“Terceira Idade” quem te acode, por J. Vitorino
Arrancados à força dos lares de terceira idade pelos familiares mais próximos, com o intuito de lhes sugarem as reformas, os nossos idosos vivem no término das suas vidas um drama inimaginável.
Este sofrimento dos nossos idosos, tem passado ao lado dos portugueses mais sensíveis porque eles não se queixam; e o amor que têm aos seus ainda é superior ao que estão sujeitos por familiares sem escrúpulos, que apenas querem viver à custa das suas miseráveis reformas.
A crise económica em que Portugal mergulhou há cerca de 15 anos de que ainda não recuperou, veio agravar aquele que é o maior drama português dos tempos recentes.
Vítimas de maus tratos psicológicos, e agressões físicas perpetradas por familiares mais próximos, são obrigados a entregar-lhes as suas reformas; que na esmagadora maioria nem sequem cobrem o salário mínimo nacional.
Outros são colocados pelos familiares em lares de terceira idade; alguns deles clandestinos, onde são tratados como se fossem gado.
Muitos dos filhos, para além de não contribuírem com um cêntimo nunca os vão visitar; muitos dos que ali dão entrada, raramente recebem visitas dos familiares e em muitos casos, nunca mais os vêem até ao resto das sua vidas.
Os meios tecnológicos colocados à disposição dos netos, afastam-nos do ambiente familiar; muitos destes jovens não têm qualquer afeto pelos mais próximos, e desconhecem o que se passa com os avós; e as dificuldades económicas dos familiares leva-os a juntarem-se a grupos, que em nada irá melhorar o seu comportamento futuro.
Esta situação com os nossos idosos começou há 25 anos atrás; período que os pais lhes davam tudo o que podiam muitas vezes através do endividamento, o que os levou a nunca criaram verdadeiras raízes familiares, por isso alguns tratam os pais e avós abaixo de lixo.
Sem qualquer sentimento de afeto, apenas querem deitar a mão às suas reformas; é por isso que em muitos casos, os retiraram dos lares de terceira idade para que eles os ajudem a cuidar dos filhos e alimentar vícios, que não têm coragem de suprimir.
Existe uma minoria a quem se deve uma ressalva; são aqueles que recentemente perderam os seus empregos, e não podem pagar os empréstimos que contraíram, para dar condições de estabilidade à família de quem nunca se afastaram; estavam a ajudar a pagar os lares aos seus pais, a que juntavam às suas magras reformas; nestes casos os idosos, voltaram voluntariamente a casa para ajudar a cuidar dos netos; e com o baixo valor das reformas, assegurar a sustentabilidade da família.
Os filhos vão certamente ter conhecimento do que os seus pais fizeram aos seus avós; alguns vão devolver-lhes a moeda de troca, outros a providência se encarregará de o fazer possivelmente a dobrar.
O exposto não retira a responsabilidade de quem tem governado o país nos últimos anos; esta dramática situação, é o reflexo do abandono daqueles que tudo deram para nada receberem da última geração de governantes, que tem sido os mais insensíveis de que há memória em Portugal.
Milhares dos nossos idosos vivem em completa solidão, completamente abandonados à sua sorte e sem ajuda de qualquer espécie; existindo Concelhos periféricos de Lisboa (70 quilómetros) sem assistência médica durante dias, como recentemente o Presidente da Autarquia do Bombarral se queixava; mas não está sozinho, porque o Cadaval ali ao lado está nas mesmas condições, e vamos imaginar o que se passa no resto deste pobre país.
Muitos dos portugueses que hoje estão reformados, foram apanhados na teia do endividamento, e incentivados a contrair dívidas por aqueles que agora não lhes dão as condições para as poder pagar; lançando o país num caos social nunca visto.
Portugal não pode tratar os seus idosos como se de uma menos valia se tratasse, porque eles já deram tudo para pouco ou nada receberem; este comportamento em relação à terceira idade, vai ter repercussão nas gerações futuras, com um efeito devastador na sociedade mais pobre de toda a Europa.
J. Vitorino – Jornalista e Diretor