Memórias de Portugal, 379 anos depois

Memórias de Portugal, 379 anos depois

Memórias de Portugal, 379 anos depois.

 

D. João oitavo Duque de Bragança era o nome que reunia maior consenso para ser o Rei de Portugal se tudo corresse de acordo com o plano dos conjurados.  Com a grave situação na Catalunha, aquele era o momento a não perder. O plano dos conjurados não teria sido executado antes, porque alguns recuaram com receio de perderem a vida e todos os bens o que se compreende, e também existiram delatores já depois de terem aderido ao movimento. Entretanto já teriam chegado ao conhecimento dos espanhóis alguns nomes dos 40 nobres envolvidos na conjura; já não havendo nada a perder, o plano foi executado com enorme sucesso.

O Duque de Bragança era à época dos acontecimentos o homem mais rico da Península Ibérica. Os revoltosos, chegaram a aclamá-lo como “Rei D. João IV” que embora consciente da sua legitimidade dinástica e da grandeza da sua Casa, agiu sempre com segurança e prudência; evitando precipitar os acontecimentos, e procurando uma oportunidade adequada às circunstâncias para intervir. Esta atitude seria inicialmente mal interpretada, e o Duque teria sido acusado de não querer assumir responsabilidades em ações de resultados duvidosos; na verdade, ele não podia colocar em risco os privilégios e a enorme fortuna da Casa de Bragança; mas também porque em caso de fracasso, ficariam todas as portas fechadas para novas tentativas.

O desânimo provocado por esta suposta posição do Duque de Bragança, levou mesmo alguns fidalgos a contactar o seu irmão D. Duarte que se encontrava na Alemanha, para lhe propor a liderança de um movimento insurrecional. Para o Conde-Duque de Olivares um homem reconhecidamente inteligente, a situação não passava despercebida; e a importância e o perigo que constituía a crescente onda de interesse e simpatia pela figura do Duque D. João, era uma ameaça que não podia ser descuidada; até porque, Aljubarrota 255 anos depois ainda estava na memória.

Os acontecimentos precipitam-se, porque o Conde-Duque de Olivares já está informado de que D. João é o escolhido para ser o futuro Rei de Portugal; por isso seria preciso afastá-lo quanto antes de Portugal oferecendo-lhe o cargo de Vice-Rei de Milão, o que foi recusado pelo Duque alegando o seu desconhecimento das questões internas da Lombardia. Mas Olivares insiste em o afastar, e nomeia-o governador das Armas do Reino de Espanha, com o pretexto de que a armada francesa ameaçava as nossas costas, sendo necessário preparar urgentemente a defesa.
Ao mesmo tempo, Olivares vai criando condições para apanhar o Duque em falta, e recomenda-lhe que passe revista a todos os quarteis e fortalezas do Reino, ordenando secretamente aos respetivos comandantes que o prendam e que seja enviado para Madrid sob escolta.  Avisado a tempo, D. João faz-se acompanhar por uma comitiva de fidalgos seus amigos; para além de  não ter sido molestado, até viu aumentar o seu prestígio.
Por ironia, é o agravamento na Catalunha que vai desencadear os acontecimentos; já na segunda metade do ano de 1640, a situação dos catalães agrava-se com os abusos das guarnições castelhanas que ocupavam o país; e não tendo obtido qualquer resposta do Conde-Duque Olivares revoltam-se, matam o Vice- Rei e pedem ajuda a França.

A Espanha tem agora várias frentes de instabilidade o que favorece os conjurados portugueses; já não é só em Barcelona que existem tumultos, mas também em Gerona, Balaguer, Lérida,e Olot e simultaneamente as forças francesas sitiaram Tarragona.

Olivares pensa tirar partido da grave crise em que o Reino de Espanha está mergulhado, apostando na mobilização de toda a Nobreza de Portugal incluindo o Duque de Bragança, para integrar o exército que iria desencadear ações de retaliação contra os catalães, e manda paralelamente proceder ao recrutamento de soldados em todo o país.

Este plano de Olivares, e o consequente encaminhamento dos portugueses para combater a insurreição na Catalunha, fizeram ultrapassar as hesitações ainda existentes, e o movimento restaurador toma forma irreversível. Não obstante as condições favoráveis ao desenrolar dos acontecimentos, não terá sido fácil convencer D. João Duque de Bragança a aceitar  a coroa de Portugal; um grupo de fidalgos e nobres onde se incluía Pedro de Mendonça (Alcaide-Mor de Mourão) amigo e companheiro de caça do Duque e visita frequente de Vila Viçosa, conjuntamente com Jorge de Melo, D. Francisco de Melo III Marquês de Ferreira, e D. Afonso de Portugal V Conde de Vimioso parentes do Duque de Bragança,  conseguiram convencer o Duque D. João a aceitar a Coroa. Para tal, contaram com a ajuda da Duquesa de Bragança D. Luíza de Gusmão que terá pronunciado a famosa frase: “mesmo sabendo poder haver consequências incluindo de poder arriscar a perder a vida, disse ao Duque que contasse com o seu apoio pois para ela, tinha mais valor ser rainha por um dia do que Duquesa toda a vida “.

Estiveram presentes além do anfitrião, D. Miguel de Almeida, Francisco de Melo, Monteiro-Mor, seu irmão, Jorge de Melo, Pedro de Mendoça, António de Saldanha e João Pinto Ribeiro que era o elo entre o grupo e a Casa de Bragança.

Os conjurados manifestaram-lhe a sua desilusão pelas hesitações do Duque, acusando-o de indeciso. João Pinto Ribeiro procurou justificar a atitude de D. João e chamou a atenção para as consequências de ações precipitadas. Concluindo que, se a aclamação do Duque como Rei de Portugal era a solução; então que o aclamassem mesmo sem o seu consentimento.

Os fidalgos concordaram; mas decidiram apesar de tudo, avisar D. João acerca dos seus propósitos e insistir, uma vez mais, em que aceitasse a Coroa.
Assim, incumbiram João Pinto Ribeiro para ser o porta voz do grupo, mas este sugeriu que fosse Pedro de Mendoça que aceitou de bom grado a missão, partindo imediatamente com destino a Évora, onde iria dar a conhecer a decisão dos conjurados ao Marquês de Ferreira e ao Conde de Vimioso para que informassem o Duque.

Dirigiram-se de imediato à Tapada, uma das maiores da Península onde D. João praticava caça ao gamo e ao javali seu passatempo favorito, e aproveitando uma altura em que este se encontrava isolado dos seus monteiros, Pedro de Mendonça abordou-o de forma firme e disse-lhe; venho pedir-lhe em nome de quase toda a nobreza do Reino que aceite a Coroa de Portugal.

Argumentou o descontentamento do povo, e o grande número de aderentes ao movimento restaurador dispostos a sacrificar a vida pela independência de Portugal.

O fator surpresa, a guerra com a França e a insurreição na Catalunha, foram determinantes para que a revolta em Portugal tivesse sido “coroada de êxito”.

J. Vitorino

Joaquim Vitorino

 

 

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