O país que hoje somos, e aquilo que já fomos!..

A história de Portugal continua sustentada na diáspora lusitana espalhada pelo Mundo.

Na verdade, são os os nossos emigrantes que vão transmitindo ao exterior o país somos, quem foram os portugueses no passado, e a influência que tiveram na cultura de outros povos; e dar a face pelo Portugal atual, que é dos países mais pobres e subdesenvolvidos de toda a Europa.

Não obstante o terrível drama associado às migrações, de que os portugueses também têm sido protagonistas ao longo da sua longa história, existe um lado compensador; foram os nossos missionários que pela primeira vez levaram em nome de Portugal, a cultura ocidental e o Cristianismo a um Mundo ao tempo desconhecido.

Infante Dom Henrique – Estratega dos Descobrimentos

O nosso país possui hoje a mais elevada taxa de emigração de toda a União europeia; em 2021 já existiam 5 milhões de portugueses (um terço da população total) a viverem além-fronteiras, números que não incluem os descendentes de emigrantes, que optaram pela nacionalidade dos países de acolhimento dos seus progenitores.

De Lisboa a Ceuta, Goa e Malaca.

A pobreza tem sido a causa mãe dos grandes fluxos emigratórios, que têm penalizado severamente o nosso crescimento demográfico.

Esta tragédia começou com maior incidência logo a seguir ao regicídio e implantação da República em 1910; com efeitos devastadores no despovoamento do território, onde aldeias inteiras ficaram praticamente desertas.

As grandes vagas tiveram início nas décadas de 20, 60 e 70 do século XX, e mais recentemente de 2008 à presente data; sendo esta última, a mais severa na história da emigração portuguesa, com a fuga de licenciados que deixaram o país mais pobre e mais inculto.

Os anos que mais marcaram os portugueses, foram os coincidentes com os 14 anos de guerra no Ultramar, que mergulhou o país num caudal de sofrimento e pobreza; que como consequência levou naquela época à mais dramática fuga para a Europa, Brasil, EUA, Argentina e Venezuela, e que ficou tristemente conhecida como “O SALTO”.

A conquista de Ceuta em 1415 foi o “tiro de partida” para a grande aventura dos portugueses nos Mares e Oceanos; nos territórios conquistados, era necessário que fossem ocupados permanentemente para afirmar a sua posse mas nem sempre correu bem; Ceuta foi atribuída à Coroa espanhola pelo tratado de Lisboa em 1688,  e Malaca foi portuguesa durante 130 anos até ser conquistada pelos holandeses.

Tradicional Caravela Portuguesa

O descontentamento deu origem a uma dramática fuga do país, que começou a formar guetos um pouco por toda a Europa, com a cidade francesa de Pau a servir de rota estratégica, para seguirem depois rumo a Paris e Lyon entre outras cidades europeias.

Foram anos terríveis para os portugueses com centenas de milhares em fuga, que se foram agrupando em bidonvilles um pouco por toda a Europa, sendo o mais tristemente famoso o de “Champigny”; estimando-se que nos finais de década de 60, mais de 350.000 portugueses viviam “empilhados” em bairros de lata em condições inimagináveis, a viverem da caridade dos franceses e de instituições internacionais.

A interrupção do Estado Novo a 25 de abril de 1975, também não foi um mar de rosas para os nossos compatriotas que viviam no Ultramar português; em apenas 18 meses Portugal recebeu mais de um milhão, naquela que ficou conhecida como a maior fuga de África.

Brasão de Armas da Dinastia de Avis

Até 1980 a população portuguesa cresceu mais de 10 por cento com o regresso de 1.2 milhões pessoas; que apesar de todos os dramas de que se revestiu esta chegada massiva das ex-Colónias, a sua posterior integração foi considerada um sucesso pela imprensa internacional; como foi também a “ponte aérea e marítima de África”, porque não há a registar um único acidente.

Hoje pode-se dizer com toda a segurança, que Portugal deve à diáspora do seu povo espalhado por todo o Mundo, a riqueza do seu património linguístico; e a afirmação de todos os valores que nos diferencia como uma Nação acolhedora e pacífica, que tem a nossa representação em altos cargos mundiais e europeus; sendo também portuguesa a atual elite da emigração Mundial, com a mais alta taxa de emigrantes licenciados.

O drama da emigração continua a marcar os portuguese, com as nossas universidades a produzirem quase exclusivamente para os países ricos da Europa; colocando  Portugal no empobrecimento sem retorno, e no grupo dos três países mais pobres e subdesenvolvidos da União europeia.

Do Cabo da Boa Esperança, ao tristemente famoso Bidonville de Champigny

É difícil para os seus familiares verem os nossos jovens saírem das Universidades e Politécnicos e partirem de seguida; mas a emigração de hoje, já não é a mesma que chegou a Pau e a Champigny na décadas de 60/70; eles vão prestigiar o nosso país, espalhando pelo Mundo o melhor que temos, que é a riqueza da nossa língua e a ímpar cultura portuguesa.

Portugal está a empobrecer a um ritmo alarmante, em contraste alguns discursos inflamados de hipocrisia; sempre direcionados para consumo interno, porque em toda a Europa se sabe a dramática situação em que vive mais de um terço dos portugueses; e mesmo os que têm trabalho vivem em pobreza.

Uma situação que se vai refletir nas futuras gerações, que vão herdar da atual uma mão cheia de nada.

OBS: Ao meu avô paterno que deixou Aljubarrota no ano de 1919 rumo a Fall River Massachusetts USA, tendo falecido dois anos depois com 31 anos de idade, tinha o meu pai menos de um ano; e a todos os portugueses que continuam a ter que abandonar o seu país em busca de uma vida mais digna. 

J. Vitorino – Jornalista e Diretor 

Ex-emigrante no Reino Unido

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