A sopa da hipocrisia, por Joaquim Vitorino

A sopa da hipocrisia, por Joaquim Vitorino

A sopa da hipocrisia

 

 

 

 

 

A sopa foi institucionalizada pelos últimos governos do nosso país; é um componente alimentar e não uma refeição, mas é o que resta a centenas de milhares de portugueses para dar aos seus filhos.

Algumas das nossas crianças chegam às escolas com o estômago vazio, tendo originado um protesto dos professores que todos os dias têm que enfrentar esta terrível situação que nos envergonha a todos.

Portugal enfrenta uma situação de carência alimentar preocupante; em parte consequência da dívida pública, porque só os juros que pagamos resolveria todo este drama que envolve crianças e idosos.

Mas o mais revoltante e que tem passado ao lado dos governantes é a ofensa ao povo português; que por várias vezes tem sido atingido com comentários deselegantes como vigaristas e trapaceiros, como nos “mimaram” na euro-news na sequência do caso BES-Luxemburgo, e que colocou em causa a dignidade de Portugal, que deveria ter apresentado um protesto mas não o fez; encaixámos a ofensa, como tantas outras vindas de países que pensávamos serem nossos amigos, mas que estão a perder o respeito que nos é devido.

Sabemos que somos um país de pedintes como já antes o disseram, mas existe uma causa subjacente à pobreza compulsiva em que se encontra o povo português; é uma colossal vergonha em que a desonestidade e ganância de alguns, tenha lançado o nosso país para a suspeição e o descrédito, que o estado de pobreza da sua população não ajuda a limpar.

São dias negros que nos esperam, uma preocupação para todos os que pensam nos nossos jovens que foram catapultados para a cauda da Europa durante as próximas gerações; a desonestidade e incompetência de alguns que nos tem governado, retiram-nos a coragem para seguir em frente.

A situação de dificuldades que enfrentamos, tem como fonte a enorme dívida pública portuguesa, que ajudou países como a Alemanha e a França a resolverem os seus problemas financeiros, cobrando-nos juros incomportáveis com o nosso desenvolvimento; porque todo esse dinheiro seria necessário, para recuperarmos o atraso que levamos deles.

Portugal está a formar mão-de-obra especializada nas nossas Universidades, com o dinheiro que nos emprestaram a juros altíssimos, para depois do produto acabado irmos alimentar as fábricas dos países do Norte a custo zero; e que como consequência vamos caindo na pobreza em simultâneo com o aumento da dívida, como já tinha referido num meu artigo anterior; e quando chamam de estúpidos, vigaristas, pedintes e trapaceiros que digam a quem se referem; se às elites politicas, ou aos portugueses que já deram muitas lições no passado a alemães, franceses, holandeses e belgas.

Tenho a certeza de que, se Portugal fosse uma potência nuclear e económica merecíamos mais respeito; ainda recentemente os russos fatiarem um pais soberano a Crimeia, e eles nada disseram.

Portugal tem que sair urgentemente desta intolerante subjugação à dívida, que condiciona o futuro das nossas crianças e a independência do nosso país.

O Presidente da República disse que os consensos devem ser feitos antes de se partir para as urnas de voto, sendo esta uma derradeira oportunidade a não a desperdiçar; e se os portugueses não partirem para o próximo ato eleitoral com a convicção de que isto tem que mudar, então este regime chegará ao fim e abre portas a todas as soluções possíveis; em que qualquer delas poderá ser muito pior que a outra.

Portugal foi colocado em “cena triste” no palco internacional, onde tudo está em risco de se perder.

Pela primeira vez desde 1974 que Portugal vive mergulhado no medo; vai sendo tempo de retirar de cena a peça de Edward Albee; who’s afraid of Virginia Woolf ? (Quem tem medo de Virginia Woolf )?

Não retira a dignidade a ninguém que procure uma sopa para sobreviver; muitas vezes servida pela hipocrisia daqueles, que conduziram à situação desesperada dos que a procuram.

   Joaquim Vitorino

 

 

 

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