Agricultura e Pescas por quem os sinos dobram, por J. Vitorino
É urgente que o próximo governo dê especial atenção, a estas duas áreas de excepcional importância para a auto suficiência alimentar dos portugueses.
Muito pouco se tem feito para que o nosso país possa sair da situação de paralisia nestes dois importantes setores que são a agricultura e as pescas, para que Portugal se torne menos dependente do exterior, e as populações sejam beneficiadas não só na qualidade como também nos custos.
Nos dois Concelhos que me são mais familiares, o Cadaval onde fixei residência e o Bombarral de onde sou natural, nota-se de ano para ano a metamorfose dos terrenos agrícolas, em que vastas áreas anteriormente produtivas, foram abandonadas por falta de meios para dar continuidade à sua exploração.
É de louvar alguma teimosia de agricultores com avançada idade, que tentam inverter esta tragédia nacional que terá terríveis repercussões no futuro, em especial nas classes mais carenciadas.
Alguns dos meus vizinhos agricultores queixam-se da falta de meios, e dizem que foram abandonados por quem os deveria ajudar; as suas magras reformas logo que recebidas, vão direitinhas para os produtos indispensáveis para a atividade como sejam os pesticidas, os adubos e os combustíveis; além de enfrentarem grandes dificuldades na recuperação da maquinaria antiquada, porque não têm condições económicas para adquirir material novo.
Quem conhece como eu estas zonas a uma distância de 70 quilómetros de Lisboa, receia que mais de 250 km quadrados dos dois Concelhos, venham a constituir a maior reserva de caça selvagem às portas da Capital do país.
Os ministérios da tutela sabem dos graves problemas nesta zona do Oeste; porque diga-se, até está bem servida de meios de comunicação; o Bombarral pela A8 e linha férrea, e o Cadaval pelas autoestradas A8 e A1.
Os Tribunais fecharam, obrigando a deslocação a Torres Vedras e Caldas da Rainha de pessoas com fracos recursos; se dermos uma volta por zonas urbanas, constatamos que para além do centro e junto aos passos dos Concelhos destas duas Vilas do Oeste, mais de um terço do parque habitacional encontra-se em ruínas ou a necessitar de cuidados; tornando-se uma miragem que alguma vez a sua recuperação seja possível, tal o estado caótico em que se encontram.
É uma zona com grandes quintas de produção de vinho e pera rocha, onde uma destas propriedades chegou a produzir 4 mil toneladas deste fruto; e uma só Adega a da Vermelha, nos anos de grande produtividade chegou a recolher num só ano 33 milhões de litros de vinho; nos últimos anos, a produção baixou para entre os cinco e sete milhões.
Esta zona do Oeste, é um manancial de riqueza inexplorada nas áreas do turismo; mas precisa de muito mais dinamismo neste setor, ao qual dediquei quase 40 anos no Reino Unido e em Portugal; cabendo às autarquias reverter a situação de pobreza em que vive muita da população no Cadaval e Bombarral em menor grau, que correm o risco de desertificação; não obstante estarem situados na proximidade de polos em grande desenvolvimento, como é o caso de Caldas da Rainha, Óbidos, Peniche e Lourinhã.
Quem conhece os problemas da agricultura local, sabe que pouco se pode fazer se não existir empenhamento não só do poder local, mas acima de tudo do governo central que como se sabe, nada tem feito para minimizar aquilo que é dado como certo e que acima referi, que é o abandono total da agricultura em Portugal.
O mesmo acontece na proximidade de Lisboa as pescas em Peniche, São Martinho do Porto e Nazaré, que são os portos pesqueiros mais próximos destes dois Concelhos; os pescadores não têm meios para pescar quantidades em que a população venha a beneficiar do preço, e limitam-se a pescar o suficiente para sobreviverem; não faz sentido que o custo de um quilo de sardinha ronde entre os 8 e 10 euros por quilo; é preciso não esquecer que 50% da sardinha é desperdício, tornando este popular alimento para os portugueses e turistas ao preço do bife de lombo; levando a que 70% dos portugueses não lhe tenham acesso mesmo sendo Portugal o país com a maior “fatia” de mar da União Europeia.
O desânimo instalou-se estre estas duas atividades; tendo um terrível reflexo nos mais jovens, que logo que saem das Universidades e Politécnicos, fazem as malas e emigram; criando um vazio no parque habitacional que fica condenado ao abandono; não merecendo a pena a sua recuperação, porque jamais alguém o habitará.
J. Vitorino – Jornalista – Diretor