Homens do Leme, por Pedro Carrilho Rocha
Em pleno período de campanha eleitoral, ou de reflexão noutros contextos, torna-se imperioso meditar, sobre a liderança e o modo ou modelo de como se lidera.
No decurso da presente semana, detive um confronto ou constatação com duas realidades em meu redor claramente antagonistas, no que concerne ao Homem, à liderança e equipa.
Constatei como um homem, colheu os frutos da sua vida, no exercício da sua actividade enquanto responsável social, pode influenciar a vida de milhares, no distrito de Coimbra e de Viseu, bem como de todos os pontos do pais, no seu final, esses milhares, acompanharam-no para se despedir do Homem, não do cargo que ocupou, mas do homem obreiro.
Os homens, em sua essência, não se limitam aos títulos e cargos que ocupam na sociedade.
Os cargos que assumimos são reflexos das nossas habilidades, experiências e escolhas de vida.
O verdadeiro valor de um indivíduo não está ancorado em sua posição hierárquica, mas sim na forma como ele molda e utiliza esses cargos para impactar o mundo ao seu redor.
Num mundo muitas vezes obcecado por status e prestígio, é fácil perder de vista a distinção entre o homem e o cargo, se é verdade que os Cargos podem proporcionar poder, influência e reconhecimento, mas são as ações e decisões dos indivíduos que moldam a verdadeira substância de seu ser.
É crucial reconhecer que os cargos são instrumentos através dos quais os homens expressam suas habilidades e contribuem para a sociedade, ou pelo menos o deveria ser.
A sociedade muitas vezes instiga a associar o valor de um indivíduo ao seu status profissional, no entanto, essa perspectiva limitada negligencia a riqueza da experiência humana, a verdadeira grandeza de um homem não está no título que carrega, mas na maneira como ele utiliza suas habilidades para influenciar positivamente o ambiente ao seu redor, e a vida dos seus dependentes.
É uma verdade inabalável de que um líder pode inspirar, um mentor pode guiar, e um colaborador pode contribuir significativamente, independentemente do nível hierárquico que ocupam.
Além disso, é importante compreender e nunca esquecer que os cargos são efêmeros.
Mas Líderes que focam exclusivamente em seus próprios intentos muitas vezes conduzem equipes e organizações para resultados desfavoráveis. Quando a liderança é motivada pelo benefício pessoal em detrimento do bem-estar coletivo, surgem sérias consequências.
Um livro que aborda a ascensão de um demagogo que persegue apenas o seu próprio bem-estar é “O Advogado do Diabo” (The Devil’s Advocate) de Morris L. West.
Neste romance, o autor explora a história de um personagem chamado Guido Harari, um carismático demagogo que busca o poder político sem consideração pelos interesses coletivos, onde Harari utiliza habilidades retóricas e manipulação para alcançar suas ambições pessoais.
O livro oferece uma reflexão sobre os perigos de líderes que buscam o poder exclusivamente para seu próprio benefício, negligenciando as consequências para a sociedade.
Ou 1984″ de George Orwell, onde a liderança é exercida pelo Partido, cujo líder supremo é representado pelo simbólico Big Brother.
O Partido busca manter um controle totalitário sobre a sociedade e os seus pares, utilizando ferramentas como a manipulação da informação, a reescrita da história e uma vigilância extrema. A liderança é caracterizada por uma autoridade implacável, onde a obediência e a conformidade são exigidas.
Ao direcionar todos os esforços para alcançar objetivos individuais, os líderes negligenciam a importância de uma visão compartilhada e de uma colaboração eficaz. Isso resulta em um ambiente onde a confiança é minada, a comunicação é prejudicada e a moral da equipe é comprometida.
Líderes egoístas tendem a adotar estratégias que favorecem suas ambições pessoais, muitas vezes às custas da sustentabilidade e do crescimento a longo prazo da organização.
A tomada de decisões centrada apenas nos próprios interesses pode levar a escolhas imprudentes e, eventualmente, ao declínio do desempenho organizacional.
A falta de empatia por parte desses líderes pode criar um ambiente de trabalho tóxico, onde os membros da equipe se sentem desvalorizados e desmotivados.
A ausência de uma liderança orientada para o coletivo pode minar o comprometimento da equipe, reduzindo a eficiência e a inovação. Além disso, líderes focados em seus próprios intentos muitas vezes negligenciam o desenvolvimento e a capacitação de seus colaboradores.
A promoção de uma cultura de aprendizado e crescimento é frequentemente sacrificada em prol da busca por vantagens pessoais imediatas.
