
Memórias de Portugal; Aljubarrota 636 anos depois.
Palácio Convento de Mafra
Os 878 anos da nossa existência como país, foram todos passados com bons e maus momentos, mas nunca a “marca Portugal” desceu a um valor tão baixo, como aquele em que nos encontramos atualmente.
A Nação portuguesa atingiu o ponto mais elevado na era dos descobrimentos; mas foram precisos mais 250 anos, para que Portugal fosse considerado o país mais rico do Mundo; à atual geração e às próximas, só lhes restará viver na nostalgia daqueles “grandes tempos”.
Vamos atribuir um valor virtual de 1000 créditos a essa época, em que a nossa moeda era cunhada a ouro; e que só os venezianos conseguiam rivalizar connosco.
Mas foi preciso esperar pelo reinado de D. João V, para que os portugueses sentissem a verdadeira pujança de um Portugal rico e próspero; que emergiu na sequência de todo o esforço de quase 300 anos de odisseia marítima, começando a perder prestígio no reinado de D. José I, que ficou tristemente marcado por intrigas palacianas com traições e sexo á mistura; onde não faltaram bárbaras condenações, (lembro o suplício dos Távora) que nos envergonham como um povo civilizado que “já fomos”.
Como que uma punição vinda do mar, o terramoto de 1755 veio acabar por destruir o resto do que já estava em curso.
Quando D. Maria I subiu ao trono, Portugal já tinha reduzido de 1000 para 400 créditos toda a sua riqueza; baixando para 200 com as guerras napoleónicas e peninsulares; tendo como consequência a fuga da família Real para o Brasil, que mais tarde estaria na origem de uma sangrenta guerra civil entre os irmãos D. Pedro e D. Miguel, que deixou o país num estado de pobreza de difícil recuperação.
Foram anos de grande sofrimento e penúria para o povo português, que até à independência do Brasil nunca perdeu o orgulho e o patriotismo, nem uma única parcela do seu vasto território; que posteriormente sofreu um duro golpe com o ultimato inglês de 11 de janeiro de 1890, que levou Portugal a endividar-se por mais de 100 anos; tendo a última “tranche” sido paga aos ingleses a 30 de junho de 2011.
Foi naquele ano e na sequência do referido acontecimento, que Portugal perdeu os últimos dos 1000 créditos que chegou a ter; entrando no ano de 1892 já em campo negativo.
Mapa cor de Rosa
É a partir daquele trágico episódio protagonizado por Serpa Pinto e Paiva Couceiro, que ficou conhecido como (Mapa cor de Rosa), que Portugal nunca mais deixou de contrair dívida; que como consequência, começámos gradualmente a perder a nossa independência; motivo utilizado pelos radicais, que mais tarde iria conduzir ao regicídio.
A seguir foi o descalabro total; sendo a nossa participação no primeiro conflito Mundial uma tragédia nacional que levou a um clima constante de conflitualidade, com várias repúblicas a sucederem-se umas às outras; acabando por descambar numa ditadura que durou 48 anos, o que levou Portugal para os 500 créditos negativos.
A perda da India em 1959, a que se lhe seguiram todas as outras ex-colónias depois de 14 anos de guerra, transformou Portugal nas décadas de 60/70 num país em fuga; que depois é colmatada com a vinda de 1.2 milhões de pessoas, naquela que foi a maior fuga aérea de áfrica de todos tempos.
O impacto foi tal na sociedade portuguesa, que ainda hoje se sentem um pouco por toda a parte os seus efeitos.
Já como república Portugal perdeu em menos de 20 anos o que restava dos 1000 créditos positivos, e conta atualmente com 2500 negativos; pelo património que alienou, e a enorme dívida que contraiu de 277.000 milhões de euros 137,3 do PIB dados recentes de 2021, não existindo quaisquer investimento ou benefício público que o justifique; porque o país é o mais subdesenvolvido de toda a Europa, o que possui a mais baixa taxa de literacia, e os mais baixos salários da União europeia, por motivo da economia miserabilista decidida pelos sucessivos governos após o 25 de abril de 1974.
O orgulho e a opulência do nosso passado, marcaram a diferença com a pobreza e o descrédito do presente; o nosso país que chegou a controlar os sete mares e cinco oceanos, para além de ter sido alienado parte do riquíssimo património que herdámos, foram vendidas as empresas chave no desenvolvimento de um país, como a EDP e a companhia das águas, CTT e bancos, e até o oceanário de Lisboa foi vendido.
D. Nuno Álvares Pereira – Santo Condestável
Recentemente desloquei-me ao “Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota”, onde prestei homenagem a todos os que tombaram no campo de S. Jorge em 1385 faz agora precisamente 636 anos; com toda a certeza que os portugueses de hoje, estão longe de merecer o sacrifício das suas vidas.
Portugal já pouco tem a que se possa deitar a mão; quase tudo foi vendido a preço de saldo, e simultaneamente transformaram-nos na segunda maior hipoteca per capita do Mundo; a bandeira é tão só a única coisa, com que hoje nos possamos identificar.
De esperança perdida; sem perspetivas futuras e os sonhos traídos, nos últimos 14 anos deixaram Portugal mais de 1 milhão e 200 mil dos nossos Jovens, em busca de um futuro digno que aqui lhes foi negado.
Nas suas bagagens, levaram com eles licenciaturas, doutoramentos e formações politécnicas tiradas nas nossas Universidades e estabelecimentos de ensino Superior, que é reconhecido como dos melhores tendo em conta os meios de que dispõem.
Esta elite de portugueses que foram “forçados” a deixarem as suas famílias e o seu querido país, deixaram-nos mais pobres; e abrem uma grande lacuna na reposição demográfica do território onde em alguns distritos do interior, existem 3 idosos por cada criança e jovens no seu conjunto.
É uma situação alarmante, onde o futuro é mais que previsível; com a reposição demográfica feita em larga escala de fora para dentro, o que já está a acontecer.
Portugal vai perdendo a sua identidade; e aos que partiram não lhes são oferecidas condições, para poderem regressar até porque, já não sentem como seu este país; para trás deixaram tudo, incluindo o desejo de eventualmente um dia poderem regressar.
OBS: Aos nossos emigrantes e seus descendentes, que já são um terço da população portuguesa que teve que sair de Portugal; e à memória do meu avô paterno, nascido em Aljubarrota no ano do ultimato inglês de 1890; emigrou com a minha avó para os Estados Unidos em 1919, e faleceu de tuberculose dois anos depois em Fall River Massachusetts, tinha o meu pai 6 meses de idade.
Joaquim Vitorino – Jornalista
Diretor do Jornal Vila de Rei
Ex-Emigrante no Reino Unido
