EDITORIAL: Migração; é o maior drama de todos os tempos.
A migração foi ao longo da história um dos maiores dramas da humanidade, mas também tem sido a grande transmissora de conhecimento e intercâmbio entre povos oriundos de diversos pontos do Planeta, que através da emigração contribuíram para a paz e a prosperidade de outros povos; onde muitos deles, se fundiram e formaram uma única Nação.
Portugal teve um papel influente nas culturas de muitos países; alguns já não falam a nossa língua, mas ainda conservam muitas das nossas raízes culturais.
Têm sido vários os motivos, que estiveram na origem das grandes vagas migratórias em todo o Mundo, que em alguns casos obrigaram Nações inteiras a deslocarem-se; as causas subjacentes a esta tragédia milenar que também é referenciada na Bíblia, foi sempre uma constante da espécie humana desde que abandonou a África de onde é oriunda, para depois se espalhar por todos os continentes da Terra.
As mudanças climáticas e a busca por alimento, a que se juntam as guerras e as catástrofes epidémicas, foram durante milénios determinantes para a migração dos povos, e constitui uma marca indelével na sobrevivência da nossa espécie.
Há uns 12 mil anos o homem optou pela sedentarização, onde começou a fixar-se em locais onde as condições alimentares fossem as mais adequadas, começando por defender o seu espaço e lutando para o conservar; foi assim que nasceram as Nações, com todas as diferenças de raças culturas e línguas.
Portugal que já foi um Império e que atualmente é o país com as mais velhas fronteiras da Europa, teve sempre o seu povo em deslocação contínua por várias razões; uma delas foi a necessidade de manter um território fora da Europa, que chegou a ser superior em 130 vezes o atual, e outras circunstâncias associadas à sobrevivência do seu povo.
Foram muitas as ocasiões em que os portugueses foram forçados a sair das suas fronteiras em busca de uma vida mais digna; sendo ainda hoje essa opção para dezenas de milhares de jovens licenciados, que elevaram a emigração portuguesa a um estatuto de elite da migração Mundial, mas que deixa o país todos os dias um pouco mais pobre.
A reposição demográfica dos que partem, deu origem a que Portugal fosse nos últimos anos escolhido por migrantes de países que falam a língua portuguesa, e também outros como a Ucrânia, Moldávia e Roménia iniciaram uma vaga de migração para Portugal, que faz lembrar os portugueses nas décadas de 60/70 em fuga massiva para França e outros países da Europa.
É neste contexto, que o nosso país tem o dever de receber migrantes que procuram trabalho e viver dignamente em Portugal.
Ramona, é uma migrante romena que foi protagonista de uma incrível história de sobrevivência que teve um final feliz; saiu da Roménia aos 16 anos de idade, e depois de uma pequena estadia na Alemanha, decidiu que o seu destino seria Portugal onde chegou sozinha há cerca de 32 anos.
Quando partiu do seu país rumo a Portugal, deixou para trás seis irmãos e os pais em condições de carências a todos os níveis; motivo que levou esta jovem a lutar por todos os meios, para retirar toda a sua família da Roménia o que conseguiu.
Com a persistência e tenacidade que a caracterizam, Ramona foi conseguindo subir a difícil escada da vida; com todas as barreiras colocadas a alguém que chega a um país que não conhece a língua, e que não trás na bagagem qualquer curso profissional, ou a possibilidade de recorrer a alguém em condições de a poder ajudar.
Ramona foi ao tempo (1992), uma das poucas migrantes com 17 anos que chegou sozinha a um país totalmente desconhecido, passando por inúmeras e difíceis situações, pedindo sempre trabalho em vez de comida; porque na sua perspetiva, só com trabalho podia assegurar a sua dignidade.
Ramona conseguiu trazer para Portugal todos os seus irmãos e também os pais; quando abandonou a Roménia aos 16 anos de idade, trouxe com ela a inesquecível imagem de sua irmã Elisabeta (a mais nova dos sete irmãos) que deixou para trás com poucos meses de vida; esta separação deu-lhe força, para retirar toda a sua família da Roménia.
A motivação que em 1992 pesou na vinda de Ramona para Portugal, foram os grandes eventos que iriam ter lugar a seguir no nosso país como a Expo 98 e o Euro 2004 de futebol, que revitalizaram a economia portuguesa, e lançou Portugal na boca do Mundo; o que posteriormente deu origem a que na década seguinte muitos portugueses, subissem ao topo de grandes Instituições na Europa e no Mundo.
Ramona foi um exemplo de luta pela sobrevivência, imposta pelo meio social em que muitos de nós tivemos a infelicidade de ter nascido; excluiu sempre a solução do recurso à mendicidade, e preferiu trabalhar para vencer, como muitos de nós portugueses o tivemos que fazer, ao longo da brilhante história do nosso país.
J. Vitorino – Jornalista e Diretor
Ex-Emigrante no Reino Unido.