Memórias de Portugal: Batalha de Alcácer-Quibir

A Batalha de Alcácer-Quibir, foi como se veio posteriormente a confirmar, um dos acontecimentos que mais negativamente marcaram a História de Portugal; porque só passados 60 anos (ao tempo 3 gerações), os portugueses recuperaram a sua independência.

O confronto teve lugar no norte de Marrocos na proximidade da cidade de Ksar-El-Kebir, num local situado entre Tânger e Fez, a 4 de Agosto de 1578.

De um lado estavam os portugueses liderados por D. Sebastião, e o exército do sultão Mulei Moluco Abd Al-Malik da dinastia Saadi, contra um grande exército marroquino liderado pelo Sultão de Marrocos, Mulay M ohammed Abu Abdallah Mohammed Saadi II da dinastia Saadi com apoio otomano.

O rei D. Sebastião como se sabe, era dotado de grande fervor religioso; planeara a cruzada após Mulay Mohammed ter solicitado a sua ajuda para recuperar o trono, que seu tio Abd Al-Malik havia tomado.

Da derrota portuguesa resultou o desaparecimento do rei D. Sebastião, e grande parte da nobreza portuguesa que acompanharam o rei na aventura; para além de também terem perdido a vida os dois sultões rivais; é por isso que ficou conhecida para Marrocos como a Batalha dos três reis, e levou Portugal à crise dinástica de 1580, e ao nascimento do mito do Sebastianismo.

Portugal foi gravemente afetado pelos resgates que teve que pagar para recuperar os prisioneiros, e ditou o fim da Dinastia de Avis e do período de expansão iniciado com a a batalha de Aljubarrota em 1385, resultando na perda da independência por 60 anos 1580/1640 sob a dinastia Filipina.

D. Sebastião cognominado o desejado, era filho do Infante Dom João filho de João III de Portugal e Joana de Áustria filha do Imperador Carlos V, e herdou o trono aos três anos, após a morte do seu avô em 1557.

Foi educado por jesuítas e pelo seu tutor Aleixo de Meneses e por sua avó, Catarina de Áustria, esposa de D. João III e irmã de Carlos V; e  assumiu a coroa em 1568, aos 14 anos de idade.

Motivado a reviver glórias do passado, e influenciado por acontecimentos como a defesa do Mazagão durante o cerco mouro em 1562, o reino começou a preparar a intervenção militar em Marrocos e começou a convencer a burguesia, como um imperativo nacional; pois pretendia beneficiar do comércio de ouro, gado, trigo e açúcar.

Até então a ação militar portuguesa em África, tinha-se limitado a pequenas expedições e invasões; Portugal havia construído o seu vasto império marítimo do Brasil até às Índias Orientais, por uma combinação de comércio, exploração marítima e domínio tecnológico, com a conversão cristã das populações como um objectivo, mas não o único.

Em 1574 D. Sebastião liderara uma bem sucedida incursão em Tânger, o que incentivou um plano mais vasto. Deu assim o seu apoio a Abu Abdallah Mohammed Saadi II, que estava envolvido numa guerra civil para recuperar o trono de Marrocos a seu tio, o Emir Abd Al-Malik aliado dos otomanos.

Apesar dos concelho de sua mãe e do seu tio Filipe II de Espanha, D. Sebastião estava determinado a embarcar numa aventura militar que acabou muito mal para Portugal; D. Sebastião decidiu-se a apoiar Mulay Mohammed, que como compensação lhe ofereceu Arzila, e procurou apoio de outros reis; porque entretanto, Filipe II tio de D. Sebastião não alinhou na aventura. 

Preparativos e intervenientes para a batalha.

Sebastião empregara uma parte significativa da riqueza do Império Português para equipar uma grande frota e reunir um grande exército, onde se incluía 2.000 voluntários de Castela liderados por Alonso de Aguilar, 3.000 mercenários vindos da Alemanha e da Flandres comandados por Martim da Borgonha, bem como 600 italianos inicialmente recrutados para ajudar uma invasão da Irlanda, sob a liderança do Inglês Thomas Stukley, bem como outro auxílio em armas e munições.

Fez-se o recrutamento em Portugal, para constituir um exército expedicionário com cerca 20 000 homens, pouco disciplinados e mal preparados; portanto inexperiente e pouco coeso.

A  dita elite do exército, era composta pelos nobres veteranos nas guerras de África e do Oriente, e por mercenários estrangeiros, veteranos das guerras do norte da Europa. A força expedicionária terá reunido também 500 navios.

Sebastião partiu de Lisboa a 25 de Junho de 1578, passou por Tânger, onde estava o Mulei Maamede, seguiu para Arzila e para Larache por terra, quando o devia ter feito por mar, para permitir maior descanso às tropas, e o necessário reabastecimento em víveres e água.

Seguiram depois para Alcácer Quibir, onde enfrentaram o exército de Mulei Moluco composto por um número muito superior.

A 4 de Agosto de 1578, com o exército esgotado pela fome, pelo cansaço e pelo calor, deu-se a batalha.

A batalha terminou após 4 horas de combate intenso com a completa derrota dos exércitos de D. Sebastião e Abu Abdallah Mohammed II Saadi com quase 9.000 mortos e 16.000 prisioneiros, nos quais se incluem grande parte da nobreza portuguesa.

 Pouco mais que 100 foram os sobreviventes, que conseguiram escapar.

Abu Abdallah Mohammed II Saadi, aliado dos portugueses, tentou fugir ao massacre em que a batalha se convertera mas morreu afogado no rio. O Sultão Abd Al-Malik Mulei Moluco também morreu durante a batalha, mas de causas naturais, uma vez que o esforço da batalha foi demais para seu estado debilitado. D. Sebastião por sua vez desapareceu liderando uma carga de cavalaria contra o inimigo e seu corpo jamais foi encontrado. Nestas condições, o exército português, pesem alguns atos de grande bravura, foi completamente dizimado.

Apesar de na época duvidarem da morte do rei português, é provável que ele nesta batalha tenha perecido.

A disputa do trono português teve vários pretendentes: D. Catarina de Médici, rainha da França, que se dizia descendente de D. Afonso III; D. Catarina, duquesa de Bragança e sobrinha do Cardeal D. Henrique; Manuel Felisberto, duque de Savoia e António de Portugal, Prior do Crato, Prior do Crato, ambos, sobrinhos do rei; Alberto de Parma e Filipe II.

Filipe efetivamente ascendeu ao trono em 1580. A maioria da nobreza portuguesa que participara na batalha ou morreu ou foi feita prisioneira. Para pagar os elevados resgates exigidos pelos marroquinos, o país ficou enormemente endividado e depauperado nas suas finanças.

Alguma consulta (Wikipedia) portuguesa, espanhola e marroquina.

                 —///—

Jornal Diário Digital Vila de Rei

J. Vitorino – Jornalista Diretor