Os Cavaleiros do Templo, por Joaquim Vitorino
Recentemente, assinalou-se os 700 anos sobre a data do processo que levou à extinção da célebre Ordem dos Templários (Ordem do Templo), cuja natureza e ação tem motivado um mar imenso de literatura de ficção, e também alimentado inúmeros filmes.
Este interesse tem contribuído para mitificar o papel histórico daquela que foi até aos dias de hoje, a mais poderosa Ordem militar de todos os tempos.
Aquela que viria a ter um fim trágico 196 anos após o seu nascimento, foi fundada em França (região de Champagne) no ano de 1120 quando da realização do Concílio de Nablus, tendo como objetivo proteger os movimentos de peregrinação aos lugares santos do Cristianismo no médio oriente, que estavam sob a ameaça do poderio crescente da confissão islâmica.
Quase todas as “Grandes Ordens” nasceram na idade média, sendo a mais famosa de todas elas a de São Bento.
Cavaleiro Templário em Juramento
Portugal tem um vasto historial de ligação às Ordens, que deixaram vestígios um pouco por todo o país; em especial as regiões norte e centro, com marcas bem evidentes em muitos locais, como a exemplo no Convento do Santo Sepulcro em Trancozelos-Penalva do Castelo, Sede da primeira fundação da Ordem do Santo Sepulcro em Portugal.
Os Templários tiveram inicialmente na dependência dos Cónegos do Santo Sepulcro; vindo rapidamente a autonomizar-se com a liderança do seu primeiro Grão-Mestre “Huges de Payns”.
Templários Freires de Cristo, ou Freires do Templo de Salomão como também eram designados, associavam à consagração religiosa, conselhos evangélicos de pobreza, castidade e obediência; e o solene compromisso de entregar a sua vida em favor da proteção dos peregrinos, e da defesa da Cristandade contra a ameaça do poder Islâmico.
A Arca da Aliança, que supostamente estaria à guarda dos Templários.
A Ordem do Templo estava ao lado de outras como a de Santiago, Calatrava, a do Hospital e a de Avis, e cooperavam com os exércitos dos Reis, e dos grandes senhores Cristãos nas (Grandes Cruzadas) contra o chamado infiel, num combate sem tréguas travado no Médio Oriente e na Península Ibérica; procurando reconquistar os territórios do antigo domínio Cristão, entretanto conquistados pelos Muçulmanos.
Estas Ordens Militares, funcionavam como uma tropa de elite bem treinada e altamente motivada; cuja participação nas batalhas, decidia muitas vezes o sentido da vitória.
O serviço prestado por estas instituições aos monarcas cristãos com especial destaque para a Ordem do Templo, foi largamente recompensado com a atribuição de bens; nomeadamente terras, castelos e outras regalias que as tornaram poderosas e influentes.
Casa dos hospitalares – Leça do Balio
Em Portugal a Ordem do Templo a par das suas congéneres, teve um papel ativo na formação do Reino de Portugal, com grande relevância no povoamento e controlo do território conquistado.
Papa Clemente V
Em 1308 uma bula papal a que se seguiu uma outra em 1309, decretava a prisão de todos os “Freires de Cristo” a que se seguiu a bula Ad Proviam em março de 1312, a decretar a anexação e transferência de todos os bens dos Templários para a posse da Ordem do Hospital.
O golpe fatal seria dado em 1314, com a morte na fogueira do seu último Grão-Mestre Jacques de Molay.
Uma situação semelhante viria acontecer mais tarde, com a expulsão da Companhia de Jesus de Portugal pelo Marquês de Pombal e noutras monarquias europeias no século XVIII; o que levaria à extinção universal da Ordem em 1773 pelo papa Clemente XIV.
Jaccques de Molay, último Grão Mestre dos Templários.
O processo foi liderado pelo Rei Filipe IV de França “o Belo”, que conseguiu do Papa Clemente V obter a extinção desta Ordem por faltas graves que levaram à condenação das suas mais importantes lideranças, culminando com a morte na fogueira do seu último Grão-Mestre Jacques de Molay em 1314.
Filipe IV (o belo) Rei de França
As acusações estavam cheias de vicissitudes, e tinham começado em 1308 com uma bula papal enviada aos Reis e Príncipes Cristãos da época, para clarificar a situação dos Templários; insistindo na necessidade da sua extinção, seguida de uma outra bula emitida em 1309 a ordenar a prisão dos Freires de Cristo; e finalmente a bula Ad providam em maio de 1312, a decretar a anexação de todos os bens da Ordem, e a transferi-los para a posse da Ordem do Hospital.
D. Dinis que ao tempo reinava em Portugal, resistiu à diretiva papal que mandava extinguir a Ordem do Templo, consciente do serviço que tinham prestado e continuava a prestar, na defesa e povoamento do território português.
Através de ação diplomática, D. Dinis conseguiu obter do Papa uma solução para acatar a extinção, mas sem extinguir esta Ordem de elite, cuja dispensa não convinha à estratégia reservada ao futuro político de Reino de Portugal, como a história veio confirmar.
Janela no Convento de Cristo em Tomar
A solução, passaria por manter os efetivos e bens da Ordem e a estrutura organizativa mas teria que mudar o nome, passando a chamar-se de Ordem de Cristo.
Com esta manobra diplomática, D. Dinis salvou os Templários de perseguição e morte, e passaram a ser integrados na “Ordem de Cristo” também conhecida como Cavaleiros de Cristo.
Sabemos hoje toda a importância deste empenho político de D. Dinis em evitar a extinção dos Templários em Portugal.
A epopeia marítima portuguesa
Mais tarde a sucedânea Ordem de Cristo, liderará a promoção de uma das mais importantes e significativas epopeias de toda a História de Portugal e do Mundo, que foram as viagens marítimas e os descobrimentos, com a liderança de um dos mais famosos Grão-Mestres da Ordem o Infante D. Henrique.
Portugal ficou na história universal como o primeiro império global da humanidade, e o pioneiro na construção da globalização.
Os Templários nunca foram esquecidos pelos portugueses, tendo as Naus de Vasco da Gama, Afonso de Albuquerque e Pedro Álvares Cabral e outros famosos navegadores, ostentado nas suas Naus, a Cruz da Ordem dos Templários como estandarte.
Templo de Salomão – Jerusalém
Desde os guardiões da “Arca da Aliança” no tempo de Salomão, Freires de Cristo, Ordem do Templo (Templários) ou Ordem de Cristo, todas elas estiveram subjacentes a uma causa única a Cristandade.
OBS: O Rei Filipe IV e o Papa Clemente V, que estiveram envolvidos na extinção e condenação dos Templários, que culminou com a condenação do seu último Grão Mestre à morte pelo fogo, morreram nesse mesmo ano de 1314; Clemente V faleceu a 20 de Abril e Filipe IV a 29 de novembro, com 50 e 46 anos de idade respetivamente.
Nota: No “Monte do Templo em Jerusalém” funcionou a primeira Sede dos Cavaleiros Templários; no mesmo local, onde foi posteriormente construída a Mesquita de Al-Aqsa.
J. Vitorino – Jornalista – Diretor