Do Cabo da Boa Esperança ao Bidonville de Champigny, por J. Vitorino

Do Cabo da Boa Esperança ao Bidonville de Champigny, por J. Vitorino

Hoje 18 de dezembro, assinala-se o Dia Internacional do Migrante.

Após o fim trágico do Império português que teve início no “Brasil a 7 de setembro de 1822, e posteriormente a desintegração da presença portuguesa ultramarina, resultante do “golpe de Estado em 1974”, a história de Portugal continuou sustentada na diáspora lusitana espalhada por todo o Mundo; dando a conhecer o país que hoje somos, e quem foram os portugueses no passado, e a influência que tiveram na cultura de outros povos.

Não obstante o terrível drama associado às imigrações, de que os portugueses também têm sido protagonistas ao longo da sua longa história, existe um lado compensador que nos envaidece; porque foram os nossos missionários que pela primeira vez, levaram em nome de Portugal a cultura ocidental e o Cristianismo até aos confins do globo terrestre.

O nosso país possui hoje a mais elevada taxa de emigração de toda a União europeia; em 2015 já existiam 5 milhões de portugueses a viverem além-fronteira; números que não incluem os descendentes dos nossos emigrantes, que optaram pela nacionalidade dos países de acolhimento.

A Pobreza em Portugal tem sido a causa mãe dos grandes fluxos emigratórios que penalizaram o nosso crescimento demográfico, e constitui uma tragédia nacional com efeitos devastadores no despovoamento do território, onde aldeias inteiras ficaram praticamente desertas.

As grandes vagas tiveram início nas décadas de 20, 60 e 70 do século XX, e mais recentemente de 2008 à presente data; sendo esta última a mais penalizadora da história da emigração, com a fuga de licenciados a deixar o país mais pobre e inculto.

Os anos mais marcantes foram os coincidentes com os 14 anos de “conflito no Ultramar”; que mergulhou o país num caudal de sofrimento e pobreza, que nos levou naquela época a iniciar a mais dramática fuga para a Europa, Brasil, EUA, Argentina, Venezuela e resto do Mundo; e que ficou tristemente conhecida como “O SALTO”.

Salazar que ao tempo era o presidente do Conselho de ministros, sabia que Portugal estava no ponto mais baixo da sua história; tinha caído no descrédito total com o nosso país a ser condenado nas Nações Unidas por unanimidade dos Estados, por levar em frente uma política ultramarina contra o interesse da esmagadora maioria dos portugueses.

Infelizmente; os últimos 50 anos de (democracia) que tem sido tutelada por um partido que praticamente não tem expressão eleitoral (3,17) últimas eleições legislativas, diz-nos que a verdade atual apresenta-se bem diferente.

O Bidonville português em Champigny marcou as décadas de 60/70, como das mais dramáticas da nossa história recente.

Com a onda de descontentamento iniciou-se uma dramática fuga do país, que começou a formar guetos um pouco por toda a Europa com a Cidade francesa de Pau a servir de rota estratégica, para seguirem depois rumo  a Paris e Lyon entre outras cidades europeias, concentrando-se em vários bidonvilles, sendo o mais tristemente famoso o de “Champigny”; estimando-se que nos finais de década de 60, mais de 350.000 portugueses viviam “empilhados” em bairros de lata sem condições higiénicas, e a viverem da caridade dos franceses e de instituições internacionais.

A interrupção do Estado Novo a 25 de abril de 1975 também não foi um mar de rosas, para os nossos compatriotas que viviam no Ultramar português; em apenas 18 meses, Portugal recebeu mais de 800.000 retornados, naquela que ficou conhecida como a maior fuga aérea de África de sempre.

As consequências foram dramáticas, porque em apenas 4 anos a população portuguesa cresceu mais de 10 por cento; no entanto e apesar de todos os dramas de que se revestiu esta chegada massiva das ex-Colónias, a sua posterior integração foi considerada um sucesso pela imprensa internacional; como  foi também a “ponte aérea e marítima de África”, porque não há a registar um único acidente.

Hoje posso dizer com toda a segurança, que Portugal deve à diáspora do seu povo espalhado por todo o Mundo, a riqueza do seu património linguístico, e a afirmação de todos os valores que nos diferencia como uma Nação acolhedora e pacífica; sendo também portuguesa, a migração mundial com a mais alta taxa de licenciados.

É difícil para os seus familiares, verem os nossos jovens saírem das Universidades e Politécnicos e partirem de seguida; mas a emigração de hoje não é a mesma que chegou a Pau e a Champigny nas décadas de 60 e 70; eles vão prestigiar o nosso país, espalhando pelo mundo o melhor que temos que é a riqueza da nossa língua e a ímpar cultura portuguesa.

Lembro que o Século XX conheceu 3 grandes vagas de emigração; a primeira teve início após o fim da primeira grande guerra 1919/1928, e não foi a Europa o seu destino, mas sim os Estados Unidos, Canadá, Argentina e Venezuela e também o Brasil.

Logo após o armistício do primeiro conflito mundial, deu-se início à primeira grande fuga de portugueses no século XX.

Entre eles estava o meu avô paterno, nascido em Aljubarrota no ano de 1890; chegou à América com a minha em 1919, e faleceu dois anos mais tarde em Fall River Massachusetts, tinha o meu pai 6 meses de idade.

Joaquim Vitorino – Diretor

Jornal Diário On Line Vila de Rei

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