Calimero – Um Sindrome Português, por Pedro C. Rocha

Calimero – Um Sindrome Português, por Pedro C. Rocha

Calimero é um pequeno pintinho preto com uma casca de ovo na cabeça, que se tornou famoso por sua aparência distintiva e seu comportamento frequentemente triste e melancólico, muitas vezes dizendo a frase “É uma injustiça, é o que é!”.

Que estranha coincidência detém esta personagem com o espírito fatalista português e a vitimização nacional são temas profundamente enraizados na cultura e na identidade de Portugal. Estes conceitos podem ser explorados a partir de diversas perspetivas, incluindo a história, a literatura, a sociologia e a psicologia cultural. Vamos abordar esses temas com uma visão abrangente e crítica.

O espírito fatalista português é muitas vezes associado ao conceito de “fado”, não apenas como um gênero musical, mas como uma filosofia de vida. A palavra “fado” deriva do latim “fatum”, que significa “destino”.

Esse sentimento de resignação perante o destino é um elemento central na identidade cultural portuguesa. Historicamente, esse fatalismo pode ser rastreado até os períodos de grande adversidade, como as invasões mouras, as guerras com a Espanha, os desastres naturais (como o terremoto de 1755 em Lisboa) e os longos anos de ditadura sob o regime de Salazar. Esses eventos moldaram uma sociedade que muitas vezes vê o sofrimento como uma parte inevitável da vida.

O fado, como gênero musical, é uma manifestação clara desse espírito fatalista. As letras das canções de fado frequentemente abordam temas de saudade, perda, amor não correspondido e fatalidade. O fado reflete uma aceitação melancólica do destino e uma contemplação sobre a inevitabilidade da dor e da tragédia.

A vitimização, por sua vez, refere-se a um sentimento coletivo de que a nação e o povo português são frequentemente injustiçados ou prejudicados por forças externas. Esse sentimento pode ser observado em discursos políticos, na mídia e nas conversas cotidianas. A vitimização está ligada ao conceito de “sebastianismo”, a crença de que um salvador, como o rei D. Sebastião, retornará para resgatar Portugal de suas dificuldades.

Essa percepção de vitimização pode levar a uma mentalidade de dependência, onde o progresso e a mudança são vistos como algo que deve vir de fora, em vez de ser alcançado através de esforços internos. Isso pode ser um impedimento ao desenvolvimento social e econômico, perpetuando um ciclo de pessimismo e inação.

É importante analisar criticamente como esses conceitos impactam a sociedade portuguesa contemporânea. O fatalismo e a vitimização podem servir como mecanismos de coping em tempos de dificuldade, mas também podem ser barreiras significativas para o progresso e a inovação.

Esses elementos culturais, embora muitas vezes vistos de forma negativa, também são parte da rica tapeçaria da identidade portuguesa. O reconhecimento dessas características pode levar a um maior entendimento e apreciação da complexidade da experiência portuguesa. Apesar do foco no fatalismo e na vitimização, a história de Portugal também é marcada por exemplos de superação e resiliência. A capacidade de enfrentar adversidades e de se reinventar é igualmente uma parte crucial da identidade nacional.

O espírito fatalista português e a vitimização são aspectos complexos e multifacetados da cultura portuguesa. Compreender esses conceitos requer uma abordagem que considere tanto os elementos históricos quanto as expressões culturais contemporâneas. Reconhecer esses aspectos é importantíssimo, pois para ultrapassar essa vitimização e fomentar um ambiente de progresso e inovação, é necessário adotar estratégias específicas e multidimensionais.

É necessário o Incentivar todos os elementos a questionar narrativas fatalistas e a desenvolver uma visão mais proativa e empreendedora, e formar cidadãos conscientes de seus direitos e deveres, capazes de participar ativamente na construção de um futuro melhor. Relembrar figuras históricas que contribuíram para o progresso do país e que podem servir de inspiração para as gerações futuras. O governo deve adotar políticas públicas que combatam a vitimização e promovam a autossuficiência:

E por últimos os meios de comunicação e os líderes de opinião devem adotar uma abordagem mais positiva e inspiradora: Promover histórias de sucesso e exemplos de superação na mídia, criando um ambiente de otimismo e possibilidades. Os líderes políticos e comunitários devem comunicar de forma a inspirar confiança e encorajar a ação coletiva para o bem comum.

Quer ser uma vítima, num ciclo continuo e perpétuo ou utilizar os acontecimentos nefastos e utilizar os mesmos para a sua superação? O mundo e a vida, está nas nossas mãos e olhos, tudo depende da perspectiva, não caindo na falácia da existência de “D. Sebastiões” camuflados com os nossos receios e medos…..

Dr. Pedro Carrilho Rocha – Advogado

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