A Superioridade da Minha Opinião, por Pedro C. Rocha

O mundo atualmente inclina-se para o altar da democracia, como se fosse a divindade suprema da sociedade. Acredito piamente, que a voz de todos deve ser ouvida e respeitada, que cada indivíduo possui uma opinião válida e que todas elas devem ser consideradas de igual forma.

A democracia, enquanto sistema político, é um sistema que valoriza a diversidade de perspectivas e da participação igual de todos os cidadãos no processo decisório.

Porém, a mera participação dos cidadãos, não pode garantir a qualidade ou a validade das opiniões expressas. É aqui que entra a errónea noção de que minha opinião pode ser melhor do que a tua, que granja nos presentes dias.

Acreditar na superioridade da própria opinião significa rejeitar automaticamente as opiniões dos outros, ao proceder e partir de uma falsa premissa, caindo assim no raciocínio falacioso de que algumas visões são mais bem fundamentadas, informadas e benéficas para a sociedade como um todo. Sé é verdade que é um reconhecimento da responsabilidade individual a busca do conhecimento, examinar criticamente as informações disponíveis e formar opiniões informadas.

Todavia, a crença na superioridade da opinião, tal não é, uma manifestação do compromisso com a verdade e a objetividade. Partindo do ponto basilar, de que nem todas as opiniões são igualmente verdadeiras ou baseadas em fatos sólidos, e de que há opiniões mais valiosas do que outras.

O espírito democrático não implica que devemos aceitar todas as opiniões como igualmente válidas sem questionamento. Pelo contrário, ele nos exorta a engajar-nos em debates construtivos e a buscar um entendimento mais profundo das questões em discussão.

Isso significa estar aberto ao diálogo, ouvir atentamente os argumentos dos outros e estar disposto a revisar nossas próprias opiniões à luz de novas evidências ou perspectivas.

Ao mesmo tempo, é importante reconhecer que a democracia não é apenas sobre a expressão individual de opiniões, mas também sobre a busca coletiva pelo bem comum. Em uma sociedade democrática saudável, as opiniões individuais são submetidas ao escrutínio público e ao debate aberto, e as decisões são tomadas com base no que é melhor para a maioria, com respeito pelos direitos e interesses das minorias.

A superioridade da opinião não está fundamentada em um sentido de superioridade pessoal, mas sim na convicção de que as opiniões devem ser avaliadas com base em critérios objetivos, como evidências, lógica e coerência. É uma afirmação do compromisso com a razão e a verdade, em oposição a uma retórica vazia ou de uma manipulação emocional, ou da mais profunda demagogia.

O verdadeiro espírito democrático não é uma questão de imposição da minha opinião sobre a tua, mas sim de reconhecer que todas as opiniões devem ser submetidas ao escrutínio crítico e ao debate público. É sobre encontrar um equilíbrio entre a liberdade de expressão e a responsabilidade de considerar o impacto de nossas palavras e ações sobre os outros.

Outro fator que contribui para a não aceitação da decisão de voto é a polarização crescente da sociedade. À medida que as divisões ideológicas se aprofundam e o diálogo se torna mais polarizado, é cada vez mais difícil para os cidadãos aceitarem os resultados eleitorais que vão contra suas convicções políticas. Em vez de buscar compromissos e soluções comuns, muitos optam por se retirar do processo político ou adotar uma postura de confronto e resistência

importante entender que, apesar de ser tentador rejeitar essas decisões como antidemocráticas, a verdadeira essência da democracia reside no respeito pelas escolhas individuais, independentemente de concordarmos ou não com elas.

Numa democracia genuína, cada indivíduo possui o direito sagrado de expressar sua vontade política através do voto. Este direito é protegido como uma das pedras angulares da liberdade individual e da autodeterminação. Portanto, qualquer tentativa de negar ou desconsiderar a decisão de voto de um cidadão equivale a minar os princípios democráticos fundamentais.

Ao não aceitar a decisão de voto de alguns cidadãos, estamos efetivamente questionando a legitimidade do processo democrático como um todo. Estamos sugerindo que apenas algumas vozes merecem ser ouvidas, enquanto outras devem ser silenciadas ou ignoradas. Isso é profundamente antidemocrático, pois subverte o princípio fundamental da igualdade de participação. É importante reconhecer que o descontentamento com os resultados das eleições é uma parte natural do processo democrático.

No entanto, é essencial canalizar esse descontentamento de maneira construtiva, através do engajamento cívico, da participação política e do diálogo aberto. Em vez de simplesmente rejeitar as decisões de voto de alguns cidadãos, devemos buscar entender as razões por trás delas e trabalhar para encontrar soluções que reflitam as necessidades e aspirações de toda a sociedade.

Em última análise, não aceitar a decisão de voto de alguns cidadãos é antidemocrático porque mina os princípios fundamentais da igualdade de participação e do respeito pelos direitos individuais. Devemos lembrar que a democracia é um processo contínuo e que cada um de nós tem a responsabilidade de contribuir para a sua preservação e fortalecimento. Ao respeitar as decisões de voto de todos os cidadãos, mesmo quando discordamos delas, estamos reafirmando o nosso compromisso com os valores democráticos e construindo um futuro mais justo e inclusivo para todos.

Todos enquanto cidadãos, temos direito a uma opinião expressa, mas quem determina que a opinião do outro é melhor do que a minha?

De onde se retira essa suposta superioridade de opinião? Pela existência real de uma superioridade, ou na realidade, pela incapacidade de aceitação de opinião alheia por natureza diferente ou distinta

Não é verdade, que mesmo os relógios avariados, estão certos duas vezes por dia? 

Dr. Pedro Carrilho Rocha – Advogado

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