
Portugal que futuro?
Assembleia da República
Os últimos 25 anos, foram de longe os que mais negativamente marcaram o nosso país; foi uma geração que ainda está por ser avaliada, mas que vai ficar para a história como a pior de sempre.
Não me refiro aos que nasceram neste período, mas sim a todos aqueles, que com raras exceções tiveram responsabilidades governativas, no estado da calamidade social em que Portugal se encontra.
Também não estão isentos de culpa, quem durante todos estes anos os legitimou no poder, com a entrega incondicional do seu voto; porque independentemente da crise que penalizou as economias ocidentais, Portugal teve todas as condições, para ter saído dela como nenhum outro país; pois o que recebemos da comunidade e o que contribuímos, é quase 300% a nosso favor.
Foram mais de 9 milhões de euros diários que durante 25 anos entraram no nosso país; gastos em alguns projetos de arrojada megalomania e risco, como auto estradas e estádios de futebol, em que alguns casos se tornaram em manifesta inutilidade; e não se fez um único investimento, a pensar nas gerações futuras e num Portugal a curto e longo prazo.
É inacreditável, que não obstante este rio de dinheiro a desaguar em Portugal desde a adesão à comunidade europeia, que o país tenha contraído uma dívida pública de 274.8 mil milhões de euros (dados de 1/4/2022), condenando liminarmente as próximas gerações à pobreza e ao subdesenvolvimento; que a epidemia (Covid-19) veio colocar as feridas a descoberto, mas nada comparativamente aos números acima referidos.
É preciso reconhecermos que a situação é tão dramática, que se Portugal não fizesse parte da União Europeia, não existiam meios para vacinar a população no contexto epidémico.
Os jovens portugueses não se devem sentir culpados pela situação de pobreza em que o país se encontra, em que muitas das suas famílias foram severamente afetadas; eles são as principais vítimas, pois a curto prazo só os espera a tragédia que constitui a emigração.
Culpamos insistentemente aqueles a quem Portugal vem pedindo ajuda há dezenas de anos; quando na verdade os verdadeiros responsáveis em que o nosso país se encontra, estão há muito tempo identificados.
Com uma pequena exceção de 15% da classe média que dentro de pouco tempo poderá deixar de existir, os portugueses deixaram-se levar durante anos, por promessas que despudoradamente os empurraram para o empobrecimento coletivo.
Dificilmente Portugal conseguirá inverter o estado de calamidade em que nos deixámos cair; onde os interesses instalados não serão de fácil mudança, porque entraram num ciclo vicioso de difícil retrocesso.
Os portugueses têm que começar a compreender que a vida não é fácil em toda a Europa, e que Portugal tem que refrear o recurso à dívida pública para manter privilégios, que os povos ricos da Europa não têm; basta olhar para o nosso parque automóvel, para compreendermos o rumo errado que o nosso país tomou nos últimos anos; e que se não for refreado, nos conduzirá aos caminhos da Venezuela e Cuba.
Os erros pagam-se por quem os comete, e muito especificamente por aqueles que os deixaram cometer; porque são estes últimos e as gerações futuras, que vão pagar a pesada fatura até ao resto das suas vidas.
O nosso país tinha começado a mexer um pouco em 2019, mas insuficiente para o relançar no caminho da prosperidade, do desenvolvimento e da inovação tecnológica; porque será nesta vertente que se vai jogar o futuro, e Portugal não se preparou para o grande desafio.
Já se compreendeu que o Estado português, não está em condições de desempenhar o papel de motor de arranque, para a grande mudança indispensável, para não ficarmos no fundo da Europa.
Será preciso apoiar as empresas privadas, para que sejam elas a assumir o desenvolvimento urgente do nosso país, dando-lhe apoios necessários para as transformar mais produtivas e com menos custos; só assim será possível, os trabalhadores poderem ser beneficiados ao nível de salários.
A aposta nos ordenados baixos, foi sempre um retrocesso em qualquer economia; uma prática que só beneficia uma pequena parte da população, que são a classe média que está em vias de extinção, e a política que se auto nivelou pela média europeia, enquanto a maioria dos portugueses vão caindo no empobrecimento.
Só com salários equilibrados é que se pode gerar riqueza, e criar rotatividade económica através do poder de consumo, que também reverteria em mais impostos para o Estado.
Foi neste contexto que a confiança nas atuais instituições políticas foi seriamente abalada ao longo dos últimos anos; Portugal tinha há 25 anos 5 classes sociais, e neste momento está reduzido a apenas três com um dado novo; a pobreza caiu impiedosamente sobre os mais vulneráveis e carenciados; que são as nossas crianças, os jovens e os idosos.
Se a torneira europeia fosse fechada Portugal ficaria a curtíssimo prazo numa situação dramática, devastado pela fome e insegurança, porque não haveria dinheiro para pagar as magras reformas, e importar alguns bens de consumo de necessidade primária.
Lembro que importamos quase tudo o que comemos; e que de nada nos serve possuir a maior área marítima da Europa, porque importamos quase 90 por cento do peixe que comemos.
As opções estão a ficar fechadas para os portugueses; que se sentem desmotivados e preocupados com a pobreza que os atingiu, mas recusam determinantemente os caminhos da Venezuela e Cuba.
A dívida pública, a venda das melhores Empresas como a EDP, Bancos, Companhia das águas, CTT e alienação de património, não serviu para desenvolver o país, que está na cauda do desenvolvimento da União Europeia, e colocou os portugueses em risco elevado de empobrecimento; é que a pobreza de longa duração, traz com ela perigos e outros males associados.
Na última geração (25 anos) foram desperdiçadas no mínimo mais duas em desenvolvimento.
OBS: Às nossas crianças e jovens e às futuras gerações; a quem a atual vai provavelmente deixar, uma mão cheia de nada.
J. Vitorino – Jornalista – Diretor do Vila de Rei
