Portugal abandonado, por J. Vitorino
Arrastados por promessas feitas nos últimos anos por algumas elites políticas, os portugueses deixaram-se cair no engodo da vida fácil.
Nas últimas décadas, foram muitos aqueles que conseguiram empregos até ao final das suas vidas; garantidos, aos que tiveram a sorte de ir trabalhar para o Estado; inicialmente o setor privado estava quase equiparado a nível salarial, mas começou a perder para o primeiro; fruto das lutas sindicais que ao longo dos últimos 40 anos, caracterizaram os movimentos do sindicalismo dentro do aparelho do Estado.
No setor privado, a força sindical foi sempre fraca e inconsistente; e depressa começou a perder em todas as frentes.
Para além da precariedade no posto de trabalho, hoje a média de salário no privado é inferior a metade dos colegas do setor público; logo aqui Portugal, apresenta-se com o maior fosso assimétrico de toda a Europa; sendo uma tremenda injustiça se tivermos em linha de conta, que o estado consome mais de 50% do que o país produz; para ser mais concreto e tendo em conta os efetivos em causa, seria o mesmo que colocarmos um peso num prato da balança e nove no outro.
As políticas erradas ao longo de três décadas, com culpas diretas dos partidos do arco da governação, e indiretas de outros que foram exigindo o que já não havia para dar, vieram dar a este beco sem saída; a que os portugueses não são de todo inocentes, porque até recentemente tinham um padrão de vida que era baseado no endividamento, sendo assim que atingimos uma virtual classe média.
A hora da verdade bateu-nos à porta com todas as consequências; das políticas mal avaliadas a investimentos feitos pelo Estado, os fundos comunitários que não foram utilizados em conta e medida, e outros que se esfumaram em obras como estádios e autoestradas, que no presente pouca utilidade tem falam por si.
Os efeitos estão à vista de todos; o peso da máquina do Estado levou o país a contrair dívida após dívida, um monstro em forma de bola de neve que arrasa o país, e que não tem fim à vista.
Portugal continua a colocar dívida pública de longo prazo no mercado; uma tremenda injustiça de for tida em linha de conta, que quem a terá que pagar ainda nem sequer nasceu.
As elites políticas de hoje e do passado recente, têm que dizer a verdade ao país, para que seja transmitido às futuras gerações e aos jovens de hoje, os danos que lhes estamos a infligir, sem que em nada tenham contribuído para o merecerem.
Já o afirmei anteriormente; ser uma imoralidade que esta geração e a anterior tenham vindo a tirar benefícios em detrimento das nossas crianças, e de outras que que ainda não nasceram; porque serão elas as principais vítimas, dos muitos erros cometidos nos últimos 40 anos, a que erradamente chamamos de crise.
A verdade tem que ser reposta com toda a clareza, para que os portugueses compreendam o que lhes está a acontecer; os intervenientes políticos com responsabilidades na atual situação, devem explicar que a crise portuguesa, tem uma tipologia diferente de outros países que já saíram dela, e que no nosso caso nem afetou muito a banca.
Os atuais governantes estão em parte a “limpar o lixo” que os governos anteriores atiraram para debaixo do tapete; só que não têm a arte para explicar o que nos está a acontecer, porque ninguém lhes retira as culpas do período negro da Troika .
É pela falta de diálogo que os sentimentos da maioria dos portugueses não se revê neste governo; tem legitimidade para governar, mas não a tem para explicar.
Temos que ser honestos e não se pode atribuir só a culpa a quem não a tem no seu todo; as terapias vão falhar, porque o mal já vem de trás.
Portugal nunca mais se endireita se continuar a contrair dívidas, certamente o que se deve terá que ser pago; mas a dívida não pode ter prioridade face à sobrevivência de um país com quase 900 anos, terá que ser profundamente pensada e negociada.
Portugal abandonou as terras e o mar mais extenso da Europa; temos que nos lançar sem perda de tempo, na recuperação da nossa tradicional agricultura e pescas; existindo capacidade para produzir em quantidade e boa qualidade, com preços muito abaixo dos importados.
É preciso sacudir o país que está paralisado, e retira-lo das cinzas.
O povo português foi o que mais regrediu em toda a Europa nos últimos 50 anos, e o nosso sentido de justiça também não anda muito forte; andamos a culpar-nos uns aos outros e a terceiros, quando na realidade somos nós os únicos culpados do nosso atraso e empobrecimento.
Joaquim Vitorino – Jornalista – Diretor do Diário On Line Vila de Rei