O panenteísmo cristão e a Trindade como fórmula da realidade ou seja; “Tudo Está Em Deus E Deus Está Em Tudo”.
A relação entre Deus e o mundo é uma das grandes questões da filosofia e da teologia.
Porém esta visão tem fragilidades; porque se tudo é Deus, até o mal e a injustiça seriam divinos, e a pessoa humana perderia a sua singularidade, dissolvida como uma gota no oceano.
O panenteísmo cristão propõe uma alternativa: “tudo está em Deus, mas Deus é maior que tudo”.
Assim o mundo participa do divino sem o reduzir, o mal é reconhecido como real e a liberdade humana preserva-se, e o cristianismo interpreta esta visão à luz do mistério da Trindade.
Cristo e o Espírito: presença de Deus no mundo
O cristianismo não afirma apenas que o mundo está em Deus; anuncia que Deus entrou no mundo Em Jesus Cristo, o Filho encarnado, e a humanidade e a divindade unem-se sem confusão nem separação; porque Nele, a criação encontra o caminho da comunhão com o Criador.
O Espírito Santo por sua vez, habita e renova a criação, conduzindo-a ao cumprimento final.
Ecos na tradição cristã – Ao longo dos séculos, muitos pensadores expressaram esta visão inclusiva:
Máximo, o Confessor (séc. VII): cada criatura contém um “logos” enraizado no Logos eterno, Cristo, que tudo recapitula.
Teilhard de Chardin: viu a evolução como caminho cósmico para o “Ponto Ómega”, Cristo.
Jürgen Moltmann: descreveu a criação como “morada da Shekinah”, onde Deus sofre e renova o mundo.
Raimon Panikkar: formulou a visão “cosmoteândrica”, integrando inseparavelmente Deus, cosmos e ser humano.
Todos convergem na mesma intuição: Deus envolve o mundo, mas não se confunde com ele.
A Trindade: fórmula da realidade
No coração desta visão está a Trindade. Deus não é solidão, mas comunhão eterna: o Pai gera o Filho e ambos dão origem ao Espírito. O ser divino é relação.
Aqui reside a diferença essencial em relação ao panteísmo: no panenteísmo trinitário, a pessoa não se perde no oceano, mas permanece inteira, chamada à comunhão.
Esta perspetiva tem implicações éticas e espirituais:
Cada pessoa possui dignidade soberana.
A criação é espaço da presença divina e não um recurso descartável.
O mal é reconhecido como realidade, a ser vencida na história.
A Trindade revela-se, assim, como chave de leitura da existência: uma “fórmula da realidade” que integra o mundo, valoriza a pessoa e orienta a história para a plenitude em Cristo, sem dualismos nem dissoluções.
António da Cunha Duarte Justo – Teólogo e Pedagogo