
A Falta de Memória, por J. Vitorino
A falta de exercício mental por uso excessivo da máquina, poderá a curto prazo conduzir-nos à estagnação; na base do fenómeno está o uso das tecnologias de ponta, que estão a compelir os humanos para a perda da memória.
Uma realidade que já se está a refletir negativamente nas relações sociais, e mais concretamente nas famílias e grupos.
Por exemplo; a matemática conhecida no passado como um desafio que requeria um grande esforço mental, deixou a tarefa para a calculadora que numa fração de segundo resolve uma equação, que no passado levaria dias ou meses aos mais brilhantes matemáticos.
O entorpecimento cerebral por falta de exercício, tem sérias consequências no comportamento humano e no relacionamento social, onde a aprendizagem escolar depressa é esquecida; sendo a memória visual e as recordações de infância muito afetadas, onde os laços e afetos da família, que foram a pedra basilar da sociedade, a serem os mais penalizados
A memória é uma importante herança genética, mas há indícios de que estamos lentamente a afastar-nos dela.
Um professor de matemática com vários anos de ensino, nota que de ano para ano os seus alunos têm cada vez mais dificuldades no enquadramento desta disciplina, que é de longe a rainha de todas as outras.
A perda de memória também se reflete nos povos e nas Nações; e alguns de nós um pouco mais atentos, apercebemo-nos desta realidade.
A perda de memória tem atingido muitos dos líderes mundiais que a deveriam ter mais viva; a exemplo, têm andado distraídos com este fenómeno, que os está a bloquear de acontecimentos de um passado relativamente recente; e isso foi constatado há pouco tempo com a falta de solidariedade para com aqueles, que foram marcados pela fatalidade de terem nascido em países, onde os direitos humanos e as perspectivas de um futuro digno, são praticamente inexistentes.
A falta de memória está a acontecer em países que durante anos, foram uma referência para os direitos humanos.
Mais de 90 por cento dos atuais líderes mundiais não nasceu no meio de uma guerra; mas com toda a certeza que sabem a história dos seus países.
Por exemplo; o parlamento europeu só pode estar a ser vítima de uma grande falta de memória, porque muitos dos seus deputados esqueceram a lição que o passado lhes deu.
A história repete-se com uma subtileza que nem nos apercebemos; e quando damos pelos erros que cometemos, já será tarde de mais.
J. Vitorino – Jornalista – Diretor
