Zaatari, o deserto vivo, por Joaquim Vitorino

Zaatari, o deserto vivo, por Joaquim Vitorino

Zaartari o Deserto Vivo

O Reino da Jordânia que tem pouco mais de seis milhões de habitantes, abriu as portas do deserto para recolher dezenas de milhares de refugiados sírios; colocando-os em campos de “concentração” para que não invadissem as suas Cidades provocando o caos total; e só serão integrados depois de haver condições mínimas para lhes dar; só no campo jordano de Zaatari no meio do deserto, estão perto de 100 mil refugiados como se vê na foto.

Tanto a Jordânia como a Turquia a exemplo da Itália e da Grécia, têm demonstrado solidariedade e não os mandam para trás como alguns Estados da Europa vergonhosamente o estão a fazer.

A História humana foi ao longo da sua existência marcada por cruéis perseguições, que obrigaram a êxodos de multidões para se refugiarem das tiranias, ou motivado pelas secas, ou ainda e mais frequentemente das Guerras e epidemias; em alguns casos países inteiros foram abandonados.

A Grécia antiga que estava dividida por Cidades Estado, sempre que se sentiam ameaçadas pelos vizinhos mais poderosos (Persas e Romanos) deslocavam-se para sua segurança, enquanto os seus exércitos enfrentavam os invasores. Dos poucos casos em que não houve “Éksodos” tradução do grego para português de êxodos (fuga), foi na famosa “Batalha de Maratona 490 a. C” em que Milcíades o genial General Ateniense para poupar a Cidade do saque e destruição, atraiu as forças de Dário Rei dos persas, para o pântano de Maratona a 42 quilómetros de Atenas; tendo infligido uma tremenda derrota aos invasores que contavam com o triplo de efetivos; incluindo cavalaria que os atenienses não dispunham.

Há precisamente 40 anos, Portugal protagonizou e organizou a maior fuga aérea de todos os tempos; ainda hoje o nosso país não se recompôs da maior deslocação de um Continente para o outro em tão curto espaço de tempo. Foram estimados em cerca de 500 mil que correspondia a 6% da população de Portugal continental naquele tempo; creio que estes números não correspondem à verdade, seriam muito superiores.

Embora revestida de grande emotividade e drama, a “Fuga dos portugueses de África” que pôs fim a 500 anos de permanência portuguesa naquele continente, foi considerada de “luxo” se comparada, com os migrantes que aportam hoje à Europa vindos da África subsariana e do Médio Oriente, e provocou uma crise no turismo em Portugal que levou alguns anos a recuperar.

O êxodo português de África envolveu mais de 500 mil retornados, e também migrantes que foram recolhidos em Unidades Hoteleiras; muitos trabalhavam para o Estado português nas ex-colónias, e quando chegaram foram ocupar com prioridade cargos na função pública; em muitos dos casos com habilitações muito inferiores aos continentais. Ainda hoje, passados que foram 40 anos se nota os vestígios que o tempo não conseguiu apagar. Nenhum país europeu tinha interesse que Portugal permanecesse em África; por isso alguma da ajuda de nos deram foi cínica, e visava o interesse em nos substituírem o que aconteceu; em Angola por exemplo, saíram os portugueses e entraram os cubanos e mais tarde os chineses.

O abandono imediato das nossas forças armadas, que era exigido por um partido com grande influência no processo revolucionário, esteve na origem da fuga massiva dos portugueses de África; e diga-se, aquela “corrida à portuguesa foi um sucesso”, pois apesar dos aviões voarem com as manutenções mínimas não se registou um único acidente. Quando vejo a tragédia diária dos migrantes que chegam à Europa para se salvarem e aos seus filhos do radicalismo islâmico, estabeleço um paralelo do “agora antes e depois” porque o que está para vir, é a parte submersa do Iceberg que vai emergir nos próximos tempos.

É preciso que os europeus não se esqueçam que muitos dos Estados europeus foram a eles conquistados.

Os portugueses foram sempre um povo acolhedor; quando ocupámos o último reduto árabe no Algarve, muitos optaram por ficar connosco e foram bem integrados; no momento atual, temos que ver a situação numa perspetiva que é a deles, que a veem como o regresso às origens; a península Ibérica, foi por eles conquistada aos visigodos no ano 711 e aqui permaneceram quase 800 anos.

Convém não esquecermos, que os nossos “vizinhos” Marrocos, Tunísia e Argélia têm no conjunto 85 milhões de habitantes; e a quem nós chamamos de migrantes são os descendentes remotos de muitos dos nomes que em Portugal e Espanha se vê um pouco por toda a parte; a História repete-se, eles são os retornados do Século XXI. 

OBS: À memória de Aylan Kurdi, um menino sírio de três anos e ao seu maninho de seis, que não conseguiram chegar a terra; e a centenas de outras crianças que tiveram a mesma sorte; onde quer que estejas Aylan, nunca te vamos esquecer.

 J. Vitorino – Jornalista – Diretor do Vila de Rei

Ex Cronista no Mundo Português

Share