Uma reflexão ao 5 de outubro de 1143

Uma reflexão ao 5 de outubro de 1143

 D. Afonso Henriques

Portugal faz hoje 879 anos de existência, dos quais 767 passados em Monarquia.                                                       

Foi em 5 de outubro de 1143 que D. Afonso VII de Leão, reconheceu perante o representante do Papa Cardeal Guido de Vico a existência de Portugal, naquele que ficou para a história como o Tratado de Zamora.

Lamentavelmente o feriado do 5 de outubro não é para comemorar o dia da Nação portuguesa, que enquanto monarquia teve alguns altos e baixos, mas com apenas 800.000 habitantes, chegou a ter o domínio de 4 continentes e 130 vezes o território atual; as nossas comunidades espalhadas em 175 países falam por si, a quem dediquei mais de 800 artigos e crónicas através do extinto Jornal “Mundo Português”.

Hoje sabemos que as últimas quatro gerações vividas em república, não justificam a morte do Rei e do seu filho; e se ao fim de tantos anos faria algum sentido regressarmos à monarquia? evidentemente que sim, se for essa a vontade dos portugueses. 

O estado de pobreza generalizada em que os portugueses se encontram são mais que evidentes e dizem que sim, porque não existe um único país europeu por quem nos possamos nivelar em pobreza; onde a taxa de literacia já é a mais baixa da Europa (menos de metade da média da União Europeia), pelo motivo de mais de um terço dos nossos licenciados, terem saído do país em busca de um futuro mais digno.

A divida pública e o fraco investimento do Estado, e a continuação da saída dos nossos mais qualificados, são uma evidência de que Portugal está a hipotecar o futuro das próximas gerações, e dos nossos jovens e crianças de hoje; portanto o acontecimento de há 112 anos terá que ser refletido.

Nos últimos 25 anos (uma geração), mais de metade dos portugueses baixaram na hierarquia social; com mais de 20 por cento da população a entrar na pobreza sem retorno, ao que se juntam mais 40 por cento dos portugueses que vivem em pobreza, se comparados com os seus parceiros europeus; sendo os nossos jovens, crianças e idosos os mais penalizados.

A enorme dívida pública que o país contraiu nos últimos anos, não serviu para desenvolver o país; tendo sido nulos os resultados dos sacrifícios exigidos aos portugueses, que começam a perder a esperança de um Portugal próspero e justo, para aqueles que atualmente vivem em piores condições, que os seus progenitores viviam há 30 anos.

Portugal perdeu todas as perspetivas de melhorar a qualidade de vida da sua população; motivo que está a levar à quebra do frágil elo que liga os portugueses à elite dominante; que tem perdido todas as oportunidades, para retirar o país da cauda da Europa, cujo atraso a nível de inovação tecnológica é mais de 20 anos, se comparado com outros parceiros da Europa.

Nos últimos 14 anos, os portugueses foram o povo que mais empobreceu na União Europeia; com grande incidência na pobreza infantil e jovem; precisamente aqueles, que vão ter que pagar a monstruosa dívida pública que a última geração de governantes contraiu.

A pobreza prolongada a que se junta uma taxa de desemprego jovem elevada, tem sido a impulsionadora da maior taxa de emigração dos países da União Europeia, que também é responsável pela elevada quebra da natalidade em Portugal, que dificilmente inverterá esta tendência nos próximos anos; porque não existem condições apelativas para travar a emigração por um lado, e por outro criar condições que estimulem o regresso  dos nossos emigrantes, que nos últimos anos constituem a elite da migração mundial; levando para fora o melhor que as nossas Universidades produzem.

        Tratado de Zamora

Neste contexto e voltando à questão se terá valido a pena a mudança de regime de uma monarquia constitucional para uma república, esta última falhou por todos os motivos que são do conhecimento público.

Portugal está hoje muito mais assimétrico e com escandalosas desigualdades, porque o regime não cumpriu com os portugueses o que lhes vem prometendo há 112 anos sucessivos.

Portugal alienou todo o património relevante para o poder recuperar; como a EDP, Companhia das Águas, Bancos, CTT etc.; e levou a que um em cada três jovens licenciados tivesse que procurar a sua sobrevivência além-fronteiras, contraindo assim um enorme deficit para com o povo português; que perderam a autoestima e a confiança naqueles, a quem atribuem a responsabilidade da pobreza que atingiu mais de 5 milhões de portugueses, metade da população.

 J. Vitorino

Jornalista – Diretor

 

 

 

 

 

 

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