Um Anjo em Hiroshima; Pedro Arrupe, foi o Missionário do Século XX.

Um Anjo em Hiroshima; Pedro Arrupe, foi o Missionário do Século XX.

 

Pedro Arrupe o Missionário do Século XX                                                                    

Pedro Arrupe nasceu em Bilbau a 14 de novembro de 1907, numa zona antiga daquela Cidade Basca; existe uma coincidência, que me leva a acreditar que Pedro Arrupe foi “Iluminado”, para seguir uma trajetória de vida espiritual e humanista; é que nessa mesma localidade nasceu 416 anos antes, Santo Ignácio de Loyola que foi o fundador da Companhia de Jesus.

Pedro Arrupe “foi predestinado” a missões que se revelaram de elevado altruísmo humanitário, e ocupou diversos cargos na hierarquia Cristã, como o de SUPERIOR GERAL da COMPANHIA de JESUS (1965 a 1983); ano em que pediu a João Paulo II para ser substituído no cargo, por motivo de um AVC sofrido em 1980.

A vida de Pedro Arrupe foi marcada por inúmeros acontecimentos, onde se contam tragédias na sua família e amigos; Pedro perde a sua mãe Dolores Gondra, quando tinha apenas 8 anos de idade.

Em 1923 inicia os estudos de Filosofia em Burgos, e a seguir teologia e moral médica em Valkenburg na (Holanda); que lhe iria ser muito útil nos terríveis acontecimentos que lhe estavam reservados, e que a seguir descreverei.

No dia 25 de Janeiro de 1927, aquele que na minha opinião viria a ser o mais proeminente missionário do Século XX, ingressou na Companhia de Jesus em Loyola; inicialmente não teve apoio de familiares e amigos, incluindo Juan Negrín López, que viria posteriormente a ser o futuro Presidente do governo da então república de Espanha de 1937 a 1939, lugar que manteve no exílio até 1945; mas nada deteve Pedro Arrupe no objetivo que tinha traçado para a sua vida, porque a decisão de querer ser missionário era irreversível.

Em Julho de 1936 parte para o Sul dos Estados Unidos para continuar os estudos em Moral Médica, e deixa para trás o seu país a braços com uma terrível guerra civil (1936/38), que teve um saldo de um milhão e meio de mortos, ainda a Europa estava mergulhada numa grande recessão, que teve o epicentro nos EUA em 1929; atravessando depois o Atlântico para dar origem uns anos mais tarde à segunda Guerra Mundial.

Começam as perseguições em Espanha; alguns amigos de Pedro Arrupe também jesuítas, serão presos e ele vem em seu auxílio.

Entretanto o ditador Franco já se instalara no poder, e concede a Pedro uma audiência em que este pede a liberdade de amigos que estão detidos; e também alerta Franco, para que tenha em atenção as condições miseráveis e sub-humanas, em que milhares de crianças órfãos da guerra Civil vivem na Cidade de Morelia.

Regressa aos EUA, e em 30 de setembro de 1938 é convocado para uma missão de longa duração no Japão; embarca em Seatle e desembarca no dia 15 de outubro no Porto de Yokohama na baía de Tóquio, onde vai permanecer um ano e meio, até ser enviado para uma Paróquia em Yamaguchi.

O Japão vive dominado pelo fanatismo militar da guerra, e tudo o que é estrangeiro é suspeito; Pedro é preso por espionagem a 8 de dezembro de 1941, e fica detido 33 dias passando o Natal na prisão; num gesto de solidariedade, amigos tentaram contactá-lo sabendo que tinha sido condenado injustamente.

Bomba de Hiroshima

Em Março de 1941 regressa a Nagatsuka que dista a 6 quilómetros de Hiroshima, para ir formar noviços onde tem que enfrentar todas as privações da guerra.

Às 8h00 da manhã de 6 de agosto de 1945 explode uma bomba atómica em Hiroshima; Pedro encontra-se em Nagatsuka, e depressa chega ao local da explosão; o que viu nem a mente mais fértil consegue imaginar, com milhares de mortos e destruição total.

Hiroshima não constituía um alvo militar e era habitado por mulheres e crianças, porque á exceção de muito idosos, todos os homens válidos tinham partido para as frentes de batalha.

Os conhecimentos médicos foram-lhe de grande utilidade naquela trágica emergência; com o seu grupo de noviços, começaram por queimar os mortos para evitar surtos epidémicos e ajudar a morrer os vivos, porque foram poucos os que sobreviveram na área do impacto que apanhou Hiroshima em cheio.

Pedro nunca mais seria o mesmo, e nunca imaginou presenciar tamanha tragédia humana; agora não poderá abandonar aqueles, que mais do que nunca iriam precisar dele.

Em 1958 é nomeado “Primeiro Provincial da Missão Jesuíta no Japão”.

De regresso à Europa, é reconhecidamente o homem do momento, sendo recebido e condecorado pelas mais altas entidades eclesiásticas.

Bomba de Nagasaki

Pedro Arrupe assume a humildade que sempre o caracterizou; porque ninguém melhor que ele sabe qual o valor de um ser humano, pelo que nunca poderá esquecer Hiroshima e também Nagasaki, onde em 1962 mandou erigir um Monumento em memória das vítimas da 2ª bomba atómica lançada sobre o Japão; aquela que levou, aquele país à capitulação total.

Pedro Arrupe passou longos anos da sua vida no Japão; regressou a Roma para receber das mãos de Paulo VI em maio de 1965 o “mantéu” de Superior-Geral da companhia de Jesus, que foi fundada a 15 de agosto de 1534 por Santo Ignácio de Loyola, uma coincidência ou talvez não.

É que ambos nasceram na mesma localidade, e o “Testemunho” é passado 400 anos depois; hoje “A Companhia de Jesus” é a maior organização do mundo Cristão.

Pedro Arrupe faleceu em Roma Itália, a 5 de fevereiro de 1991; pela dedicação às causas que defendia, a experiência vivida em Hiroshima e Nagasaki, os altos cargos que sempre ocupou com humildade não me deixam dúvidas, de que Pedro Arrupe, foi o grande Missionário do Século XX.

Quando em trânsito para Tóquio passou por Lisboa; em atitude de grande condescendência e humildade, rezou ante a estátua de Marquês de Pombal, o homem que expulsou de Portugal os Jesuítas.

Pedro Arrupe marcou positivamente o século em que viveu; deixou-nos a 5 de fevereiro de 1991 com a sua Missão cumprida, algumas dúvidas e uma única certeza; que o Mundo em que vivemos só será salvo por Alguém, que em nada se pareça com Ele.

Rússia, Estados Unidos, China, Reino Unido, India, Paquistão, França, Israel e Coreia do Norte, pertencem ao “clube de terror” que tem a capacidade para destruir o Planeta Terra 200 vezes; com os russos a deterem quase metade de todo este arsenal, onde 25 por cento seria suficiente, para provocar (um inverno nuclear) que dizimaria 80 por cento de todas as espécies incluindo a humana.

Lembro que uma bomba de hidrogênio Tsar RDS 220, também conhecida por AN602 termonuclear de fabricação soviética de 1961, tem potência equivalente a 57 milhões de toneladas de TNT; 3562 vezes mais devastadora que a lançada em Hiroshima, que tinha a potência de 16.000. 

Em maio de 2016, Barack Hussein Obama seria o primeiro presidente americano a visitar Hiroshima; mas não pediu desculpa às vítimas, que foram na esmagadora maioria mulheres e crianças; porque todos os homens válidos, se encontravam nas frentes de batalha.

      

 J. Vitorino – Jornalista e Diretor

    

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