A Hipocrisia dos Bancos e a Crise Habitacional em Portugal
Após o resgate financeiro de 2011, que injetou milhares de milhões de euros públicos nos bancos portugueses para evitar o colapso do setor, a expectativa era que estas instituições facilitassem o crédito, impulsionando a recuperação da economia.
No entanto, o que observamos é exatamente o oposto. Hoje, os mesmos bancos que foram salvos estão a restringir severamente o acesso ao crédito, dificultando a vida de milhares de cidadãos que precisam de financiamento para adquirir casa.
A contradição é gritante.
Enquanto os preços das habitações disparam, alimentando uma bolha imobiliária sem precedentes, os bancos endurecem os critérios para concessão de crédito. Com exigências cada vez mais rigorosas, como entradas elevadas e taxas de juro desajustadas, muitas famílias veem o sonho da casa própria escapar, mesmo com o mercado habitacional já a viver uma crise de oferta.
A escassez de habitações disponíveis, aliada aos preços inflacionados, coloca a habitação fora do alcance da maioria dos portugueses.
A hipocrisia torna-se evidente: os bancos, que foram salvos com o dinheiro dos contribuintes, agora negam crédito àqueles que mais precisam, agravando ainda mais o problema da falta de habitação acessível. Esta atitude colide diretamente com a bolha imobiliária em curso, onde especuladores e investidores internacionais adquirem imóveis a preços exorbitantes, deixando os cidadãos comuns sem opções.
O Estado e o Banco Central Português (nomenclatura correcta), e o BCE falham em regular este ciclo de especulação e exclusão, e os bancos, resgatados em nome do bem público, recusam-se a contribuir para a solução. A falta de políticas habitacionais eficazes e a ausência de uma regulação bancária que promova o acesso justo ao crédito mantêm Portugal refém de uma crise habitacional que se agrava a cada dia.
Enquanto isso, os cidadãos continuam a pagar tanto pelos altos preços das casas, quanto pela restrição ao crédito, vítimas de um sistema financeiro que parece ter esquecido quem o salvou.
Quando segundo o gabinete de estatísticas europeu, no ano passado os apoios à banca tiveram um impacto negativo nas contas públicas de quase 1250 milhões de euros.
Os portugueses já contribuíram para a banca com apoios correspondentes a 13 mil milhões, e a herança dos resgates dos bancos pesou metade do défice português no ano de 2022; na realidade, são 23,3 mil milhões de euros em injeções (já descontando os reembolsos), que colocam Portugal entre os piores a nível europeu.
Dr. Pedro Carrilho Rocha – Advogado