A “cunha” é um atropelo à democracia, por J. Vitorino

A velha “cunha” em Portugal, está associada a um imenso caudal de listas de interesses políticos e empresariais, onde o cidadão comum também está longe de ser inocente; sendo o país que mais utiliza o conceito discriminatório de VIP, “Very Important Person” na expressão inglesa”.

A polémica em torno do caso das (meninas gêmeas) só continua a ser notícia, para alguém retirar dividendos políticos e não só, esquecendo que os portugueses querem soluções para os seus problemas, com medidas que resolvam a situação de pobreza em que se encontra mais de um terço da população.

É por isso que as listas VIP, e a velha Cunha de que ninguém assume as responsabilidades preferindo atribuir a subalternos as culpas, deixam os portugueses sem saber a quem vão pedir contas deste ataque aos direitos dos cidadãos, que ferem o “regime democrático”; e que em cada dia que passa vai perdendo mais a confiança dos eleitores, criando um vazio entre a classe política e o cidadão comum.

Os milhares de horas que os deputados têm perdido em comissões de inquérito com os casos como o acima referido, apenas se saldaram pela demissão voluntária de um ministro, que teve a honestidade e a coragem de o fazer; caso contrário teria continuado em funções, como está a acontecer com um secretário de Estado que devia ter-se demitido, pela sua intervenção no caso acima referido, mesmo que não seja sua a responsabilidade; como todos os portugueses já compreenderam, o Arquiteto-Mor deste caso está mais que identificado mas não se quer assumir.

Portugal é um país marcado por “listas de interesses”, onde com toda a certeza não é tido em conta o bem-estar dos portugueses; que se veem cada vez mais mergulhados na incerteza do seu futuro, em consequência da desonestidade daqueles, a quem o têm confiado o seu voto.

Foi a ganância e a ausência de escrúpulos de muitos, que Portugal atingiu o topo da “lista” dos países mais pobres de toda a Europa.

A praga dos “VIP”,  entrou em todos os setores da sociedade portuguesa, onde existe sempre uma lista que bloqueia o conceito da igualdade e da justiça, que são os “Pilares que norteiam” os valores base de uma democracia.

Com a crise económica que teve início há 15 anos, em que Portugal foi o único país que não a conseguiu debelar, dezenas de milhares conseguiram emprego sem mérito próprio; porque estavam associados a listas (“VIP (pedidos influentes”), deixando para trás concorrentes muito mais qualificados; embora que em alguns casos se compreenda, é um método condenável que não se enquadra no conceito de igualdade, a que todos os cidadãos devem estar sujeitos.

Em muitas das instituições, as práticas são ditadas por um conjunto de favorecimentos, que obedecem a trocas de privilégios, entre quadros e subalternos sob proteção; esta prática não é nova e empobrece o país, porque favorece quem não tem qualificação, em detrimento da competência.

O que está em causa terá que ser o ponto de partida para uma mudança, mas encontra pela frente um problema de difícil resolução; porque a questão VIP está na moda e é aceite como uma prática comum inofensiva, passando a ser desvalorizada e aceite por amizade ou conluio das partes; mas a realidade é bem diferente, porque nada tem a haver com prática democrática.

Sendo uma tremenda injustiça, que alguém suba de escalão à custa de alguém com mais mérito que ficou para trás, só porque não beneficiou das mesmas prerrogativas; é este um dos principais motivos que os mais qualificados, procurem os caminhos da emigração, em busca de trabalho mais bem remunerado, mas sobretudo do reconhecimento do seu valor profissional.

Recordo que um em cada três jovens portugueses dos 15 aos 35 anos de idade, deixaram o seu país desde 2008; dos quais 1.2 milhões eram licenciados.

A ambição e alguma ignorância, teve grande peso em todos aqueles que pouco lhes interessa a quem vão pisar para manter os seus privilégios; muitos destes ambiciosos, descendem de pais honestos e em muitos casos analfabetos; chegaram às cidades com uma mala de cartão, inscreveram-se em partidos, e “conseguiram” cursos académicos e fizeram fortuna; estes são os VIP’s de que pouca gente fala, porque simplesmente ignoram a realidade do que se passa.

Um país que não consegue dar igualdade de oportunidades aos seus cidadãos, e que não garante o acesso à justiça para todos independentemente dos meios que têm para a pagar, não vive numa verdadeira democracia, e será sempre pobre em todas as vertentes; lembro que os portugueses foram nos últimos 20 anos o povo que mais empobreceu e menos se desenvolveu, em toda a União Europeia.

 OBS: Às crianças e jovens de Portugal, a quem a atual geração vai deixar uma mão cheia de nada; é a eles, que dedico este meu Artigo.

J. Vitorino – Jornalista – Diretor do Vila de Rei

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