A Génese de uma Cidadania Europeia, por Pedro C. Rocha
Na Grécia Antiga, a sociedade ateniense era composta por cidadãos, metecos e escravos. Enquanto os cidadãos possuíam todos os direitos políticos e participavam ativamente na vida pública, os metecos (μέτοικοι) ocupavam uma posição intermediária, sendo residentes estrangeiros que viviam em Atenas, mas sem os mesmos direitos dos cidadãos.
Os Metecos eram estrangeiros residentes em Atenas que, apesar de livres, não tinham a cidadania ateniense.
Eles vinham de diversas regiões do mundo grego e além, trazendo consigo diferentes culturas e habilidades.
Os Metecos não possuíam direitos políticos e eram obrigados a pagar uma taxa de residência chamada “metoikion”. Além disso, precisavam de um patrono (prostates), um cidadão ateniense que os representasse legalmente.
Os metecos eram frequentemente comerciantes, artesãos e profissionais qualificados. Eles desempenhavam um papel crucial na economia ateniense, contribuindo para o comércio e a produção artesanal.
Embora excluídos da política, os metecos participavam da vida social e religiosa de Atenas. Podiam possuir propriedades (com algumas restrições) e eram obrigados a servir no exército em tempos de guerra.
Os metecos enfrentavam preconceito e xenofobia. Apesar de sua importância econômica, eram vistos como estrangeiros e não tinham acesso aos mesmos direitos e privilégios dos cidadãos.
Aceitação e Reconhecimento: Em alguns casos, metecos bem-sucedidos eram respeitados e integrados socialmente. A contribuição econômica e cultural que traziam às vezes lhes permitia uma aceitação limitada dentro da comunidade ateniense.
Existiam Leis rigorosas regulavam a vida dos metecos, atividades e garantindo que permanecessem distintamente separados dos cidadãos. Por exemplo, não podiam casar com cidadãos atenienses nem adquirir terras.
Figuras como Anaxágoras, um meteco de Clazômenas, influenciaram profundamente o pensamento ateniense. Ele foi um dos primeiros filósofos a introduzir ideias científicas e filosóficas inovadoras em Atenas.
Os Metecos desempenharam um papel vital na sociedade ateniense, contribuindo significativamente para sua economia, cultura e até mesmo para sua defesa militar.
No entanto, a sociedade ateniense mantinha uma distinção clara entre cidadãos e estrangeiros, refletindo tensões entre a necessidade de integração econômica e a resistência cultural e política à inclusão plena dos metecos.
A análise dos metecos revela uma sociedade complexa que, apesar de suas realizações democráticas e culturais, ainda lutava com questões de identidade e pertencimento, temas que continuam a ressoar nas sociedades contemporâneas.
Um exemplo atual é a Cidadania Europeia que foi buscar muito do Meteco grego, senão vejamos ,
A cidadania europeia, estabelecida pelo Tratado de Maastricht em 1992, conferiu aos cidadãos dos Estados-Membros da União Europeia (UE) um conjunto de direitos e deveres adicionais aos seus direitos nacionais.
Esta cidadania visa promover uma maior integração e coesão entre os países da UE, assegurando direitos fundamentais e facilitando a mobilidade e participação dos cidadãos.
A cidadania europeia é automática para qualquer pessoa que possua a nacionalidade de um Estado-Membro da UE. Esta cidadania é adicional e não substitui a cidadania nacional.
Estabelecida pelo Tratado de Maastricht, a cidadania europeia é reforçada por diversos tratados subsequentes, como o Tratado de Lisboa, que ampliam os direitos e garantias dos cidadãos.
Os cidadãos da UE têm o direito de se mover livremente, residir e trabalhar em qualquer Estado-Membro. Este direito é um dos pilares fundamentais da cidadania europeia e visa promover a integração econômica e social.
Após cinco anos de residência contínua em outro Estado-Membro, os cidadãos da UE podem obter o direito de residência permanente, garantindo-lhes quase todos os direitos dos cidadãos nacionais.
Os cidadãos da UE têm o direito de votar e candidatar-se às eleições municipais e ao Parlamento Europeu no Estado-Membro em que residem, nas mesmas condições que os cidadãos nacionais.
Este direito permite que os cidadãos proponham novas leis ou alterações legislativas à Comissão Europeia, desde que obtenham um milhão de assinaturas de pelo menos sete Estados-Membros.
A cidadania europeia promove a integração e a coesão entre os Estados-Membros, facilitando a mobilidade e a interação entre diferentes culturas e economias.
Apesar dos direitos garantidos, os cidadãos da UE ainda enfrentam discriminação e barreiras burocráticas em alguns Estados-Membros, especialmente no acesso ao emprego e aos serviços sociais.
A cidadania europeia levanta questões sobre a soberania nacional e o equilíbrio entre direitos europeus e nacionais, particularmente em contextos de crise, como o Brexit.
O aprofundamento da integração europeia e os desafios políticos e econômicos enfrentados pela UE determinarão a evolução da cidadania europeia. A promoção de um maior sentimento de pertença e identidade europeia é crucial para o fortalecimento desta cidadania.
A cidadania europeia representa um marco significativo na integração europeia, oferecendo um conjunto de direitos e liberdades que visam promover a coesão e a mobilidade dentro da União Europeia.
Embora enfrente desafios e limitações, a cidadania europeia continua a evoluir, buscando equilibrar os direitos individuais com as soberanias nacionais dos Estados-Membros.
A promoção e proteção destes direitos são fundamentais para o futuro da integração europeia e para o fortalecimento do projeto europeu como um espaço de liberdade, segurança e justiça para todos os seus cidadãos.
Seremos assim Metecos Gregos de uma Grécia de há muito anos ou Seremos nós Verdadeiros Cidadãos europeus?
Dr. Pedro Carrilho Rocha – Advogado