EDITORIAL: Santos que veneramos, por J. Vitorino
A 1 de Novembro Comemora-se o “Dia de Todos os Santos”: Vamos Lembra-los!..
De todos os Santos que os portugueses veneram, existe um em particular que nos merece uma grande reflexão por dois motivos; São Francisco Xavier 1506-1552 não nasceu português, mas foi ao serviço de Portugal que cumpriu a mais incrível odisseia missionária de todos os Santos, que ilustram os Altares das nossas Igrejas.
A sua morte terá ocorrido na madrugada de 3 de dezembro do longínquo ano de 1552 em território chinês, na presença de dois nativos convertidos ao Cristianismo.
Aquele que foi um dos maiores missionários da era quinhentista, nasceu no Castelo Xavier em Pamplona Província de Navarra Espanha a 7 de Abril do ano 1506; em adulto foi estudar para Paris onde conheceu um outro estudante, cuja influência viria a mudar o rumo da sua vida.
Esse extraordinário Homem também originário de Espanha foi Santo Ignácio de Loyola, que iria ser o mentor missionário de Francisco Xavier; Ignácio ofereceu uma Cruz a Francisco, que este nunca mais largou, até ao dia de sua morte em 1552 tinha então 46 anos.
Francisco Xavier andou no apostolado apenas 11 anos; todavia não creio que alguém naquela época, tenha levado tão longe o símbolo da Cruz em tão pouco tempo como ele o fez.
Quando D. João III o chamou a Portugal era suposto ter ficado em Lisboa; mas Francisco Xavier insistiu em ir em missão para a Índia e o Rei não o contrariou e deixou-o partir; chegaria a Goa em Maio de 1542, na companhia de Francisco Mansilhas.
Francisco Xavier antes de aprender as línguas nativas, foi ocupando o seu tempo com os portugueses que começavam a chegar a Goa.
Francisco Xavier deixou a sua forte presença na Índia antes de rumar ao Japão; este último país do “Sol Nascente” era uma meta que tinha imposto a si próprio, depois seguiria para a China onde viria a falecer.
Gregório XV canonizou no mesmo dia Ignácio de Loyola e Francisco Xavier no dia 12 de março de 1622; passavam 70 anos depois da morte e já reinava em Portugal Filipe III de Espanha.
Estes dois Homens elevados a Santos a partir de 1622, foram um grande exemplo na época mas também nos nossos dias; Santo Ignácio era um militar de origem fidalga, que ficou órfão de pai e mãe ainda muito jovem, recusou a vida abastada que tinha para se dedicar a uma causa muito mais nobre.
Santo Ignácio de Loyola – 1º Superior Geral de Companhia de Jesus
É dele a famosa frase “DO QUE SERVE A UM HOMEM GANHAR O MUNDO INTEIRO SE PERDER A SÍ MESMO”.
Seria muito injusto da minha parte, se não mencionasse nesta minha memória do passado D. João III de Portugal; como todos os conhecedores da nossa história sabem, era filho de D. Manuel I e de Maria de Aragão, filha de Isabel de Castela e de Fernando de Aragão os famosos Reis Católicos; portanto, D. João III tinha uma forte ascendência espanhola.
Este nosso Rei foi severamente marcado pela infelicidade, porque lhe morreram todos os seus 10 filhos mas nunca foi abandonado pela Fé; perdeu no seu reinado muitas Praças e Feitorias para além dos filhos, mas manteve sempre a Fé em Cristo.
Por fim e já depois da sua morte veio a tragédia maior; o seu neto Sebastião viria a morrer na Batalha de Alcácer-Quibir a 4 de agosto de 1578, tinha apenas 24 anos idade e sem descendentes.
Por falta de sucessão; a Dinastia Filipe de Espanha, viria a reinar em Portugal durante 60 anos.
O exemplo de São Francisco Xavier, que deixou o Seu Nome e o de Portugal pelas distantes paragens da Índia Japão e China foi um caso isolado; porque outros o fizeram na clandestinidade, com receio de represálias.
Ainda recentemente no segundo conflito mundial, o Consul de Portugal em Bordéus Aristides de Sousa Mendes, salvou milhares de Judeus de irem parar aos fornos de Auschwitz e Treblinka; este português de elevada estatura moral e sentido humanitário, viria a morrer na mais ínfima pobreza; arriscou tudo o que tinha incluindo a própria vida, em benefício de outros que nem conhecia.
Portugal foi o primeiro país a abolir a pena de morte e a escravatura, e a levar a civilização Ocidental e o Cristianismo à Ásia; mas entretanto esquecemos, muitas das lições que o nosso passado nos deu.
Não podemos hipotecar ou esquecer o legado que os nossos Santos e Mártires nos deixaram; e também o sofrimento de todos aqueles que durante 500 anos foram forçados a partir, para preservar o nosso património cultural acumulado ao longo da nossa História; foram milhões aqueles, que ainda muito jovens não mais regressaram a Portugal e suas queridas famílias.
Entre todos Santos destacamos São Vicente que é o Patrono de Lisboa, e o conhecido Santo António, popular pelas famosas marchas populares, que não acabou os seus últimos dias em Portugal onde nasceu; pois viria a falecer em Pádua Itália, a 13 de junho de 1231 país que também foi uma terra de Santos.
Santo António de Lisboa
Não nos podemos esquecer, que houve um período de quase 500 anos em que os Papas foram sempre Italianos; no entanto foram portugueses, os primeiros a levar ao Mundo a fé Cristã e a cultura Ocidental.
Após 1500 anos depois do Nascimento de Cristo, instalou-se o fogo da Fé em Portugal Espanha e Itália, a que se seguiu o despertar de mentes brilhantes em todas as áreas do conhecimento; homens com grande ambição mas dotados de impressionante sentido patriótico e humanitário, catapultaram estes três países latinos para a posteridade.
Houve um intenso intercâmbio entre Santos e navegadores quando Portugal estava no topo na arte de marejar; Fernando de Magalhães e Cristóvão Colombo eram portugueses, e duvido que este último alguma vez tenha estado em Itália, logo não podia ter nascido naquele país.
Eles levaram para Espanha dezenas de outros excelentes navegadores portugueses, que iriam protagonizar a mais incrível epopeia marítima que para a época, era de longe muito superior em relevância que a nossa chegada à lua.
Estes Homens constituíram a mais luxuosa emigração na História dos povos e do mundo; Portugal possuía na época a mais alta tecnologia militar e de navegação, mas os portugueses raramente subjugaram outros povos pela força; éramos e somos um povo Cristão, diplomata e também aventureiro, que em nada se assemelha com a barbaridade que se vivia em alguns países do norte.
Termino com o extraordinário pensamento, que nos deixou o Homem que lançou São Francisco Xavier no caminho do missionarismo: São Ignácio de Loyola, que foi o primeiro Superior Geral da Companhia de Jesus disse; DO QUE SERVE A UM HOMEM GANHAR O MUNDO INTEIRO, SE PERDER A SI MESMO.
Joaquim Vitorino – Jornalista e Diretor