Os mártires de Lampedusa, por J. Vitorino

Os mártires de Lampedusa, por J. Vitorino

                                                                        

Ilha de Lampedusa Itália   

A intolerância e a insensibilidade, estão a marcar a velha Europa, onde muitos dos valores que nos diferenciavam se têm vindo a perder; tudo em nome de interesses que a globalização vai impondo, esquecendo a solidariedade que é devida entre povos e Nações.

A Ilha de Lampedusa Itália, é um revoltante exemplo de tragédia que nações inteiras estão a viver no norte de África; que obriga à deslocação de milhares de seres humanos que fogem da pobreza extrema, da escassez da água, e também das guerras e ditaduras.

Muitos dos que deixamos seus países são muito jovens, mas já trazem consigo filhos ainda Bebés; quando chegam ao “virtual paraíso europeu”, preferem atirarem-se à água e morrer, a terem que regressar para o flagelo das suas curtas e torturadas vidas.

Estas migrações em massa, são consideradas por muitos dos líderes europeus como um dano colateral, à margem de inquestionáveis valores humanos que é o direito à existência, e não assumem a sua defesa pelo contrário; barram-lhes a passagem com arame farpado e forças do exército, deixando-os morrer nas fronteiras com frio e fome, onde se contam muitas mulheres e crianças entre as vítimas, como aconteceu recentemente na fronteira entre a Bielorrússia e a Polónia.

O Papa Francisco, que tem pautado o seu pontificado na defesa das migrações, fez questão que a sua primeira visita fosse a esta Ilha Italiana, que é uma porta de entrada para a Europa.

Foi um gesto de solidariedade para com o povo da ilha, e todos aqueles que ali procuram proteção e abrigo; mas também um grito de revolta, contra a indiferença do Ocidente para com os que ainda pensam, que a Europa é a terra prometida.

Quando publiquei “Francisco o Papa” imediatamente a seguir à sua aclamação como Sumo Pontífice, sabia que este homem veio para marcar muitas diferenças entre os seus antecessores.

Francisco é um homem dotado de um inquestionável sentido humanitário; e lançou desde o início do seu Pontificado um alerta para a perigosa situação de conflitualidade, que representa o drama dos refugiados; e está a dar um grande contributo para a paz entre as Nações de credos diferentes, onde tem origem a maioria dos refugiados.

Os europeus que foram povos globalizantes no passado, não estão a lidar com esta tragédia humanitária com a devida lisura; o desemprego e o retrocesso no crescimento do ocidente não justificam só por si, o fechar de olhos permanente a este drama sem fim à vista; e a Itália e Grécia não podem ficar isoladas com o ónus da responsabilidade, de recolherem no seu território centenas de milhares de refugiados, que estão a transformar o mar Mediterrâneo num cemitério sem lápides, como disse o Papa Francisco.

Papa Francisco

A visita a Lampedusa logo no início do seu Pontificado, e a mais recentemente a Chipre e à ilha de Lesbos no mar Egeu, foi precisamente para sensibilizar o mundo Cristão, e em especial a Europa que é um continente de emigrantes, para criarem condições de sedentariedade a estes povos em deslocação.

Mesmo tendo em conta que os países europeus estão a atravessar uma situação de grandes dificuldades, em consequência da crise que está a oferecer grande resistência, por motivo de ter sido deslocalizada grande parte da produção europeia para os países emergentes, e também a atual situação epidémica, os povos ocidentais têm o dever de lhes dar proteção; até porque a esmagadora maioria dos refugiados, são vítimas indiretas das políticas de uma nova globalização, e também das alterações climáticas.

Os motivos económicos foram sempre uma constante que marcou a deslocação dos povos ao longo da história da humanidade; não tenho qualquer dúvida de que esta situação de que Lampedusa, Chipre, e Lesbos na Grécia é um exemplo, se vai inverter num futuro que não será muito longínquo.

A África é o maior dos continentes, e também o mais despovoado; os países africanos são ricos em recursos que escasseiam na Europa, que começou a entrar em decadência de produtividade; fazendo mais que sentido termos que regressar a África, de onde saímos há um milhão e meio de anos.

Lampedusa será num futuro que não fica muito distante, não a porta de entrada para a Europa mas sim a de saída para África.

PS: A todos os que perderam as suas vidas ao tentarem um futuro mais digno, e aos mártires da Ilha Italiana de Lampedusa, que foi a primeira a sofrer o impacto do maior drama humano da atualidade os refugiados.

  J. Vitorino – Jornalista – Diretor

 

  

Share