Oblivionis memoria Advocatus, por Pedro Carrilho Rocha

Oblivionis memoria Advocatus, por Pedro Carrilho Rocha

Ó Advogado esquecido das memórias dos teus avós.

Onde está a defensa de Princípios e de toda uma Profissão?  Será que lutar nada mais é do que um bradar aos céus num deserto estéril e inóspito?

Ó Oblivionis memoria Advocatus – importante será alguém bradar aos céus mesmo que em desertos inóspitos e estéreis, na esperança que as palavras sejam levadas pelo vento, até ouvidos e corações acolhedores e que faces se empalideçam de vergonha pelos actos cometidos.

O que seria da Justiça e dos Advogados de hoje se outros se tiverem calado?

Recordo sempre com elevada reverência, o ilustre Dr Manuel João da Palma Carlos em 23.04.1957, o qual foi preso em pleno tribunal por responder nos seguintes termos:

“Julguem Vossas Excelências como quiserem, com ou sem prova, mas o que não podem é deixar de consignar em acta tudo quanto na audiência se passar”.

Não foi caso único, outros Advogados se levantaram e insurgiram, nomes como Francisco Salgado Zenha, Caldeira Marques, entre outros.

Estes são mais do que meros nomes constantes em placas e fotografias, são referências gravadas na História e nos anais do Direito e exemplos a seguir.

Mas estes bravos bradiam a sua voz em salas, mesmo sendo preenchidas e pautadas de ouvidos lacrados e de corações negros.

Durante anos, sozinhos, e ingloriamente isolados, bradaram aos céus por Justiça…contudo, no fim, perseveraram, venceram e com isso mudaram, mentes e mundos, vidas e a sociedade em que vivemos hoje, em muito devemos a eles.

Quantas voltas dariam no seu eterno descanso, olhando hoje para a quase inacção de tão nobre profissão…perante ataques cerrado contra si movidos, como a LAPP (Lei da Associações Públicas Profissionais), ou da diminuição dos actos próprios  .

A justificação não pode ser o vulgo  passar dos tempos, ou a evolução da sociedade, ou mesmo do Direito e da Justiça,

Contudo, durante estas mutações, o espírito de Ordem, o espiritus Advocatus, o Potestas perdeu-se algures em terras de ninguém.

A Advocacia necessita de se reencontrar, de aceitar inerentes diferenças internas, de conciliar-se consigo própria e reaproximar-se dos seus membros, que paulatinamente se foram afastando.

De tão nobre profissão, de indumentária orgulhosamente trajada, mais do que a oratória e retórica na língua e na mente exercida qual esgrimista exímio..

Ó Advocatus, nesta hora de clamor e de incertezas, uni-vos de corpo, alma e mente, e de bravura no bravo, levantai-vos em uníssono contra o que te querem impor.

Numquam Oblivionis memoria Advocatus (nunca Advogados esquecidos da memória).

Pedro Carrilho Rocha – Advogado

 

Share