A flor do Oeste
Vila do Cadaval com a Serra do Montejunto como painel de fundo.
O Cadaval está apostado nas potencialidades do seu vasto património agrícola, mas também cultural e turístico; uma nova realidade que se sente em todo o Oeste, e que tem vindo a crescer nos Concelhos vizinhos que têm ligação direta ao mar, como é o caso de Peniche, Óbidos, Lourinhã e Nazaré.
O Cadaval foi dos Concelhos periféricos da Capital mais afetado pela crise de 2007/2015; tradicionalmente vocacionado para a produção de vinho e fruta, mas também noutras atividades como a construção civil, chegou a ter uma das mais altas taxas de empregabilidade da zona Oeste; cujo índice baixou drasticamente em especial nesta última atividade, que foi antes do início da crise uma grande empregadora, contribuindo para a sustentabilidade demográfica e do “PIB” do Conselho.
O executivo de José Bernardo e Fátima Paz (vice-presidente), está a tomar firmes iniciativas que vão no sentido da recuperação após-crise; dando prioridade à fixação de pessoas bens e serviços, que são imprescindíveis para a criação de riqueza no Concelho; aliás, toda a zona Oeste está sobe uma forte pressão turística, que vem no sentido de dinamizar a economia desta vasta área na proximidade de Lisboa, rica em diversas tradições e culturas; onde o vinho e a famosa pera rocha, constituem a maior fonte de rendimento da sua população.
Num âmbito mais alargado muito terá que ser feito, para que esta bela zona de Portugal possa descolar da “monotonia” em dois importantes setores produtivos que são a agricultura e as pescas, para que Portugal se torne menos dependente do exterior; não só na qualidade do que produzimos, como também nos seus custos, com benefícios diretos para a população local.
Vejo com muito agrado nos Concelhos que me são mais familiares, o Cadaval onde fixei residência, e Bombarral que é do meu nascimento, a recuperação de muitos dos terrenos que tinham sido abandonados por falta de meios.
Também é de louvar a resiliência dos agricultores com avançada idade, que tentam inverter os efeitos devastadores dos 8 anos de crise que levou à pobreza muitas famílias, com terríveis repercussões para os que já eram os mais carenciados.
Alguns dos meus vizinhos ainda se queixam da falta de apoios; mas o poder local não tem meios ao dispor, para poder fazer muito mais.
Com uma população envelhecida em consequência da grande vaga de emigração dos jovens, as suas magras reformas logo que recebidas, são direcionadas para a aquisição dos produtos indispensáveis à atividade agrícola.
Alguns serviços não resistiram à crise; como foi o caso dos Tribunais que fecharam nestes dois Concelhos, obrigando à deslocação a Torres Vedras e Caldas da Rainha, de pessoas com fracos recursos económicos e de mobilidade; e se dermos uma volta pelas zonas urbanas, constatamos que um terço das construções ou se encontram em ruínas, ou precisam de cuidados urgentes; em alguns casos já não merecem reconstrução, tal o estado em que se encontram.
O mesmo acontece com as pescas em Peniche, São Martinho do Porto e Nazaré, que são os portos pesqueiros mais próximos destes dois Concelhos; os pescadores não têm meios para pescar grandes quantidades, para que a população venha a beneficiar do preços, limitando a pesca ao suficiente para sobreviverem.
O ânimo tem que regressar a estas duas atividades, para refrear o terrível efeito do fluxo emigratório dos mais jovens; que quando saem das Universidades e Politécnicos, fazem as malas e partem; criando um vazio no parque habitacional, e na reposição demográfica; sendo urgente dar-lhes trabalho, para que esta bela zona não fique condenada ao abandono.
A ruralidade do Concelho do Cadaval, é reconhecidamente uma grande valia na proteção da Natureza; onde várias espécies se encontram protegidas como a exemplo a raposa, e as águias Imperial Ibérica e a de Bonelli, entre muitas outras.
Os desafios que se colocam são grandes, mas certamente superáveis ; entre eles estão a reativação da agricultura perdida nos últimos anos, e o turismo com componente estudantil, que é o caminho certo para a atração de gente jovem a residir no Concelho; o que por consequência, levará à reabilitação do parque habitacional que está muito degradado.
Joaquim Vitorino – Jornalista
Diretor do Vila de Rei