EDITORIAL: Portugal que Futuro? por J. Vitorino

(As últimas duas gerações 1974/2024 50 anos), foram as que mais negativamente marcaram o nosso país; até porque, foi um período em que Portugal viveu em paz.                                        

Os 882 anos da nossa existência, foram todos passados com muitas oscilações; mas nunca a “Marca Portugal” desceu a um valor tão baixo, como aquele em que nos encontramos presentemente.

A Nação portuguesa atingiu o seu ponto mais elevado na era dos descobrimentos, mas foram precisos mais 250 anos para que Portugal fosse considerado o país mais rico do Mundo; à atual geração e às duas próximas, só lhes restará viver na nostalgia daqueles “grandes tempos”.

Vou atribuir um valor virtual de 1000 créditos a essa época, em que a nossa moeda era cunhada a ouro, e só os venezianos conseguiam rivalizar connosco.

Mas foi preciso esperar pelo reinado de D. João V, para que os portugueses sentissem a verdadeira pujança de uma Nação rica e próspera; que emergiu na sequência de todo o esforço de quase 300 anos de odisseia marítima; começando a perde-los no reinado de D. José I, que ficou tristemente marcado por intrigas palacianas, com traições e sexo á mistura; onde não faltaram bárbaras condenações (massacre dos Távora a 13 de janeiro de 1759), que nos envergonham como o povo europeu, que levou a civilização ocidental ao novo desconhecido mundo.

Regressamos 4 anos no tempo, em que uma tragédia vinda do mar (terramoto de 1 de novembro de 1755), veio acabar por destruir o resto do que já estava em curso.

Quando D. Maria I subiu ao trono, Portugal tinha reduzido de 1000 para 400 créditos toda a sua riqueza; baixando para 200 com as guerras napoleónicas e peninsulares; tendo como consequência a fuga da família Real para o Brasil, que mais tarde estaria na origem de uma sangrenta guerra civil entre os irmãos D. Pedro e D. Miguel que deixou o país devastado, e num estado de pobreza de difícil recuperação.

Foram anos de grande sofrimento para o povo português; que até à independência do Brasil nunca perdeu o orgulho e o patriotismo, nem uma única parcela do seu vasto território; mas posteriormente sofreu um duro golpe com o ultimato inglês de 11 de Janeiro de 1890, que levou Portugal a endividar-se por mais de 100 anos; tendo a ultima “tranche”, sido paga a 30 de Junho de 2011 imaginem?

Foi naquele fatídico ano de 1890 e na sequência daquele acontecimento, que Portugal perdeu os últimos dos 1000 créditos que chegou a ter; entrando no ano de 1892 já em campo negativo; e a partir daí Portugal nunca mais deixou de contrair dívida, com a qual começámos gradualmente a perder a nossa independência, o que conduziu mais tarde o país ao regicídio.

A seguir foi o descalabro total; fazendo parte do acordo da dívida contraída aos ingleses, a nossa participação no primeiro conflito Mundial; sendo uma tragédia nacional, que levou a um clima constante de conflitualidade, com as várias Repúblicas a sucederem-se umas às outras (1914/1928); acabando a situação por descambar numa ditadura, o que levou Portugal para os 500 créditos negativos.

A perda da Índia em 1959, a que lhe seguiram todas as ex-colónias depois de 14 anos de guerra, transformou Portugal num país em fuga; que depois é colmatada com a vinda de África de 1.2 milhões de pessoas, na maior fuga aérea “desorganizada” de que há memória.

O impacto foi tal na sociedade portuguesa, que ainda hoje se sentem um pouco por toda a parte os seus efeitos 51 anos depois.

Portugal perdeu os 1000 créditos positivos e presentemente conta com 1.500 negativos, pelo património alienado e a enorme dívida pública que contraiu, não existindo qualquer investimento a pensar no futuro que o justifique.

O orgulho e a opulência do nosso passado, marcaram a diferença com a pobreza e o descrédito do presente; o nosso país que chegou a controlar os sete mares e cinco oceanos, até o oceanário de Lisboa vendeu.

Recentemente, desloquei-me ao “Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota”, onde prestei homenagem a todos os que tombaram no campo de S. Jorge em 1385; com toda a certeza que os portugueses de hoje, estão longe de merecer o sacrifício das suas vidas.

Portugal já pouco tem a que se possa deitar a mão; quase tudo foi vendido a preço de saldo, e simultaneamente transformaram-nos na segunda maior hipoteca por capita de todo o mundo; a nossa Bandeira é tão só, a única “referência” com que nos possamos identificar.

De esperança perdida e sem perspetivas futuras, em poucos anos centenas de milhares partiram, porque já não sentem como seu este belo país; para trás deixam tudo, incluindo o desejo de algum dia regressarem.

Nota do Autor: À Guigui e à Nonô de 8 e 5 anos minhas vizinhas, e a todas as crianças portuguesas que foram forçadas a abandonar o seu belo país, os queridos avós, e os amiguinhos da Escola, para se irem integrar uma sociedade que em nada se parecerá com a nossa; é a elas em especial, e a todas as crianças portuguesas que tiveram que emigrar, que eu dedico este meu Artigo. 

Joaquim Vitorino – Jornalista Director 

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