A Batalha de Aljubarrota 639 anos depois, por J. Vitorino

A Batalha de Aljubarrota 639 anos depois, por J. Vitorino

A Vitória na Batalha de Aljubarrota a 14 de Agosto de 1385 foi decisiva na independência de Portugal. 

Com a morte do rei D. Fernando em 1383, o Tratado de Salvaterra de Magos celebrado em Abril desse ano entre a rainha D. Leonor Teles, o Conde João Andeiro e o Rei de Castela, estabelece que a Coroa de Portugal passaria a pertencer aos descendentes do Rei de Castela D. Juan I, passando a capital do Reino para Toledo.

O Reino de Castela iria inevitavelmente absorver Portugal.

Analisando a crise política de 1383 a 1385, é possível referir que na sua origem esteve em primeiro lugar, o descontentamento popular existente, resultante não só da degradação das condições de vida da generalidade da população, mas também pela perspectiva do Reino de Portugal vir a perder a sua independência.

Este desejo de alterações foi então facilitado pelo facto de D. Leonor Teles e os seus aliados defenderem uma solução política para Portugal, não só discutível legalmente como claramente do desagrado da grande maioria da população portuguesa.

Em face desta circunstância, a população de Lisboa proclama D. João Mestre de Avis e meio irmão de D. Fernando, como “regedor, governador e defensor do reino”.

Perante a revolta da população portuguesa em vários pontos e cidades do Reino, o Rei de Castela entra em Portugal em 1834, à frente de um grande exército.

Entre Fevereiro e Outubro monta um cerco a Lisboa por terra e por mar, com o apoio da frota castelhana.

O cerco resulta num fracasso; não só pela determinação das forças portuguesas, mas também por Lisboa estar bem murada e defendida.

Afastados momentaneamente os combates com Castela o Mestre de Avis avançou para a batalha política.

Reúnem-se em Março e Abril de 1385 as Cortes de Coimbra, que proclamam o Mestre de Avis como Rei de Portugal.

Perante esta situação, em 8 de Julho de 1385 D. Juan I invade novamente Portugal por Almeida, com um numeroso exército de 36.000 homens, seguindo depois por Trancoso, Celorico da Beira, Coimbra, Soure e Leiria.

A esquadra castelhana havia entretanto cercado Lisboa por mar, desde Abril desse ano.

Entretanto o exército português comandado por Nuno Álvares Pereira, tinha-se colocado em posição de combate.

A Batalha tinha-se tornado praticamente inevitável; e em princípio era favorável a Castela, pela superioridade de efetivos em presença. 

O desenrolar da Batalha

No dia 14 de Agosto pela manhã, o exército de D. João I ocupa uma posição fortíssima no terreno, escolhido na véspera por Nuno Álvares Pereira.

No final da manhã chegam os castelhanos que circulam pela estrada romana.

Evitam o choque com os portugueses, uma vez que isso implicaria a subida de um terreno em condições extremamente desfavoráveis.

Preferem tornear a forte posição portuguesa pelo lado do mar, até estacionarem na ampla esplanada de Chão da Feira.

O exército português constituído por aproximadamente 7.000 homens de armas, move-se uns dois quilómetros para Sul, e inverte a posição de batalha para ficar de frente para o inimigo.

Passava das 18 horas quando se deu o assalto castelhano à posição portuguesa.

Uma vez iniciada a batalha, é possível referir os cinco principais momentos do combate:

A impetuosa vanguarda do rei de Castela (na sua maior parte constituída por tropas auxiliares francesas), inicia o ataque com a cavalaria, sendo rechaçada nas fortificação antecipadamente preparadas pela hoste de D. João I, o que constituiu uma grande surpresa  para os castelhanos.

Os cavaleiros franceses são obrigados a desmontar (aqueles que o conseguem fazer) na frente do inimigo; por isso, em posição absolutamente crítica.

Ao saber do desbarato da sua linha da frente, D. Juan I decide mandar avançar o resto do exército presente no Chão da Feira, maioritariamente também a cavalo.

Ao aproximarem-se da posição portuguesa, apercebem-se de que contrariamente ao que supunham, o combate está a ser travado a pé, dadas as características do sistema de entrincheiramento defensivo, decidido pela hoste portuguesa).

Por isso os cavaleiros castelhanos desmontam e percorrem a pé até alcançarem os adversários.

Ao mesmo tempo cortam as suas compridas lanças, para melhor se movimentarem no corpo-a-corpo que se avizinha;

Entretanto os homens de armas de D. Juan I vão sendo crivados de flechas e de virotões lançados respectivamente pelos arqueiros ingleses e pela “ala dos namorados” portuguesa, o que juntamente com o progressivo estreitamento da frente de batalha (devido aos abatises, às covas de lobo e aos fossos), que foram determinantes nos últimos minutos decisivos da Batalha.

O pânico apodera-se do exército castelhano, quando dentro do quadrado português a bandeira do monarca castelhano é derrubada.

Os castelhanos precipitam-se então numa fuga desorganizada; e segue-se devastadora perseguição portuguesa, só interrompida pelo cair da noite.

D. Juan de Castela põe-se em fuga juntamente com algumas centenas de cavaleiros castelhanos.

Percorre nessa noite perto de meia centena de quilómetros até alcançar Santarém exausto e desesperado.

Até à manhã do dia seguinte, milhares de castelhanos em fuga são chacinados por populares, nas imediações do campo de batalha e nas aldeias vizinhas.

O restante das forças franco-castelhanas saem de Portugal; parte passando por Santarém e depois por Badajóz, e outra parte por onde tinham entrado.

No campo de batalha as baixas portuguesas foram cerca de 1.000 mortos, enquanto no exército castelhano se situaram em aproximadamente 4.000 mortos e 5.000 prisioneiros.

Fora do campo da batalha terão sido mortos nos dias seguintes pela população portuguesa, cerca de 5.000 homens de armas em fuga do exército castelhano.

Devido ao significado político da Batalha, e aos seus numerosos nobres e homens de armas que aí morreram, Castela permaneceu em luto por um período de dois anos.

Para Portugal; a batalha de Aljubarrota ocorrida no planalto de S. Jorge no dia 14 de Agosto de 1385, constituiu um dos acontecimentos mais decisivos da sua História.

A vitória portuguesa em Aljubarrota permitiu também a preparação daquela que seria a época mais brilhante da história nacional a época dos Descobrimentos; que de outra forma, pura e simplesmente não teria ocorrido.

A Batalha proporcionou definitivamente a consolidação da identidade nacional, que até então se encontrava apenas em formação, e permitiu às gerações futuras portuguesas, a possibilidade de se afirmarem como uma nação livre e independente.

OBS: Aos Heróis da Batalha de Aljubarrota; sem a sua coragem hoje Portugal não existia, e a Grande Epopeia Marítima portuguesa nunca teria acontecido.

Joaquim Vitorino – Jornalista e Diretor

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