Memórias de Portugal: Pedrógão Grande 7 anos depois.

A Floresta da Morte

O incêndio que em 2017 atingiu o centro do nosso país, desencadeou uma onda de solidariedade para com aqueles que foram atingidos pelo terrível acontecimento; e deixou marcas impressionantes, de como os portugueses sabem responder à ajuda quando são chamados para a prestar; aliás, é uma cultura enraizada na nossa sociedade e maneira de viver.

Em tempo recorde foram colocados à disposição de quem tinha a missão de a distribuir, comida, bebida e todos os meios de sobrevivência primários, para minimizar as trágicas consequências e efeitos do incêndio devastador, mundialmente conhecido como o (inferno de Pedrógão Grande).

Mas nem tudo correu bem como é do domínio público, pelas palavras dos principais responsáveis pelos ministérios da Administração Interna e da Agricultura e florestas, quando ambos dentro do contexto responderam   “não me demito”, mas que por dever de solidariedade para com as vítimas, o deveriam ter feito imediatamente.

Foi pena; porque ambos os ministérios estavam a fazer bom trabalho nas suas áreas de competência, e todos sabemos que as leis da floresta a serem aplicadas, precisam de uma geração (25 anos) para dar os seus frutos.

O funcionamento de comunicações (SIRESP) falhou, e a  rigorosa exigência no cumprimento das leis da floresta também, quanto a isto não existem dívidas; é por isso os portugueses, esperam que não volte a repetir-se a tragédia de Pedrógão Grande, que ceifou 64 vidas incluindo a de muitas crianças.

As causas subjacentes, ao alto risco de incêndios em Portugal.

Gonçalo Ribeiro Telles foi o paisagista mais influente da cultura florestal portuguesa contemporânea; e alguém o deveria ter escutado quando afirmou que em Portugal não existe floresta, e que da diversidade de espécies todos sabemos que o eucalipto é um presente envenenado de acendalhas, que com o vento são lançadas a longa distância, disse numa entrevista no verão de 2005.

A triste atualidade; obriga-nos a recuar 12 anos no tempo para recordarmos Ribeiro Teles que também disse, que muito brevemente Portugal seria um Estado sem floresta, porque esta seria completamente substituída por mato.

É urgente fazer um sério reordenamento do território; e não tenham ilusões de que nós não temos um país florestal, sendo um abuso dizer que está a arder uma floresta em Portugal, porque ela não existe disse.

Os portugueses vivem em comunhão com mato, onde a variedade biológica é quase inexistente; e que funciona como um autêntico barril de pólvora, como o que aconteceu há 7 anos em Pedrógão Grande, e em outros locais para os quem têm boa memória.

A exemplo; no momento em que estou a terminar este artigo, decorre um grande incêndio em Aljustrel.

Os efeitos devastadores no futuro para as regiões, provocados por incêndios como a tragédia de Pedrógão Grande são de tal dimensão que dificilmente os podemos contabilizar; porque atingem precisamente as zonas mais envelhecidas do nosso país, onde a população idosa é representada em número de 300, por cada 100 crianças e jovens no seu conjunto.

Numa situação de desertificação, aquela vasta aérea que eu conheço muito bem, será transformada em mato e caça selvagem, se não aplicada quanto antes politicas de repovoamento. 

Muitas das terras, pertencem a proprietários que vieram para a Cidade ou emigraram, perdendo a orientação da sua posse; outros nem sabem que são donos de grandes áreas de mato, sendo aqui a grande falha do Estado; que deve proceder à sua identificação, para que sejam notificados para assumirem a limpeza das suas propriedades; que na eventualidade de não terem posses para o fazer, estas terão que reverter para o Estado; que as terão que limpar com o dinheiro dos  contribuintes.

Atualmente através de GPS, é possível reproduzir os limites de uma propriedade com toda a precisão; para tal bastará consultar o Instituto Geográfico e Cadastral; que informa detalhadamente quais são os limites de uma propriedade.

É certo que os erros começaram no século XIX com plantação do pinheiro bravo, que existia apenas no litoral; e o país, que era um carvalhal compartimentado por culturas, passou a ter uma percentagem excessiva de pinheiro bravo.

Mais tarde, por volta de 1930 assistiu-se à arborização de milhares de hectares de baldios no Gerês, com pinheiros, cedros, faias e carvalhos-americanos entre outras espécies; que acabou por expulsar as comunidades de agropecuária do Norte.

Muitas das antigas produções podiam não ter grande peso na economia; mas contribuíam para a fixação de pessoas no local onde hoje existe um grande déficit de população, com vastas zonas transformadas em autêntico deserto.

O inferno de Pedrógão Grande não pode ser esquecido, e todos esperamos que nunca mais volte a acontecer; como afirmou o presidente Marcelo Rebelo de Sousa em 10 de Junho de 2024, cuja cerimónia foi decidida e muito bem, naquela bela região do Distrito de Castelo Branco.  

J. Vitorino – Jornalista – Diretor

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