EDITORIAL: Natal querido Natal, por J. Vitorino
Para além da tradicional reunião familiar, o Natal dos portugueses onde quer que estejam, é sempre um renovar de esperança; em especial para aqueles que tiveram que partir para melhorarem as suas condições de vida, e dar um futuro mais digno aos seus descendentes.
A imagem do Natal foi sempre uma constante no pensamento dos nossos emigrantes.
A reunião familiar, nestes dias tão marcantes da nossa cultura Cristã nunca os abandonou; e constitui um grande alento aos que tiveram que enfrentar grandes dificuldades, até se integrarem nos países de acolhimento.
Imagino o que os nossos marinheiros terão sentido pela época do Natal dentro das Naus no meio dos Oceanos.
São indescritíveis as saudades dos seus pais, avós e irmãos; muitos eram ainda crianças com idades a partir dos 12 anos, que foram arrancados aos familiares para servirem como grumetes; é por isso que eu faço uma viagem no tempo, nesta quadra tão marcante para os portugueses, desde a fundação do Reino de Portugal.
Os nossos emigrantes são os que mais intensamente vivem o Natal; muitos não se deslocam ao seu país de origem há dezenas de anos, e outros perderam as suas raízes familiares, ao ligarem as suas vidas a famílias dos países de acolhimento.
É um custo dramático do fenómeno emigratório, com tremendas incidências na taxa demográfica que não tem sido bem contabilizado pelo poder político.
Nunca o fariam se Portugal cuidasse dos que tiveram que partir, a quem nunca lhes foram oferecidas condições para poderem regressar; pelo contrário, o nosso país ainda se encontra num crepúsculo sem perspetivas de normalidade; que seria preparar o regresso daqueles que durante dezenas de anos, têm sido obrigados a abandonar os seus familiares, por não terem condições para aqui continuarem a viver decentemente digamos assim.
A exemplo; eu tenho nos EUA onde nasceu o meu pai e morreu o meu avô, familiares que perderam todos os vínculos com o país de origem dos seus progenitores, porque estes que não lhes ensinaram a língua portuguesa; que é o primeiro passo, para a separação definitiva do país que lhes deu origem.
Os portugueses são um povo generoso, e exercem a solidariedade entre si quase ao limite; sendo precisamente nesta quadra natalícia que a colocam à prova, na ajuda aos mais de dois milhões que em Portugal vivem no limiar da pobreza extrema.
No entanto é ao Estado, que cabe assumir o papel fundamental na ajuda aos mais carenciados o que não tem acontecido; e as instituições particulares estão em grandes dificuldades para dar resposta a esta tragédia, que cada vez mais está a atingir aqueles que há poucos anos pertenciam à classe média em Portugal.
Muitos portugueses só conseguiram regressar às suas terras de origem vários anos depois da sua partida; e quando chegam os filhos que deixaram à guarda dos avós já não os conhecem; e quanto aos pais já idosos que deixaram para trás, só lhes resta a despedida junto das suas campas; sendo a partida de muitos dos nossos emigrantes, assim duplamente penalizada.
A ditadura da pobreza chegou a Portugal disfarçada de democracia e veio para ficar; a fuga de centenas de milhares dos nossos cérebros, não ajuda a inverter esta situação que se agravará nos próximos anos; é o futuro que espera os mais carenciados, onde mais de 40 por cento dos portugueses não terão possibilidades para educar os seus filhos; em que apenas um em cada 10 entrará numa Universidade; até porque, o futuro do ensino em Portugal será a privatização.
Portugal é um país desigual, e sem grandes perspetivas de mudança; e a emigração dos portugueses vai continuar durante as próximas gerações, uma situação que nos envergonha e em particular os nossos emigrantes, que tudo têm feito para dignificar o nosso país, nos 175 países onde existem as nossas comunidades.
Reconhecidamente um círculo vicioso porque nos empobrece a sua saída, os nossos atuais emigrantes levam na bagagem cursos académicos em todas as áreas do conhecimento.
Eles são a elite da migração Mundial, o que muito dignificam o seu país; é a eles, que dedico esta minha crónica de Natal.
J. Vitorino – Jornalista Diretor do Vila de Rei – Ex-emigrante no Reino Unido
Entre 2012/2022; mais de 500 Crónicas publicadas no ex-Semanário Mundo Português.