
Trump entrega de bandeja a Europa a Putin, por António C. D. Justo
A União Europeia só poderá contrariar Trump, se iniciar conversações com Rússia e China.
A história avança a uma velocidade vertiginosa; mas a Europa insiste em pisar no travão, como se pudesse deter a marcha dos acontecimentos, com um gesto simbólico de prudência; e se em 1989 assistimos à queda do Muro de Berlim, agora está a ruir um muro menos visível mas igualmente determinante; o da hegemonia cultural imposta pela esquerda marxista, agora reciclada sob a etiqueta woke.
Nos Estados Unidos Trump e Vance encabeçam uma resistência conservadora, já exausta do monopólio ideológico progressista.
A União Europeia que se preparou para a guerra como quem aposta tudo numa cartada, vê agora a sua ilusão de vitória esvair-se perante várias as vozes sobretudo americanas, que alertaram de que não se ganha uma guerra contra uma potência nuclear.
Mas a Europa embriagada de certezas morais e de um messianismo decadente, marginalizou-se ao recusar qualquer iniciativa de negociação.
Para Trump, ignorar a UE é um acto de realismo político; ele sabe bem que, sob Biden a cumplicidade entre os dois lados do Atlântico foi conveniente, superficial e de dupla moral, mas ao evidenciar a irrelevância europeia, ofende profundamente as elites de Bruxelas…
Desde os tempos de Maio de 68, que o marxismo conseguiu subverter a tradição europeia, impondo a sua visão do mundo até mesmo a alguns partidos conservadores; e o que hoje se joga é o choque entre esse pensamento e um retorno ao conservadorismo encarnado em Trump, que procura substituir o sabonete vermelho pelo seu próprio sabão azul e branco.
Por outro lado as empresas europeias têm interesses no espólio ucraniano, e um regresso à diplomacia realista de Trump complica os seus cálculos.
A hipocrisia da retórica diplomática choca de frente com o discurso populista e direto, considerado rude pelas elites que têm mantido o poder cultural e ideológico nas suas mãos; mas a verdade é que a grande falha da Europa, foi não reconhecer a Rússia como parte integrante do património ocidental e acima de tudo, esquecer um princípio básico; nunca se entra em guerra contra uma potência nuclear sem a perder; e não apenas no campo de batalha, mas no destino de toda a humanidade…
Em vez de continuar obcecada com Trump, a União Europeia deveria canalizar os seus esforços para o que realmente poderia desafiá-lo; estabelecer laços comerciais eficazes com a Rússia e a China Isso sim, poderia contrariar a sua estratégia de ressentimentos e beligerância de palavras.
Trump tem o mérito embora de forma antipopular, de vir arejar as cortinas dos bastidores das elites; e isso incomoda muita gente de esquerda instalada na União Europeia, sob o manto da revolução de maio de 68.
Daí; a luta desesperada entre os interesses elitistas de cima, conta os interesses populistas de baixo; só que o problema maior, é o povo ser envolvido de forma descarada numa luta que não é sua.
António da Cunha Duarte Justo – em Pegadas do Tempo
