As paredes do silêncio, por J. Vitorino
Arrancados à força dos lares de terceira idade pelos familiares mais próximos, com o intuito de lhes sugarem as reformas, os nossos idosos vivem no término das suas vidas um drama inimaginável.
Todo este sofrimento passa ao lado da nova sociedade em que vivemos, porque as vítimas não se queixam; e apesar de tudo o amor que têm aos seus, ainda é superior ao que estão sujeitos por familiares sem escrúpulos; que apenas têm um objetivo, que é viver à custa das suas miseráveis reformas.
A crise em que Portugal mergulhou nos últimos anos veio agravar exponencialmente, aquele que é o maior drama português dos tempos recentes.
Vítimas de maus tratos psicológicos e agressões físicas, perpetradas muitas vezes pelos familiares mais próximos, viram-se obrigados a entregar-lhes as suas reformas, que na sua grande maioria nem cobrem o salário mínimo, a lares de terceira idade; alguns são clandestinos e sem escrúpulos, que os tratam como se fossem gado.
Os filhos e netos para além de não contribuírem, para os manter com um pouco de dignidade noutros locais mais decentes, nem sequer os vão visitar; sendo que muitos deles que ali dão entrada, nunca mais vêm os seus familiares.
Os atuais meios tecnológicos colocados à disposição dos jovens, afastam-nos do ambiente familiar; levando a que muitos deles não tenham qualquer afeto pelos mais próximos, muito em particular os seus avós.
As dificuldades económicas dos familiares leva-os a juntarem-se a grupos, que em nada irá melhorar o seu comportamento; esta situação comportamental, começou há 25 anos atrás; período em que os pais lhes davam tudo o que podiam, muitas vezes através do endividamento, o que levou a que muitos dos nossos jovens, nunca tenham criado verdadeiras raízes familiares; sendo esta a razão para que alguns, tratam os pais e avós abaixo de lixo.
Sem qualquer sentimento de afeto, apenas querem deitar a mão às suas miseráveis reformas; por isso retiraram-nos dos lares de terceira idade, para que eles lhes ajudem a cuidar dos filhos, e alimentar os vícios que não têm coragem de suprimir.
Existe uma minoria a quem devo uma ressalva; são aqueles que recentemente perderam os seus empregos e não podem pagar os empréstimos que contraíram, para dar condições de estabilidade à família de quem nunca se afastaram; e estavam a ajudar a pagar os lares aos seus pais e avós, a que juntavam às suas reformas.
Nestes casos; os pais voltaram dos lares voluntariamente a casa para cuidar dos netos; e com o valor das pequenas reformas, assegurar a sustentabilidade da família.
Todos nós gostávamos de ir o mais longe possível nas nossas curtíssimas vidas; é por isso que o comportamento de alguns familiares próximos não faz qualquer sentido; com toda a certeza de que as suas condutas, vão ter o devido retorno.
É que os filhos vão certamente ter conhecimento do que os seus pais fizeram aos seus avós; e alguns vão devolver-lhes a moeda de troca, outros a providência se encarregará de o fazer, possivelmente a dobrar.
O exposto não retira a responsabilidade a quem governa o país, desta terrível situação em que vivem os nossos idosos; porque têm sido os mais insensíveis de que há memória em Portugal; o que em grande parte contribuíram, para a inaceitável situação que se passa com os nossos idosos.
Muitos portugueses foram apanhados na teia do endividamento, e incentivados a contrair as dívidas por aqueles, que agora não lhes dão as condições para as poderem pagar; lançando o país num caos social nunca visto, numa democracia a que todos chamam de evoluída e justa.
Portugal não pode tratar os seus idosos como se de uma menos valia se tratasse; eles já deram tudo para tão pouco receberem; é que este comportamento vai repercutir-se nas gerações futuras, e terá um efeito devastador na nossa sociedade.
J. Vitorino – Jornalista – Diretor