Os reis da república

A desmesurada e cansativa campanha de “mendicidade afetiva de beijos selfies e abraços”, por parte de quem cabe muita da responsabilidade pela atual situação de pobreza, atraso e subdesenvolvimento em que o nosso país se encontra, sofreu um revés com a chegada do Covid – 19.

A guerra na Ucrânia, Jornada Mundial de Juventude, e ultimamente o conflito Israel /palestiniano na Faixa de Gaza, já os fizeram regressar em força.

Sem exceção, os líderes dos partidos que governam o nosso país nos últimos 49 anos, vêm pedindo constantemente aos portugueses que se unam, para enfrentarmos a calamitosa situação de pobreza em que Portugal está mergulhado.

Mas a constante conflitualidade laboral a fazer valer continuamente os seus direitos em setores vitais na já frágil economia do país, dá-nos outra visão do que realmente se passa, num dos países mais pobres e subdesenvolvidos  da União Europeia.

Nos últimos 15 anos, mais de 50% da população portuguesa caiu em pobreza de longa duração; um drama de onde dificilmente se conseguirá sair nas próximas duas gerações (50 anos), porque a dívida pública e a fraca competitividade produtiva não o permitirá.

Desde que vivem em (democracia) que os portugueses nunca sentiram tanta apatia pelo que se passa no seu país; sendo a mais baixa de sempre a confiança, que têm naqueles a quem confiaram os destinos de Portugal.

No entanto; há quem insista em que todos se “devem unir na pobreza”, quando deveriam incentivar os portugueses a combate-la implacavelmente.

A ganância, corrupção e a incompetência, são as causas mães responsáveis pela devastação social, que nos têm conduzido às políticas de austeridade coerciva, que colocaram Portugal no ranking dos países mais pobres da Europa.

Paralelamente; as elites ao longo dos anos providenciaram-se com subvenções e reformas vitalícias escandalosas; algumas delas, (foram arrancadas) para indivíduos com menos de 50 anos de idade, depois de representarem os seus partidos na assembleia da república, ou em cargos públicos de pouca relevância.

Lembro que em Portugal chegou a existir (5) classes sociais, e presentemente tem apenas (3); os milionários, os ricos e os muito pobres; enquanto a classe média que sempre foi a mais produtiva, e que estaria na linha da frente para recuperar o país está em vias de extinção.

Mas nem todos os portugueses foram afetados; os benefícios que contemplam sem exceção todos partidos que tiveram assento no parlamento durante várias legislaturas, provam que nesta democracia (uns são mais iguais que os outros).

Existem bolsas de pobreza nos parceiros do Sul como na Grécia e Espanha, mas a desigualdade é muito mais acentuada em Portugal; e não é só o resultado da austeridade, porque nem todos os portugueses foram severamente atingidos por ela; foi a assimetria de rendimentos que criou um enorme fosso entre os portugueses, onde a diferença de rendimentos da maioria da população, é onze vezes inferior à classe seguinte, excluindo milionários como é óbvio.

A austeridade tem nos últimos anos, incidido sempre sobre as famílias mais pobres e a classe média que em breve também deixará de existir; beneficiando sempre os mais ricos, a que se juntou a maior insensibilidade social praticada por governos em democracia se assim se pode chamar, porque têm punido sempre os quem menos têm; como a exemplo o aumento do IUC aprovado pelo PS ontem na assembleia.

Conheço muito bem a situação de pobreza no mundo rural, onde tenho residência há 16 anos.

O parque automóvel local é dos mais pobre de toda a Europa; imagino os milhares de automóveis que serão simplesmente abandonados, por falta de meios para os manter a circular.

Tudo isto decidido por quem se faz transportar em carros topo de gama, que são pagos pelos contribuintes portugueses; enquanto 20 por cento da nossa população nunca comprou uma viatura nova, e vive em condições que nos envergonha a todos, porque envolve centenas de milhares de crianças e idosos.

As milhares de reformas acima dos 5000 euros, acentua ainda mais a escandalosa assimetria social praticada em Portugal; que é o país da Europa com a maior dívida pública per-capita, e o que menos condições tem para a pagar; remetendo-a para as próximas 6 gerações (150 anos), o que constitui uma tremenda injustiça.

O nosso país está subaproveitado, improdutivo, desalentado e desmotivado; e assistiu-se nos últimos 15 anos, à maior vaga de emigração de elite do Mundo, com a fuga de centenas de milhares de licenciados que na sua maioria, foram formados a custas da dívida pública, e de muitos sacrifícios das suas famílias.

De certezas temos uma; Portugal nunca se levantará com aqueles, que há mais de 4 décadas colocam os seus interesses pessoais e de seus partidos, à frente dos do seu país.

As assimetrias que nos últimos anos marcaram os portugueses, serão muito difíceis de cicatrizar; Portugal terá que produzir riqueza, para que esta seja distribuída com justiça, que só será possível sem aqueles que se servem dela em benefício próprio, como é o caso das subvenções e das reformas vitalícias, que não se enquadram na situação de pobreza em que o país se encontra.

Portugal tem que trabalhar para não viver eternamente de mão estendida, e reduzir ao mínimo aqueles que têm vivido à custa dos outros, com todas as consequências a serem transmitidas para as futuras gerações.

As entradas dos grandes supermercados, estão repletas de gente a pedir para várias Instituições que deveriam ser suportadas pelo Estado português; e não aqueles, que já estão com muitas dificuldade para sobreviver.

Todos os países saíram da crise 2008/2015 à exceção de Portugal; espero que os sacrifícios que ainda continuam a exigir aos portugueses, sejam assumidos por todos; em especial aqueles que enriqueceram através do exercício em cargos públicos, sem nada terem que arriscar para o conseguir; até porque o Estado português não é uma empresa familiar, é um património de todos os portugueses

OBS: A todos os Jovens e crianças de Portugal; que em substituição dos afetos, selfies e beijos, seria preferível um futuro digno a que têm direito.

  J. Vitorino – Jornalista