As sombras de Auschwitz, por Joaquim Vitorino

As sombras de Auschwitz, por Joaquim Vitorino

Roman Kent, é um dos 380 sobreviventes de Auschwitz que regressaram aquele local para assinalar os 70 anos da sua libertação pelo exército soviético. Num discurso várias vezes interrompido pela emoção, disse não querer que o seu passado fosse o futuro dos seus filhos.

Lembrou ainda que das 11,5 milhões de vítimas do Holocausto um milhão e meio eram crianças; muitas delas, antes de serem assassinadas nos fornos crematórios serviram de experiências médicas aos nazis como se fossem ratos. Nunca nenhum ser humano pode ser um espectador passivo de um crime como aquele sem se tornar um cúmplice dele; e se necessário, terá que lutar até à morte para o evitar.

Quando na iminência da chegada das tropas aliadas, os comboios que chegavam a Birkenau eram imediatamente encaminhados para as camaras de gás; o que se passou naqueles momentos só os sobreviventes o poderão imaginar; o mundo não pode varrer da memória as “Sombras de Auschwitz” ainda bem presentes nas mentes de quem as viveu.

Existem duas características de povos que não buscam no passado, os grandes exemplos que lhes serviriam para o futuro; são os que subjugam os mais fracos, e estes que teimam em confiar em quem já deu provas de que não devem confiar neles.

Birkenau

Quando um país cobra juros altíssimos em nome da solidariedade entre Estados não é uma ajuda; é um negócio vergonhoso porque os juros a pagar salvaria centenas de milhares de crianças e idosos na Grécia, Portugal, Espanha e na Irlanda; mas a ganância foi mais forte e a fatura grega já vem a caminho.

As instituições de solidariedade nos países acima referidos, estão com grande dificuldade para alimentar milhões de famintos, enquanto o esforço desses países foram direcionados para pagar juros da dívida que no caso de Portugal é superior ao orçamento para a saúde, e as consequências são o aumento da mortalidade.

A Grécia e Portugal não geriram bem os dinheiros que lhes emprestaram isso é um facto; mas não justifica que dezenas de milhares de crianças gregas e portuguesas, tenham sido condenadas à fome em nome de uma dívida que não contraíram; e que em caso extremo da sobrevivência de um povo, a dívida deixa de ser uma prioridade. 

A não esquecer…nunca

A onda de insensibilidade imposta pelos parceiros do Norte varreu de pobreza os países do Sul, o que levou a Grécia que foi o “Berço da Civilização Ocidental” a dizer basta; não haverá mais crianças a morrer de fome em nome de uma dívida que em parte lhes foi imposta. Nas ruas de Madrid, o povo espanhol puxado por alguma demagogia eleitoralista do “podemos” como fez o “Syriza” grego, deu um apoio inequívoco ao novo Governo de Atenas e um recado à Alemanha e aos seus parceiros do Norte, numa grande manifestação em que estiveram presentes conhecidas figuras públicas de Espanha.

O governo português escondeu-se atrás de um objetivo que diz ter alcançado, que foi a saída da Troika de Portugal.

É uma ingenuidade confrangedora, porque a Troika continua a mandar em Portugal enquanto a dívida não for totalmente paga.Se esta não for renegociada, serão condenados à fome mais de 70% da população portuguesa e bloqueado o caminho ao nosso desenvolvimento económico.

Francisco em Auschwitz

Desvalorizar a mudança na Grécia, foi uma enorme gaffe do Primeiro-Ministro português; não tinha que se colar ao interesse dos credores porque tinha a opção da neutralidade, mas preferiu desagradar a gregos e agradar aos troianos.

Passos Coelho está obcecado pela austeridade que está a matar aos poucos o povo português, e não aproveita os ventos da bonança que partiram da Grécia e já se fazem sentir em Espanha; ao querer fazer passar uma mensagem à Alemanha de um bom aluno, esqueceu-se que de bons alunos está Portugal repleto; os mesmos que vão ser “chumbados” nas próximas eleições.

Os portugueses só sairão com dignidade da humilhação a que foram sujeitos, sendo eles a imporem as condições do endividamento para que foram arrastados pelos “bons alunos” da Troika, cujo único objetivo foi salvar alguns países do iminente colapso financeiro; deixando aos “bons credores” uma justa possibilidade de recuperarem o seu dinheiro.

J. Vitorino  –  Jornalista – Diretor

 

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