Portugal, paraíso de VIPs

Portugal, paraíso de VIPs

Portugal transformou-se num imenso caudal de listas VIP, sendo o país que mais utiliza este conceito discriminatório de Very Important Person “expressão inglesa”.

Os vistos Gold e mais concretamente aqueles que beneficiam de privilégios que são negados à esmagadora maioria dos cidadãos portugueses, e as listas VIP em áreas como a segurança social, função pública, cargos governativos e também em algumas autarquias, deixam os portugueses sem saber a quem vão pedir contas pelo ataque aos seus direitos, onde a competência é colocada de parte para dar lugar ao VIP; uma prática que fere o regime democrático, e cria desconfiança entre a classe política e o cidadão comum.

Portugal é um país com um triste historial de listas de interesses VIP “portanto esta prática não é nova”  onde não é tida em conta o esforço que muitas famílias fizeram para colocar os seus filhos no ensino superior  privado; muitos desses pais, endividaram-se ao limite com a esperança de conseguirem algum retorno, mas a verdade é bem diferente.

Muitos dos estudantes universitários lamentam-se perante os progenitores; estudar para quê (dizem eles), se as minhas notas estão entre as melhores, enquanto os menos qualificados estão colocados em listas VIP com empregos já garantidos.

Foi a ausência de escrúpulos de muitos que Portugal atingiu um lugar na “lista” dos mais pobres de toda a Europa; estamos a um ponto de sermos ultrapassados pela Roménia no PIB per capita.

A praga dos VIP’s entrou em todos os setores da sociedade portuguesa, onde existe sempre uma lista que bloqueia o conceito da igualdade e da justiça, que são o princípio base dos valores de uma democracia.

Com a crise económica que teve início há 14 anos, em que Portugal foi o único país que não a conseguiu debelar, dezenas de milhares conseguiram emprego sem mérito próprio, porque estavam associados a listas VIP “pedidos influentes” deixando para trás concorrentes muito mais qualificados; um método condenável, que não se enquadra no conceito de igualdade a que todos os cidadãos têm direito.

Em muitas instituições, essas práticas são ditadas por um conjunto de favorecimentos que obedece a trocas de privilégios, entre quadros e subalternos sob proteção; esta prática não é nova e empobrece o país, porque favorece quem não tem qualificação em detrimento da competência.

O que está em causa, e que terá que ser o ponto de partida para uma mudança em todo o setor público incluindo autarquias, encontra pela frente um problema de difícil resolução; porque a questão VIP está na moda e é vista como uma prática comum inofensiva, passando a ser desvalorizada e aceite como uma “cunhazinha” que não prejudica ninguém, mas não é bem assim.

Sendo uma tremenda injustiça, que alguém tenha prioridade num emprego ou suba de escalão profissional à custa de quem tem mais mérito, mas que não beneficiou das mesmas prerrogativas; este é um dos principais motivos, que leva os mais qualificados a optar pelos caminhos da emigração, em busca de trabalho mais bem remunerado, e reconhecimento do seu valor profissional.

A ambição e a falta de rigor profissional, tem grande peso em todos aqueles a quem pouco lhes interessa a quem vão pisar; muitos até descendem de pais honestos só que,  chegaram às grandes cidades com uma mala de cartão, inscreveram-se em partidos políticos e conseguiram cursos académicos; arranjaram-lhes empregos e fizeram fortuna, são os VIP’s de que pouca gente fala.

Um país que não consegue dar igualdade de oportunidades a todos os seus cidadãos, independentemente dos meios económicos que possuem, não vive numa verdadeira democracia, e será sempre pobre em todas as vertentes; lembro que Portugal tem a mais baixa taxa de literacia da Europa (43 por cento da média para ser mais concreto), e foi nos últimos 20 anos o país europeu que menos se desenvolveu; um em cada dez portugueses não têm assistência médica garantida atempadamente, existindo marcações que ultrapassam um ano de espera; importamos quase tudo o que comemos incluindo o peixe, mesmo tendo em conta que possuímos a maior área de mar na União europeia.

 

Joaquim Vitorino – Jornalista

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