para além de prestar atividade contínua 24 horas por dia, independentemente das condições adversas de trabalho a que está sujeita.
A inteligência artificial, irá alterar todo o panorama consensual que até agora foi exclusivo da criatividade humana, para dar lugar a um novo tipo de alfabetização baseada em algoritmos; e embora o futuro do trabalho possa parecer seguro para uma classe profissional qualificada, não o será para o trabalho que carece de reciclagem; porque muitos dos trabalhadores mais velhos, nunca conseguirão superar essas transições.
Coloca-se uma questão; porque é que os humanos não desativam a máquina para não terem que competir com ela, e a resposta é simples; é que nós humanos já estamos dependentes dela.
J. Vitorino
Diretor e Jornalista