Realização ou Ilusão?, por Pedro C. Rocha
“Ninguém pode achar que falhou a sua missão neste mundo se aliviou o fardo de outra pessoa ” – Charles Dickens – nasceu em 1812, a 7 de Fevereiro, o célebre escritor inglês autor desta citação, cujo significado me tocou profundamente o meu ser.
A par desta citação, confrontei-me com outro momento tocante.
No decurso desta semana, deparei-me com uma fotografia de infância no Facebook a preto e branco.
Nela constavam, todos sentados num largo sofá, Francisco Freitas do Amaral, Sá Carneiro, Mário Soares e Álvaro Cunhal.
Olhei com especial reverência. Parei, pensei, refleti e interroguei-me: porque já não há Homens assim, hoje, na Sociedade Portuguesa?
Assumir um cargo ou posição de destaque é mais do que simplesmente alcançar metas pessoais e/ou acumular conquistas individuais.
Trata-se de liderar com empatia, inspirar com exemplos e trabalhar em prol do bem comum. Ao priorizar a realização coletiva sobre a pessoal, não apenas se fortalece o espírito de equipa, como se promove um ambiente de trabalho mais colaborativo, alicerçando bases sólidas para o sucesso sustentável a longo prazo.
Líderes como Nelson Mandela e Mahatma Gandhi, demonstraram como a liderança baseada em valores como empatia, justiça e inclusão pode inspirar grandes movimentos de mudança social e transformação positiva.
Antes de mergulharmos na discussão sobre a priorização do coletivo sobre o individual, é fundamental compreender a essência da liderança.
Liderar não é apenas ocupar um cargo de autoridade, mas sim inspirar, orientar e capacitar os membros da equipa a alcançarem seu máximo potencial.
Um líder eficaz é aquele que não busca a glória pessoal, mas sim o progresso e o sucesso de todos os envolvidos.
Ao assumir um cargo ou posição de destaque, é usual que surjam anseios por reconhecimento pessoal e conquistas individuais.
No entanto, quando a busca pela realização pessoal se torna o principal foco, podem surgir uma série de desafios e consequências negativas. Entre eles estão a falta de colaboração, o enfraquecimento do espírito de equipa e a incapacidade de alcançar resultados verdadeiramente significativos e duradouros.
Ao priorizar a realização em prol de todos, abrem-se portas para uma série de benefícios tanto para o líder quanto para a equipa. A colaboração é fortalecida, a motivação é ampliada e os resultados tornam-se mais relevantes, visíveis positivamente, do ponto de vista do observador, expressivos e impactantes.
Quando nos encontramos numa posição de poder, seja na esfera profissional, política ou social, somos confrontados com a oportunidade e a responsabilidade únicas, de fazer mudanças significativas, de agir em busca e benefício de todos. No entanto, é fácil cair na tentação de buscar apenas a realização pessoal, deixando de lado o bem-estar coletivo.
O poder tem o potencial de envaidecer e conduzir à busca de um progresso e sucesso individuais, perdendo-se essência, o valor.
Quando a concentração se direciona, exclusivamente em alcançar metas pessoais e satisfação de interesses próprios, corre-se o risco de negligenciar as necessidades e preocupações dos outros, o que origina divisões, desigualdades e injustiças que minam o tecido social e impedem o progresso coletivo.
Para resistir à tentação da realização pessoal e usar o poder para promover mudanças positivas, é fundamental cultivar a empatia e a compaixão. Isso envolve colocar-se no lugar dos outros, compreender suas dificuldades e lutas, agir de maneira a promover o bem-estar de todos.
Ao adotar-se uma perspetiva mais ampla e inclusiva, podemos identificar oportunidades de mudança que tragam benefícios tangíveis para toda a comunidade.
A verdadeira liderança reside na capacidade de inspirar e mobilizar os outros em prol de uma causa maior do que nós mesmos. Ao assumir uma abordagem orientada pelo bem comum, é possível usar o poder e influência para promover mudanças que beneficiem a todos, não apenas alguns poucos privilegiados. Isso requer coragem, integridade e um compromisso inabalável com a justiça e a igualdade.
E o autor? Poderão inquirir? O que fez até hoje em prol do próximo ou de todos?
A resposta é simples. Poderei ter feito eu, no mundo, um pouco ou nada, mas poderia partir hoje em paz, sabendo que salvei um homem de ser deportado para o Togo, e evitar que o mesmo fosse fuzilado, por ser líder da Oposição. Por isso creio eu, que tenho a legitimidade para inquirir.
O que é mais importante: a fotografia, o jantar do croquete, ou a ação do indivíduo?
É possível efetuar a escolha entre bem coletivo ou bem/objetivo pessoal?
DR. Pedro Carrilho Rocha – Advogado