
A Coragem e a Virtude, por J. Vitorino
Gorjão Henriques
Ainda se encontram no dicionário, mas quase desapareceram do nosso vocabulário diário; a coragem e a virtude, são duas das mais nobres palavras da língua portuguesa; que define a dignidade daqueles, que no passado e durante as suas vidas as exerceram; e para quem nos nossos dias, ainda não estão de todo perdidas.
Muitos dos acontecimentos que preocupam os portugueses, estão ligados à falta de coragem e virtude daqueles, para quem estes valores lhes vão passando ao lado, e que constantemente os desvirtuam; estando na primeira linha muitos que são detentores de cargos públicos e políticos, e as instituições que são o garante de uma democracia como os tribunais por exemplo.
Uma conhecida figura pública, clamava recentemente por uma maioria absoluta; e como provavelmente não a vai conseguir, terá que fazer alianças com (partidos extremistas) que a exemplo de Espanha os portugueses já sabem os caminhos que eles querem para Portugal, que são nem mais nem menos uma cópia da atual Venezuela.
Na recente Cimeira da União Europeia na cidade do Porto, a esquerda veio à rua exigir aumento de salários e mais umas quantas reivindicações; e ainda fazer promessas se (fossem governo subentende-se), esquecendo que nos últimos anos apoiaram o atual, e nada aconteceu que melhorasse a vida dos portugueses, porque a situação degradou-se exponencialmente.
Também nada disseram sobre o fosso assimétrico criado em Portugal nos últimos 47 anos, entre o setor público que é representado por 20% dos portugueses por um lado, e os 80% do privado por outro que vê triplicada as vantagens para os primeiros; e, como vão as empresas reagir ao radicalismo de quem quer para Portugal, um regime que o “podemos” tentou no país vizinho, mas que foi abortado com uma resposta enérgica das forças democráticas de Espanha, com uma vitória da democracia nas recentes eleições.
Teria sido este o objetivo do 25 de abril, que passados 47 anos ainda continua a ser festejado com pompa e circunstância na assembleia da República?; não creio que tenha sido, mas uma minoria continua a utilizar a data com slogans revolucionários, que não se repetem em nenhum outro país europeu saído de ditaduras; e foram muitos aqueles, que deixaram Portugal para trás a todos os níveis.
Os portugueses; certamente que não se vão deixar enganar novamente, por cenários de maiorias a exemplo da (geringonça), cujas promessas já foram totalmente gastas.
Já começam a ver-se perfilar as mesmas figuras que ajudaram a levar à situação em que nos encontramos; e o país não pode suportar por muito mais tempo o “cerco”, porque está com a resistência no ponto mais débil de sempre; e as provisões de “paciência” estão quase a esgotar-se, não havendo tempo útil para ensaiar táticas governativas.
Os eleitores não vão passar cheques em branco a promessas vagas, nem estão dispostos a alimentar ambições pessoais e acertos de contas, como é previsível dentro dos partidos e coligações sejam elas de direita, esquerda ou centro; que estão a minar um entendimento entre os partidos com algum sentido de responsabilidade, que nos retire “deste tremendo lamaçal de pobreza”, de que a classe política portuguesa é a única responsável.
Portugal tem que entrar num “novo ciclo de vida”, ou perecerá como uma Nação verdadeiramente independente; tornando-se num apêndice subserviente a interesses, que não são os da esmagadora maioria dos portugueses.
Capela de São Lourenço no Peral
Bernardo Gorjão Henriques, nasceu na Quinta de São Lourenço no Peral – Cadaval a 15 de Fevereiro de 1786 e faleceu em Lisboa a 2 de Abril de 1854.
Aos 8 anos de idade Bernardo Gorjão entrou para o Colégio dos Nobres, e ali permaneceu até seguir para a Universidade de Coimbra; onde ainda estudante é armado Cavaleiro do Reino, tinha apenas ( 21 anos de idade ), alvará de 20 de Junho de 1807.
Terminados que foram os seus estudos Bernardo Gorjão Henriques é nomeado Juiz de Fora em Abrantes, de onde mais tarde seguirá para superintendente das Alfândegas do Minho, até ser chamado para as Altas funções de Ministro dos Negócios do Reino no Governo do Marechal Saldanha; transitando mais tarde, para Presidente da Câmara de Deputados ( 1842 – !846 ).
Foi este Homem de Coragem e Virtude, que propôs nas Cortes Extraordinárias de 1837 a aprovação da Carta Constitucional datada de 1826, que esteve na origem da guerra Civil entre D. Pedro IV e o usurpador absolutista D. Miguel; a quem seriam retirados todos os títulos, e sujeito às Leis de banimento e Proscrição, extensivas a todos os seus descendentes.
Conselheiro de Estado e Amigo da Rainha D. Maria II, Bernardo Gorjão Henriques recebeu a Ordem de Comendador da Grã-Cruz de Vila Viçosa, mas terá recusado o Título de Barão proposto pela Rainha.
Portugal está empobrecido de patriotismo e virtudes, e não precisa de palavras vagas e vazias de conteúdo; o exemplo de Bernardo Gorjão Henriques é apenas um dos muitos que deram tudo em nome do seu país; a “eles Devemos”, o pedaço de terra que temos que preservar a todo o custo; sendo em nome das suas memórias, que jamais o podemos perder.
Portugal já não poderá ser comparado com um outro país da Europa, porque seria uma ofensa a quem nos referíssemos; nos últimos 14 anos, perdeu as poucas oportunidades que teve para se poder levantar de novo, e entrou em rota de colisão com o seu próprio futuro; uma tragédia que tem que ser invertida, e não existe tempo a perder.
OBS: À Memória de Bernardo Gorjão Henriques: Peral 1786 – Lisboa 1852. ( fotos de Bernardo Gorjão Henriques e a Capela de S. Lourenço onde Foi Batizado ); na sequência da guerra civil, foi preso no Castelo de São Jorge pelas tropas miguelistas; mas seria libertado por D. Pedro IV a seguir à capitulação total de D. Miguel.
J. Vitorino – Jornalista
Diretor do Vila de Rei