A reputação de uma organização também é prejudicada quando seus líderes são percebidos como centrados em si mesmos.
A confiança dos stakeholders, incluindo funcionários, clientes e parceiros comerciais, é abalada quando a liderança é vista como mais interessada em benefícios pessoais do que no bem comum.
Para reverter essa situação, é fundamental que os líderes reconheçam a importância de uma abordagem mais equitativa e orientada para o coletivo.
Investir no desenvolvimento da equipe, promover a transparência nas decisões e priorizar os interesses da organização sobre os individuais são passos cruciais para construir uma liderança eficaz e sustentável.
Uma liderança verdadeiramente eficaz é aquela que equilibra o alcance de metas individuais com a promoção do bem-estar coletivo, construindo assim uma base sólida para o sucesso duradouro.
O reconhecimento mútuo e o cultivo do espírito de grupo são fundamentais para o florescimento de uma comunidade coesa. Quando indivíduos valorizam e reconhecem as contribuições uns dos outros, cria-se um ambiente propício para o crescimento conjunto.
A união fortalece os laços, promovendo a colaboração e a superação de desafios. O espírito de grupo transcende as diferenças individuais, gerando sinergia e uma sensação de pertencimento.
Ao reconhecer e celebrar as habilidades e conquistas de cada membro, construímos uma base sólida para o sucesso coletivo, onde o todo é verdadeiramente maior que a soma das partes.
O reconhecimento e a união tornam-se pilares essenciais para o sucesso de qualquer grupo. A habilidade de reconhecer as contribuições individuais é o alicerce de um espírito de grupo robusto, enquanto uma liderança eficaz guia o caminho para a sinergia coletiva.
O reconhecimento é a moeda emocional que alimenta a motivação e a autoestima dentro de um grupo. Cada indivíduo traz consigo uma bagagem única de habilidades, experiências e perspetivas.
Ao reconhecer e valorizar essas diferenças, criamos um ambiente inclusivo que estimula a expressão autêntica e o engajamento. O simples ato de reconhecer o esforço de um colega ou a realização de uma meta pode ter um impacto profundo
Esse reconhecimento não deve ser limitado a conquistas extraordinárias; valorizar as contribuições diárias e o empenho contínuo é igualmente crucial.
Ao fazê-lo, cultivamos um ambiente em que todos se sentem vistos e apreciados, fortalecendo a coesão do grupo. Um líder que promove uma cultura de reconhecimento estabelece as bases para um espírito de grupo vibrante.
A união, por sua vez, é o resultado natural do reconhecimento mútuo.
Quando os membros de um grupo sentem-se valorizados e respeitados, surge uma sinergia que transcende as barreiras individuais. A união é a cola que mantém um grupo coeso diante das adversidades.
Em tempos de desafios, a solidariedade entre os membros fortalece a capacidade do grupo de enfrentar obstáculos e encontrar soluções inovadoras.
Essa união não surge apenas da ausência de conflitos, mas da capacidade de gerenciá-los de forma construtiva. Um líder hábil compreende que divergências são inevitáveis e as encara como oportunidades para o crescimento.
Ao canalizar as diferenças para o benefício do grupo, a liderança contribui para o fortalecimento da coesão e a promoção de um espírito de grupo resiliente.
“Et pluribus unum” não é somente um lema futebolístico ou clubístico, é um conceito de união, cooperação e de grupo.
O espírito de grupo, por sua vez, é a essência que impulsiona a colaboração e a busca por objetivos compartilhados. É o sentimento coletivo de pertencimento, propósito e camaradagem que transforma um grupo de indivíduos em uma equipe coesa.
A liderança desempenha um papel crucial na promoção e sustentação do espírito de grupo.
Um líder eficaz não apenas inspira, mas também cria um ambiente onde cada membro se sinta capacitado a contribuir plenamente. A comunicação transparente, o estabelecimento claro de metas e o estímulo à autonomia são práticas que fortalecem a coesão do grupo.
Então o reconhecimento, união, espírito de grupo e liderança formam um ciclo interdependente.
O reconhecimento alimenta a união, a união nutre o espírito de grupo, e uma liderança consciente sustenta esse ciclo virtuoso.
Em conjunto, esses elementos criam um ambiente propício para a inovação, a resiliência e a consecução de metas comuns.
É na interseção desses elementos que a verdadeira força de um grupo é revelada, construindo não apenas equipes eficazes, mas verdeiras comunidades coesas prontas para enfrentar os desafios do futuro.
Que Homens queremos ao “leme” das instituições que nos regem? E o que move esses Homens?
Dr. Pedro Carrilho Rocha – Advogado