EDITORIAL: Uma nódoa na democracia, por Joaquim Vitorino

EDITORIAL: Uma nódoa na democracia, por Joaquim Vitorino

A exclusão Social escolar por motivos económicos, é inaceitável num (país dito democrático).    

Portugal está a chegar ao fim da  estrada; e os portugueses finalmente, começaram a despertar para essa realidade.

Regressámos aos anos das décadas de 60/70, com a desvantagem de que na Europa já ninguém nos faz companhia; é que, todos os outros países já saíram da letargia económica, e saltaram para economias sólidas e menos assimétricas que no nosso país, onde as classes média e baixa praticamente desapareceram, para dar lugar a um assustador crescimento da pobreza.

O orçamento de Estado para 2021, que não foi aprovado pelos “parceiros” à esquerda do PS, é incompreensivelmente miserabilista e deixa os portugueses com algumas dúvidas e uma certeza;  se os socialistas tivessem cedido às exigências dos parceiros no parlamento, tornaria cada vez mais a dependência dos cidadãos do próprio Estado; que assim o vai controlar até ao máximo, tornando o cidadão totalmente dependente de quem o explora.

Sendo este os caminhos que vão desaguar em sociedades coletivistas, completamente afastadas do pensamento da esmagadora maioria dos portugueses, desde a tentativa no “verão quente” de 1975, e que culminou com o 25 de novembro do mesmo ano.

Começando no acesso ao ensino superior público e à saúde, que são os dois pilares de uma democracia; Portugal está muito distante da porta da igualdade, e não pode justificar que não têm condições económicas, sem primeiro cortar com privilégios escandalosos; como são as subvenções vitalícias cumulativas com reformas já de si milionárias, o que torna o nosso país no mais desigual de toda a Europa.

A solução só tem disponível uma única via; que é o empenho de todas as partes envolvidas no combate à pobreza e exclusão por motivos económicos “dois males associados”, que colocam o ensino superior e os utentes do serviço nacional de saúde numa situação de desigualdade; desenquadrada da Constituição da República, que consagra o mesmo direito de todos os cidadãos; dois selos que nos marcam negativamente, sendo preciso sairmos deste atraso a todos os níveis em que nos encontramos.

A Educação em Portugal está no ponto mais baixo de sempre; o apoio do Estado ao ensino particular criou um fosso assimétrico entre ricos e pobres, e não resolveu uma questão de fundo; que para além de ter empobrecido o rendimento escolar dos alunos e a motivação de professores, provocou um grande desânimo em todo o país, deixando a descoberto as causas que as partes envolvidas não querem reconhecer como suas, mas que já foram identificadas.

As dramáticas condições socio económicas de 40% das famílias portuguesas, têm um reflexo determinante no insucesso escolar; muitos dos alunos transportam para as salas de aula o “selo” da exclusão social, estando à partida condenados ao fracasso; assumindo comportamentos que mexem com a autoestima dos professores, que ficam sensibilizados com situações que todos os dias são obrigados a enfrentar

O ensino, a saúde e a justiça são os três “espelhos” de uma verdadeira democracia; Portugal descuidou a resposta mais importante à recuperação económica, que é investir na educação dos seus cidadãos para depois poder exigir deles.

Os professores, médicos e enfermeiros sentem-se ofendidos, pelas deficientes condições de trabalho e salários a que estão sujeitos, e os estudantes estão desiludidos e sem perspectivas de futuro; muitos dizem aos progenitores não valer a pena estudar, porque só os espera o desemprego ou os tortuosos caminhos da emigração; como provam a (fuga de Portugal), de mais de um milhão de licenciados nos últimos 15 anos.

Uma desmotivação que exige do Estado uma resposta urgente e sem vacilações; que é relançar a economia do país em detrimento da austeridade, que é o veículo da estagnação económica; é que, uma economia miserabilista é porta aberta à pobreza continuada.

Os professores são uma classe essencial à recuperação do país, não os podemos hostilizar; muitos em situação desesperada, deixaram-se arrastar por alguns dirigentes da classe; que os levaram a tomadas de posições de litígio com a tutela, que acabaram por ter um efeito inverso ao fortalecer o ensino privado, que tem vindo a retirar força ao ensino público; o que veio a agravar a tensão entre a classe e os sucessivos governos; agravando ainda mais as condições de empregabilidade no setor, o que deu lugar à seleção e reciclagem de professores, para responder à fuga de “cérebros” para o ensino privado; uma estratégia politica que vem servindo os representantes da classe, mas não os interesses dos professores.

O objetivo teve um efeito completamente oposto, que foi alargar o ensino superior ao privado; que na atual crise do setor optam por contratar não direi os melhores, mas aqueles que para além de bem qualificados, afastaram-se de alguma demagogia sindical; preferindo o certo, pelo instável ensino público.

O ensino em Portugal tem sido um fracasso nos últimos anos; a alta tensão entre professores e a tutela não é o caminho certo para sairmos deste impasse, onde a taxa de abandono e insucesso é a mais elevada da Europa; é preciso dignificar o estatuto dos professores, e abrir a todos os alunos uma porta de oportunidades, e permanecerem no seu país para o aj udarem a recuperar a todos os níveis.

Não podemos esquecer que quando a escola falha é o país que está a falhar; sendo preciso o empenho de todos os portugueses a uma reforma inteligente no ensino público, que constitui o motor de arranque da economia de um país.

OBS: Ao meu avô paterno nascido em Aljubarrota no ano do ultimato inglês (11 de janeiro de 1890): Emigrou para os Estados Unidos em 1919, e morreu dois anos depois em Fall River Massachusetts, (tinha o meu pai 6 meses de idade).

Joaquim Vitorino – Jornalista – ex emigrante no Reino Unido 

 

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