As grandes batalhas medievais – Aljubarrota

As grandes batalhas medievais – Aljubarrota

A coragem e a bravura num campo de Batalha, foram sempre determinantes no seu desfecho; e têm que estar sempre associadas a causas justas e coletivas, como a ameaça contra a liberdade de um povo, o risco de cair no esclavagismo ou de perder a própria Nação, como foi o caso de Aljubarrota a 14 de agosto de 1385.

Os grandes confrontos medievais, movem paixões e admiração mas também deslumbramento; pela entrega de homens e mulheres a causas que muitas vezes ultrapassaram o concebível e o racional, quando leva voluntariamente à entrega das próprias vidas.

O grande impacto do combate estava reservado às linhas da frente de Batalha; por isso eram escolhidos os melhores para suportarem a primeira carga inimiga; ao contrário das guerras atuais eles sabiam que existia uma grande probabilidade de serem mortos, mas algo muito mais forte os transcendia; o sentido do dever e o patriotismo que foram sempre uma incontestável motivação para a entrega total onde não foram raras as vezes, em que a esperança já perdida no desenrolar do combate, dava lugar a um sentimento muito mais forte e profundo a Fé, que foi sempre a grande arma do “Santo Condestável” D. Nuno Álvares Pereira.

D. Nuno Álvares Pereira, estratega da batalha de Aljubarrota.

Existem duas Batalhas medievais que nos fazem meditar, e não estou só neste sentimento; até porque, ambas se revestem de contornos da mesma similaridade, e distam entre si 30 anos em que alguns dos guerreiros (no caso concreto arqueiros ingleses), estiveram presentes nos dois confrontos, que em caso de derrota Portugal e Inglaterra, perderiam a independência nas batalhas de Aljubarrota 1385 e Azincourt 1415.

Ambas as batalhas têm uma grande semelhança por dois motivos; Portugal lutava pela independência contra Castela (crise 1383/1385), e a Inglaterra enfrentava a crise dos 100 anos entre franceses e ingleses, cujo confronto decisivo teve lugar em Artois, 40 quilómetros a sul de Calais cujo Chefe militar Henrique V, a exemplo de D. Nuno Álvares Pereira era um homem de uma enorme Fé e também um extraordinário orador; ambos iriam conduzir os seus soldados a vitórias estrondosas, contra inimigos numericamente superiores, um para seis em ambos os casos.

(600 perdas inglesas segundo alguns historiadores, com os franceses a perderam 12 vezes mais); quanto a forças em presença em Azincourt (4 franceses por cada inglês, e em Aljubarrota a proporcionalidade seria de (6 para 1 a favor de Castela).

Mas o mais espantoso nos dois confrontos, foram as baixas muito mais elevadas do lado de quem perdeu; em Aljubarrota 4 castelhanos perderam a vida por cada português caído em combate; sendo as perdas francesas em Azencourt 12 vezes superiores às de Henrique V de Inglaterra, que antes do combate recebeu várias vezes o Arauto francês a instá-lo à retirada o que não aceitou.

Henrique V dirige um dramático apelo aos seus homens antes de iniciar a Batalha, e incute-lhes a Fé em Deus e fala-lhes de São Crispim, porque a Batalha foi no dia comemorativo deste popular Santo.

Henrique V levanta a moral dos seus homens quando convicto e determinado lhes diz, que irão lamentar pelo resto das suas vidas, todos aqueles que não tinham a honra e o privilégio de hoje poderem estar aqui.

Esta vitória como a de Aljubarrota, foram esmagadoras e determinantes na independência de Portugal e Inglaterra, que há 32 anos tinham selado a mais velha Aliança do Mundo, e que ainda hoje perdura.

Se Henrique V tivesse participado na Batalha de Aljubarrota 30 anos antes, teria ouvido D. Nuno Álvares Pereira fazer exatamente o mesmo discurso aos seus homens, antes do confronto que levou Castela ao reconhecimento da independência de Portugal.

O Santo Condestável para além da coragem era um Homem de Fé; pouco lhe importava que do outro lado estivessem os melhores cavaleiros de Espanha e França, e em número esmagadoramente superior, pois sabia que os espanhóis vieram para se vingar da derrota de há um ano 4 meses e oito dias em Atoleiros; em que D. Nuno Álvares Pereira teve uma vitória estrondosa contra Castela com menos de 1/3 dos efetivos; alguns deles, foram angariados nos campos por onde passava a caminho de Fronteira “Atoleiros”, o local da Batalha onde infligiu uma pesada derrota aos castelhanos.

