Anjos à minha porta, por J. Vitorino
Marcados à nascença com o “estigma da pobreza”, e marginalizados por um país que não escolheram como seu, mais de um terço das nossas crianças vivem os terríveis efeitos de aqui terem nascido.
Elas são o dano colateral da situação de calamidade em que o país se encontra.
Não se sabendo defender, e com pais sem expediente para o fazer, as nossas crianças foram mergulhadas na fome e na miséria a todos níveis, por aqueles que sem escrúpulos de qualquer espécie, chamam por conveniência de “crises” que eles próprios provocaram, ou não tiveram interesse em sair delas, como outros países o fizeram; só assim se justifica que Portugal seja atualmente o país mais pobre e subdesenvolvido de toda a União Europeia.
A situação é dramática, e com acentuada gravidade no interior do país onde fixei residência; os discursos proferidos pelas (elites), são inflamados de hipocrisia descarada, e não se traduzem em pão para a boca das nossas infelizes crianças; onde é notória a falta de gente no terreno para constatar esta, que é a maior vergonha para todos nós; deixar à míngua milhares de crianças portuguesas, enquanto alguns fazem uso e abuso do património público, como viagens desnecessárias dentro e fora do país em tempo de (crise) dizem.
O uso de viaturas topo de gama pagas pelos contribuintes, enquanto os portugueses ainda recentemente se viram confrontados com um possível aumento de imposto de circulação IUC, que afetaria mais de 70 por cento dos portugueses; precisamente os mais pobres, que nos últimos 22 anos não têm meios para comprar um carro decente; o que para a maioria seria o primeiro das suas vidas, é um flagrante exemplo de como os portugueses têm sido governados nos últimos anos.
Se é este o Portugal, que todos os políticos sem exceção prometem em troca do voto, então a maioria dos portugueses não se revê neste regime.
Francisco fez dois anos, e desde os dois meses de idade que fica à guarda da tia com 10, é uma criança a cuidar de outra; até há pouco tempo nunca tinha visto um brinquedo, pelo que não consegue dormir sem o que lhe foi recentemente oferecido, disse-me humildemente a sua mãe; é o que está reservado para estas crianças consideradas de menor valor por quem as empobreceu, quando deveriam ser uma preocupação constante, porque serão as próxima duas gerações (50 anos), que terão que pagar a pesada fatura deixada pelos últimos governos socialistas e não só.
Mas cada um olha egoisticamente para o seu próprio umbigo, (coitadinhos que pena costumam dizer).
É verdadeiramente impressionante e condenável, que esta realidade não tenha qualquer peso na consciência dos responsáveis; sendo que as dívidas que se estão a contrair, não são para assegurar o futuro das nossas crianças, mas para manter privilégios de muitos dos responsáveis por esta calamidade Nacional, que é a pobreza sem retorno; cujas principais vítimas serão as atuais crianças e jovens, que vão herdar da atual geração, uma mão cheia de nada.
As verdadeiras democracias europeias têm Portugal sob contínua vigilância; é que esta situação colide com os direitos humanos e proteção aos menores, pelo que lhes desperta uma sensibilidade acrescida.
As instituições de solidariedade estão à beira de colapsar e então será o caos; e isto será apenas o começo do que está para vir, porque Portugal entrou numa rota de pobreza sem fim á vista.
Duplamente vítimas de uma situação que em nada contribuíram, quando chegarem à adolescência revoltar-se-ão contra a sociedade que os discriminou enquanto crianças; acabando muitos de nós por sermos os alvos da revolta acumulada na infância, por tantas injustiças e privações.
Já se ouvem os “arautos” clamarem por justiça, que foi por eles negada quando estiveram no poder; por ironia, esqueceram depressa, que foram os culpados pelo estado de calamidade social a que Portugal chegou.
Lembro que as vítimas que aqui mencionei, serão implacáveis no futuro para com todos os hipócritas que enriqueceram à custa do seu sofrimento; atirando para o lixo, todas as placas toponímicas com os seus nomes.
PS: Ao Francisco, a Maria e a Isabel, e a todas as crianças portuguesas vítimas de tremendas injustiças, cuja única culpa é a de terem nascido em Portugal.
Do Autor com todo o carinho:
J. Vitorino – Jornalista – Diretor