Anjos na Libéria, por J. Vitorino

Anjos na Libéria, por J. Vitorino

“O “inferno subiu à Terra”

Foi um relato impressionante e dramático de uma médica sem fronteiras regressada da Libéria, que foi o país mais fortemente afetado com um violento surto de “EBOLA”; o que esta corajosa médica descreve, deixa qualquer humano completamente arrasado de emotividade.

Ana de Lemos, diz ter sido esta a sua pior experiência em todos os cenários incluindo os de guerra, em que prestou ajuda médica.

Dra. Ana de Lemos – MSF (Médicos sem Fronteiras)

O que viu no terreno é no mínimo aterrador, e coloca-nos perante uma duvidosa questão; se foi feito o possível para minimizar o sofrimento daqueles que foram “fulminados” pela terrível doença.

Ver morrer crianças separadas ou abandonadas pelos ente-queridos para não serem contagiados, sem lhes poder dar um último “abraço” é de partir o coração de quem nada pode fazer; um verdadeiro inferno na terra, poderá dizer-se sem o mínimo de exagero.

Quando foi dado o primeiro alerta deste “assassino humano ”,  a resposta está longe de ter sido imediata e eficaz; porque existiram grandes falhas e lacunas na sua prevenção, e uma enorme falta de sentido humanitário no combate a este feroz e mortífero “vírus”, só porque se tratava de um país pobre e africano.

Ainda na memória, a tragédia da Libéria envergonha o mundo Ocidental.

Só depois do surto ameaçar sair das fronteiras dos países contagiados e já com centenas de mortos, é que o Mundo despertou para a possibilidade de uma pandemia em larga escala.

Só então, é que começaram a tomar medidas mais direcionadas para proteger os seus países, do que para combater o surto na sua origem; onde poderiam ter sido salvas milhares de pessoas em especial crianças, que foram as que menos resistiram à mortal epidemia; onde aldeias inteiras foram isoladas e abandonadas à sua sorte e sem fuga possível, porque estavam cercadas por militares forçando a novos contágios.

Só faltou o envio de aviões com napalm para a limpeza total, como chegou a sugerir um deputado do partido republicano nos EUA.

Ana Lemos e tantos outros que generosamente arriscaram as suas vidas para ajudar os infelizes, vão ficar estigmatizados para o resto das suas vidas.

Os médicos sem fronteiras, são os meus heróis em tempo de paz; a quem humildemente aqui expresso a minha homenagem.

Esta nobre organização, está sempre pronta para ajudar o seu semelhante nos teatros de guerra, e em catástrofes ecológicas e epidémicas; eles são aqueles que eu classifico como “OS ANJOS NA TERRA.

Recentemente foi publicado um meu artigo “Anjos de Hiroshima” por Joaquim Vitorino, em que relato a chegada do Missionário Pedro Arrupe a Hiroshima, imediatamente a seguir à explosão da primeira bomba atómica naquela Cidade japonesa.

Este grande Homem com formação médica, que eu considero ter sido o Grande Missionário do Século XX, conta o que viu quando chegou com os seus noviços ao local, e que eu descrevo ao leitor os indescritíveis momentos vividos pelo grupo comandados por Pedro Arrupe.

A África é o nosso berço de nascimento; foi naquele continente que demos os primeiros paços, e a seguir povoamos todo o planeta terra; nunca algumas diferenças, podem constituir uma razão para não socorrermos quem precisa de ajuda, onde a pobreza jamais pode ser uma delas; porque não se enquadra na civilização Ocidental Cristã.

Neste caso em concreto a solidariedade não é um favor ao povo africano, é um dever dos países ricos e desenvolvidos que sustentam as suas economias, à custa das matérias primas importadas daquele continente; muitas delas pagas com comida e pouco mais, para os manter pobres e subservientes, onde não existem meios para cuidar a saúde pública.

É preciso erradicar de vez o ébola; bastaria menos de 1 euro em cada milhão gasto anualmente em armamento, seria este o melhor investimento e o que faria mais sentido.

A foto exposta no artigo foi tirada na Libéria, e confirma a descrição feita por Ana Lemos; a corajosa médica sem fronteiras, de que os portugueses se devem orgulhar.

OBS: Não foi fácil ao Autor escrever este “horror”, porque não pode esquecer o sofrimento de quem o viveu.

J. Vitorino – Jornalista – Diretor do Diário On Line Vila de Rei

 

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