Um acontecimento inédito em Atoleiros esteve na origem da grande motivação da vitória em Aljubarrota; Castela deixou para trás 1/5 dos seus homens enquanto D. Nuno Álvares não teria perdido um único combatente, segundo um cronista da época.

D. Nuno Álvares Pereira acreditava que teve em Atoleiros uma ajuda Divina, que o encorajou a enfrentar sem receio 36.000 castelhanos, que vieram para resolver de vez as pretensões de Castela à Coroa portuguesa.

Do lado português estavam 6.000 homens; muitos deles tinham combatido na batalha de Atoleiros a 6 de abril de 1384, a que se juntaram 300 arqueiros ingleses ao abrigo da nova Aliança.

Bem preparados, os ingleses que não perderam um único homem na Batalha foram decisivos para a derrota dos castelhanos; eles colocavam uma flexa no peito de um cavaleiro em correria a 50 metros de distância, tornando praticamente nula a grande aposta de D. João I de Castela na elite da cavalaria francesa na frente de batalha, para romper com o sistema do quadrado a nova técnica adotada por D. Nuno Álvares Pereira.

Foi uma batalha terrível que durou várias horas, onde a cavalaria do lado castelhano quase toda constituída por nobres franceses foram os mais fustigados; com as tropas de infantaria a entrarem em pânico porque se lembraram de Atoleiros, colocaram-se em debandada tendo sido perseguidos e mortos.

O Campo de São Jorge em Aljubarrota ficou pejado de cadáveres; aproximadamente 1000 portugueses e 6000 castelhanos perderam a vida nesse triste dia onde mais de 1000 foram perseguidos e mortos, mesmo depois de D. João I de Portugal ter dado por terminado confronto, tudo o que falasse castelhano era perseguido e morto por particulares.; era um ódio antigo que não se compreende porque havia milhares de portugueses a combater do lado de Castela; porque D. Beatriz de Portugal era quem reclamava o trono e era portuguesa; no rescaldo do confronto, centenas de feridos castelhanos foram executados.

D. Nuno Alvares Pereira foi o mais Ilustre de todos os portugueses, como prova o reconhecimento de D. João I que o transformou no homem mais rico do Reino de Portugal, e a quem mais títulos foram atribuídos na história do nosso país.

Aos 23 anos assumiu o comando do exército de Portugal, e foi com essa idade que ganhou a batalha de Atoleiros, e 16 meses mais tarde a de Aljubarrota.

Refletir o nosso passado, é abrir o caminho para o futuro das próximas gerações e dos jovens de hoje; vendo sempre Portugal pelo grande povo que fomos, e não por aquilo que hoje somos.

A técnica do quadrado optada por D. Nuno Álvares Pereira na batalha de Aljubarrota, foi utilizada pela primeira vez por Alexandre Magno para evitar deserções; obrigando os soldados a combaterem até à morte se fossem cercados pelo inimigo, o que implicava uma grande coesão das forças em combate.

Brasão da Ordem Dinástica de São Nuno de Santa Maria 

D. Nuno Alvares Pereira (São Nuno de Santa Maria), quando ainda adolescente leu num livro esta novidade de colocar as tropas em posição de quadrado, e aplicou-a pela primeira vez na Batalha dos Atoleiros; onde segundo narrativa dos acontecimentos, inexplicavelmente não perdeu um único homem.

Numa reflexão profunda, hoje questionamo-nos se todo este sacrifício de ambos os lados terá valido a pena?, certamente que sim, porque a história dá-nos a sua melhor parte que é a lição que só serve, a quem não repete o erro.

Na verdade Portugal, ficou definitivamente sob o protecionismo inglês e não só; o ultimato de 1890 e posteriormente a tomada de Goa pela Índia em 1959, onde a Inglaterra não levantou uma palha do chão para nos defender, mostrou que nada serviu aos portugueses serem subservientes dos ingleses; e, enquanto eles continuam um grande Império Portugal está reduzido a 89.000 quilómetros quadrados, e ao país mais pobre e subdesenvolvido da Europa.

OBS: À memória de todos aqueles que deram generosamente as suas vidas naquele longínquo dia 14 de agosto de 1385 faz hoje 638 anos; e a meu avô paterno nascido em Aljubarrota em 1890, o ano do ultimato inglês.

 

J. Vitorino –Diretor

Cavaleiro da Ordem Dinástica São Nuno de Santa Maria

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