Um Sebastianismo Demagogo, por Pedro Carrilho Rocha
O sebastianismo foi uma crença ou movimento profético que surgiu em Portugal em fins do século XVI como consequência do desaparecimento do rei D. Sebastião na Batalha de Alcácer-Quibir, em 1578. Acreditava-se que D. Sebastião voltaria para salvar Portugal dos problemas desencadeados pelo seu desaparecimento.
Trata-se de um messianismo adaptado às condições lusas e à cultura de Portugal e traduz uma inconformidade com a situação política vigente e uma expectativa de salvação da nação, ainda que miraculosa, através do retorno de um morto ilustre.
Crença que se mesclou na génese e identidade nacional na incessante busca por um Messias, predestinado e ungido.
Transpondo está crença ou conceito, ou desejo nacional, para a contemporaneidade dos nossos dias, deparamo-nos com um perigoso e erróneo desígnio e aproveitamento do mesmo.
Supostos ou supostas líderes, por respeito à ideologia de gênero, que se alicerçam sempre nas mesmas estratégias e praticas, num Populismo, com a estatuição de uma divisão entre o Nós e o Eles, contrapondo sempre num apelo às “massas” ou “povo” face a uma distorcida comparação com outro grupo, denominado de elite, detentores de supostas mais valias ou de proveitos obtidos, dos proveitos ou ganhos, nada importa, que os mesmos sejam fruto ou não, subjaz somente o proveito do ter.
A forma ou o meio da distinção não releva, o que subjaz é como a máxima romana prega (…) dividir para conquistar ou reinar(…)”, cavar um divisionismo fosso profundo entre o Nós e o Eles, sob falsos e erróneos pretextos, valendo-se da impotência e insegurança alheia, colando estigmas.
De uma segunda forma complementar, aliam-se diligenciando e privilegiando uma Demagogia, como que se socorre de uma cola sintética, a qual que irá solidificar e compartimentalizar a massa dividida, emparedando-a através do seu claro interesse em manipular essa mesma massa, agradando-a, granjeando-a , prometendo alvíssaras, as quais, muito provavelmente nunca serão realizadas, mas constantemente postergadas, visando apenas à conquista, a manutenção e conservação das vantagens correlacionadas.
Tudo isto, valendo-se tais líderes, através de uma utilização de axiomas ideológicos, da utilização de argumentos apelativos, emocionais , irracionais, em vez de argumentos válidos, tudo para um proveito próprio, e para a incessante buscar do poder, da sua concretização e da sua manutenção, para si e dos seus patrícios.
Como meio de controle e manutenção do seu poder, face aos pares, os líderes brincam em jogos e urdem teias, e falsos elogios cuspidos, sobre vozes dissonantes, ou próprias discordantes, com a adoção de discursos vitimizadores.
Lançando sob estes um anátoma, os ónus dos fracassos dos seus actos, e a imputação de sabotagem das obras idealizadas, prometidas qual Éden , mas nunca passíveis de serem concretizáveis, com integral conhecimento disso mesmo.
Os líderes e as lideres, a tudo jogam as suas mãos, socorrem-se de um totalitarismo, vociferando a perseguição e demonização, dos que a eles se opõem, controlando os meios de comunicação e redes, impondo uma verdadeira censura a quem se lhes opõe, qual muro que cai em terra de ninguém, restringindo a liberdade e o direito de deter opinião contrária a qualquer um dos dogmas impostos.
Assim se calam e fenecem liberdades, direitos, vozes e associações, não com estrondos, gritos, impropérios, balas de canhão ou agressões, mas sim, com ensurdecedores e arrebatadores aplausos, onde votos apostos erroneamente em boletins.
E por fim a Hipocrisia, surge, imponente, e majestosa, sobre os louros da vitória, falsa e mentirosa, fingindo ter crenças, virtudes, ideias e sentimentos que na verdade não possui, e reiteradamente exigindo que os outros se comportem dentro de certos parâmetros de conduta moral que a própria extrapola e deixa de adotar.
Pare, escute e pense…atente em seu redor e aprecie a estranha e incomoda verossimilhança com a inusitada realidade.
Rogo assim, por melhores dias, por tempos advindos, por melhores dirigentes e responsáveis, em que uma meritocracia elucidada e verdadeira prevalecerá, sobre um Sebastianismo Demagogo.
Termino assim, com uma expressão latina cuja opulência de significado transborda para a realidade; para se ser mulher de César, não basta parece-lo, há que o ser (ao que acrescento), E SABER SÊ-LO.
Pedro Carrilho Rocha – Advogado
