A emigração é uma fonte de pobreza, por J. Vitorino
Os portugueses ocupam o primeiro lugar “per-capita” de cidadãos que vivem fora do seu país; são quase 1/3 da população que deixou Portugal nas três grandes vagas nos últimos 60 anos: 1960/74 motivada pela guerra no Ultramar; e 1974/1980 com incidência em muitos quadros empresariais, que foram obrigados a partir e que nos deixaram muito mais pobres.
Sendo a mais penalizadora a que teve início em 2008 até à presente data, com a saída de aproximadamente 1.200.000 licenciados; incluindo enfermeiros, médicos e engenheiros informáticos entre outros que hoje estariam na linha da frente, para ajudar na recuperação económica e reposição demográfica, onde em muitas aldeias e vilas no interior do país, existem 300 idosos por cada 100 jovens e crianças no seu conjunto.
Neste momento é portuguesa a elite da migração Mundial, com a percentagem de licenciados a ocupar este orgulhoso mas preocupante lugar, porque terá um efeito devastador na recuperação do país a todos os níveis.
Foram dezenas as vezes que escrevi sobre o drama da emigração; até porque, durante 10 anos 2012/2022, fui cronista no “Semanário Mundo Português”, para as nossas comunidades espalhadas pelo mundo.
A fuga de “cérebros” de Portugal para os países ricos da Europa estão a atingir proporções alarmantes; sendo urgente estancar esta “hemorragia” de gente altamente qualificada e com vontade de trabalhar, de quem se esperava um valioso contributo para nos levantarmos de novo.
A curto prazo a situação vai agravar-se, porque existe carência destes profissionais um pouco por todo o país; na sua esmagadora maioria foram formados com os dinheiros da dívida pública, que terá que ser paga por aqueles que necessitam dos seus serviços.
No entanto, esta a que se pode chamar uma tragédia que nos tem empobrecido, apresenta um lado compensador que nos deixa cair numa certa vaidade; a classe emigrante portuguesa é de longe a mais distinta de todas as outras; onde os novos emigrantes, e as duas gerações de descendentes do salto nas décadas de 60 e 70” são dos mais cultos de todos os portugueses de sempre, e encontram-se no topo a níveis de escolaridade médio-superior, que ultrapassa de longe a europeia e duplica a residente no país.
Esta elite da nova emigração a que se juntam os filhos de muitos dos que nos deixaram há mais de 40 anos, elevam o estatuto dos nossos emigrantes um pouco por toda a parte.
O motivo dos portugueses se afirmarem lá fora, e de internamente sermos o mais pobre de toda a União Europeia, tem as causas mais que identificadas; cabendo a culpa inteiramente aos portugueses, que vão deixando que os outros decidam pelo seu futuro e de seus filhos, ao não participarem ativamente nas decisões políticas do seu país, para darem legitimidade acrescida a quem o vai governar; o que rotula a nossa “democracia” como a menos participada e a mais inculta da Europa.
Mas o mais preocupante é a escolaridade média em Portugal que se situa muito atrás da média europeia, que ronda os 76% versus a portuguesa com apenas 43%; a mais baixa dos 28 países, com a agravante da nossa ser do mais baixo rendimento como é do conhecimento de todos; situação que se vai agravando exponencialmente, com a saída daqueles que a podiam melhorar.
Este desmoronar do nosso país tem os seus culpados, e todos nós sabemos que esses não saíram em busca de uma vida melhor porque já a têm aqui; numa alta percentagem, pertencem às elites políticas que nos últimos 22 anos transformaram Portugal numa enorme “fábrica de pobreza”.
Alguns dos responsáveis até podem afirmar que não contribuíram para o estado de calamidade em que nos encontramos, mas a verdade não é bem assim; porque sempre alimentaram as “suas hostes” no descontentamento, e porque sabem que no dia em que a pobreza for erradicada em Portugal, ditará o fim desses partidos ou grupos, que vivem há 50 anos ao sabor romântico da euforia revolucionária do 25 de abril.
O estado caótico em que se encontra os setores da agricultura e pescas em Portugal, é prova de que os últimos governos abandonaram à sua sorte estes que seriam o maior combate à pobreza, com grandes benefícios no custo da alimentação para a população mais pobre do país, que já ultrapassa os 50 por cento.
Os portugueses; certamente que ainda lhes resta alguma memória que vai ser necessária e determinante, nesta fase crucial que Portugal tem estado a atravessar.
Foram 22 anos consecutivos a empobrecer; muitos de nós já não lhes resta tempo para recuperar os anos de pobreza que têm vivido, mas valerá apena a mudança em benefício das próximas gerações, e das nossas crianças e jovens.
No discurso de tomada de posse hoje no Palácio da Ajuda, o primeiro-ministro Luís Montenegro fez referência à importância dos nossos emigrantes na recuperação do nosso país; e que tudo fará para que eles possam regressar quanto antes, para ajudar a reconstruir um Portugal justo e próspero para todos; será uma tarefa difícil mas não impossível, mas terá que contar com o empenho de todos; e nunca um (não é não), será o caminho para os trazer de volta.
Só em 2013 a avalanche de emigrantes portugueses ultrapassou os 120.000; o número que ao tempo Bruxelas estabeleceu como máximo, para os que procuraram refúgio nos 28 países da “união europeia”.
J. Vitorino – ex emigrante no Reino Unido